Calvanas designa uma zona da cidade de Lisboa, Portugal, em torno da quinta com o mesmo nome. Foi também o nome atribuído ao bairro informal que surgiu nesses terrenos e ao conjunto habitacional erguido em redor da Rua das Calvanas, na Charneca. Atualmente acolhe o Colégio de Santa Doroteia e várias infraestruturas viárias e de transportes de redobrada importância para a cidade.

Calvanas
Bairro
Localização
Mapa
Localização em mapa dinâmico
Coordenadas 38° 45′ 54″ N, 9° 08′ 51″ O
País Portugal
Região Área Metropolitana de Lisboa
Distrito Lisboa
Concelho Lisboa
Freguesia Lumiar

História

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A Quinta das Calvanas aparece já em registos do século XVI[1] e abarcava a área compreendida entre a Alameda das Linhas de Torres e o Aeroporto da Portela. À semelhança da restante freguesia, integrava uma zona periférica[2] de cariz rural[3] e que apenas começou a ser urbanizada no século XX.[4][5][6][7]

A propriedade conheceu diversos proprietários, entre eles Manuel de Souza Freire (vendedor da praça de Lisboa) e António Maria Fidié, apelido pelo qual ficou conhecida esta quinta e a azinhaga que a delimitava a sul.[1] Esta azinhaga foi alargada e retificada em 1912 (juntamente com a das Murtas) e viria a dar lugar parcialmente à Avenida Marechal Craveiro Lopes (na década de 60), conservando parte do seu traçado antigo com o nome de Rua Fidié.[4]

Mais tarde, em 1931, o espaço foi arrendado pela família Ferreira do Amaral às Irmãs Doroteias, que instalaram na casa da quinta (então denominada Palacete do Amaral) o Colégio de Santa Doroteia, em funcionamento até aos dias de hoje.[1][8] Nota-se também a existência de uma exploração areeira na Quinta das Calvanas de Cima em 1939.[9]

O Bairro das Calvanas surge apenas na década de 1970 após a ocupação do espaço por migrantes de outras áreas rurais e periféricas do país e das antigas colónias com piores condições de vida,[3][5] onde construíram as suas habitações em alvenaria de betão e tijolo, com um e dois pisos.[1] O bairro acolheu 300 agregados familiares[10], e apesar da sua génese ilegal veio a dispor de ligação às redes de água, saneamento e eletricidade e os seus moradores pagavam impostos e taxas municipais.[1][11] Estes organizaram-se numa associação de moradores na década seguinte, quando se iniciou a transformação da área envolvente e o processo de urbanização do Alto do Lumiar, para o qual vieram a acordar a libertação dos terrenos do bairro.[1][11]

As Calvanas foram um dos núcleos identificados no Plano Especial de Realojamento (PER) em Lisboa.[12][13] A demolição das construções teve lugar entre 2000 e 2007.[1][14][15][16][17] Os seus moradores foram realojados por toda a Alta de Lisboa, tendo feito diligências para a preservação desta denominação na toponímia da cidade. Assim, uma das ruas do bairro de moradias construído de raiz pelo PER foi renomeada para Rua das Calvanas em 2012[1][18], enquanto que o novo bairro é geralmente referido pelo mesmo nome.[1][11][19][16]

O espaço do antigo bairro é hoje uma das portas de entrada na Alta de Lisboa e está ocupado por infraestruturas viárias (a Rotunda Nelson Mandela, o Eixo Central da Alta de Lisboa e a Avenida Santos e Castro, inauguradas em 2013[20][21][22]), prevendo-se que venha a acolher o Parque Sul[3][6] e uma estação do Metropolitano de Lisboa.

Referências

  1. a b c d e f g h i «Calvanas». docplayer.com.br. Comissão Municipal de Toponímia, Câmara Municipal de Lisboa. Março de 2016. Consultado em 5 de março de 2021 
  2. «Gazeta de Lisboa». Régia Oficina Tipográfica. Gazeta de Lisboa (31). 1801 
  3. a b c Beles, A. S. S. (2018). Usos e vivências de dois parques na zona norte de Lisboa: conexão entre a Quinta das Conchas e dos Lilases e o Parque do Vale Grande. Lisboa: ISA. p. 17, 27. 119 páginas 
  4. a b Operação de Reabilitação Urbana Sistemática Campo Grande - Calvanas (PDF). Lisboa: Direção Municipal de Urbanismo, Câmara Municipal de Lisboa. 2018. pp. 30, 31 
  5. a b «Alta de Lisboa (I parte) – revisitar um passado de pobreza e exclusão». FCSH+Lisboa. 10 de outubro de 2017. Consultado em 8 de março de 2021 
  6. a b Correia, José Luís Delgado (2013). Ordenamento do território na cidade de Lisboa: o caso da Alta de Lisboa. Lisboa: Instituto Superior de Engenharia de Lisboa. pp. 10–11, 75–76, 79, 93 
  7. «Edifício Freire». paixaoporlisboa.blogs.sapo.pt. Consultado em 8 de março de 2021 
  8. Pereira, Maria Albertina Franco Batista de Loureiro (2013). O ensino nos colégios das irmãs doroteias em Portugal: 1866-1975: contributo para o estudo do seu modelo de ensino e formação. [S.l.]: Universidade de Lisboa. pp. 54–60 
  9. «Parte II - Pedreiras». 311_pags630a701.pdf - DGEG (PDF). [S.l.: s.n.] p. 466 
  10. «História». Associação de Moradores do Bairro das Calvanas. 7 de agosto de 2009. Consultado em 8 de março de 2021 
  11. a b c Pires, Francisco da Silva Dias Relvas (2014). Arquipélago urbano. Qualificação de áreas urbanas críticas; o caso do bairro S. João de Brito. Lisboa: Universidade de Lisboa. Faculdade de Arquitetura. p. 32 
  12. «exPERts PER ATLAS - ARQUIVO NUCLEO». expertsproject.ics.ulisboa.pt. Consultado em 5 de março de 2021 
  13. «Quadro resumo de alojamentos e agregados por resolver no PIMP - Ponto de situação em 2013» (PDF). Direção Municipal de Habitação e Desenvolvimento Social, Câmara Municipal de Lisboa 
  14. «Bairro de Calvanas está a ser demolido». www.dn.pt. Consultado em 8 de março de 2021 
  15. Portugal, Rádio e Televisão de. «Câmara vai demolir bairros de São João de Brito e das Calvanas, vereadora». Câmara vai demolir bairros de São João de Brito e das Calvanas, vereadora. Consultado em 8 de março de 2021 
  16. a b «RUA DAS CALVANAS». Associação de Moradores do Bairro das Calvanas. 30 de março de 2015. Consultado em 8 de março de 2021 
  17. «Calvanas». Viver na Alta de Lisboa. 3 de outubro de 2005. Consultado em 8 de março de 2021 
  18. «Novo topónimo em Lisboa: Rua das Calvanas». Toponímia de Lisboa. 25 de janeiro de 2013. Consultado em 8 de março de 2021 
  19. Paixão, Paulo. «Santana vira página nos bairros sociais». Jornal Expresso. Consultado em 8 de março de 2021. Santana dá como exemplo o realojamento do Bairro das Calvanas, na extremidade do aeroporto, ao lado da Segunda Circular, trasmutado para moradias unifamiliares em banda cerca de dois quilómetros mais a norte, junto ao forte da Ameixoeira. 
  20. «Inaugurações na Alta de Lisboa | Alta de Lisboa». Consultado em 8 de março de 2021 
  21. «Avenida Santos e Castro e Eixo Central da Alta de Lisboa são hoje inaugurados». Notícias ao Minuto. 18 de maio de 2013. Consultado em 8 de março de 2021 
  22. «Abertura da Avenida Santos e Castro e Eixo Central da Alta de Lisboa é o fim de "vários ciclos"». ionline. Consultado em 8 de março de 2021 
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