Carlota de Meclemburgo-Strelitz

Rainha consorte do Reino Unido e Hanôver (1861–1818)

Carlota de Meclemburgo-Strelitz (nome pessoal: Sophie Charlotte zu Mecklenburg-Strelitz; Mirow, 19 de maio de 1744Londres, 17 de novembro de 1818) foi esposa do rei Jorge III e Rainha Consorte da Grã-Bretanha e Irlanda e depois do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda de 1761 até sua morte. Também foi Eleitora Consorte e posteriormente Rainha Consorte de Hanôver. Era filha de Carlos Luís de Meclemburgo-Strelitz, Príncipe de Mirow e da sua esposa a princesa Isabel Albertina de Saxe-Hildburghausen.

Carlota
Carlota de Meclemburgo-Strelitz
Retrato por Thomas Gainsborough, 1781
Rainha Consorte do Reino Unido e Hanôver
Reinado 8 de setembro de 1761
a 17 de novembro de 1818
Coroação 22 de setembro de 1761
Predecessora Carolina de Brandemburgo-Ansbach
Sucessora Carolina de Brunsvique
Nascimento 19 de maio de 1744
  Mirow, Ducado de Meclemburgo-Strelitz, Sacro Império Romano-Germânico
Morte 17 de novembro de 1818 (74 anos)
  Palácio de Kew, Londres, Inglaterra
Sepultado em 2 de dezembro de 1818, Capela de São Jorge, Windsor, Berkshire, Inglaterra
Nome completo Sophie Charlotte
Marido Jorge III do Reino Unido
Descendência Jorge IV do Reino Unido
Frederico, Duque de Iorque e Albany
Guilherme IV do Reino Unido
Carlota, Princesa Real
Eduardo, Duque de Kent e Strathearn
Augusta Sofia do Reino Unido
Isabel do Reino Unido
Ernesto Augusto I de Hanôver
Augusto Frederico, Duque de Sussex
Adolfo, Duque de Cambridge
Maria do Reino Unido
Sofia do Reino Unido
Otávio da Grã-Bretanha
Alfredo da Grã-Bretanha
Amélia do Reino Unido
Casa Meclemburgo-Strelitz (nascimento)
Hanôver (casamento)
Pai Carlos Luís Frederico de Meclemburgo-Strelitz, Príncipe de Mirow
Mãe Isabel Albertina de Saxe-Hildburghausen
Brasão

A rainha Carlota era uma mecenas das artes, conhecida de Johann Christian Bach e Wolfgang Amadeus Mozart entre outros. Também era uma botânica amadora que ajudou a expandir os Reais Jardins Botânicos de Kew. Jorge III e Carlota tiveram quinze filhos, treze dos quais chegaram à idade adulta. É a avó paterna da rainha Vitória do Reino Unido.

Primeiros anos

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Sofia Carlota era a filha mais nova do duque Carlos Luís Frederico de Meclemburgo, príncipe de Mirow, e da sua esposa, a duquesa Isabel Albertina de Saxe-Hildburghausen. Meclemburgo-Strelitz era um pequeno ducado no norte da Alemanha que pertencia ao Sacro Império Romano-Germânico.

Carlota era neta do duque Adolfo Frederico II, Duque de Meclemburgo-Strelitz e da sua terceira esposa, a princesa Cristiana Emília de Schwarzburg-Sondershausen. O irmão mais velho do seu pai reinou entre 1708 e 1753 como duque Adolfo Frederico III. Em 11 de dezembro de 1752, o irmão mais velho de seu pai morreu sem descendência masculina, e o irmão mais velho de Carlota, Adolfo Frederico, o sucede (devido a seu pai ter morrido seis meses antes, em 5 de junho de 1752). Com ele, a posição de Carlota e de sua família mudou consideravelmente, pois agora passavam a ter o controle de uma importante parte dos territórios de Meclemburgo.

Os filhos do duque Carlos nasceram todos no Castelo de Mirow, um palácio modesto que quase pode ser considerado uma casa de campo. A vida em Mirow era quase idêntica à de uma família de simples baixa nobreza inglesa do campo.[1] A manhã era dedicada ao estudo e a aulas de costura, bordados e croché, para os quais as duquesas tinham muito talento. Foram educadas de forma muito cuidadosa, tendo recebido uma educação admirável e receberam os seus princípios religiosos por parte da mãe.[2] Foram também ensinadas por M. Gentzner, um pastor luterano de grande reputação que tinha um conhecimento profundo de botânica, mineralogia e ciência.[1]

Casamento

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Sofia Carlota de Meclemburgo-Strelitz
Johann Georg Ziesenis, c. 1761, Palácio de Kew

Quando o rei Jorge III sucedeu ao trono da Grã-Bretanha após a morte do seu avô, o rei Jorge II, foi considerado que tinha chegado a altura de procurar uma noiva que pudesse cumprir todos os deveres da sua importante posição, de forma a satisfazer todo o país.[3] No início da sua busca, Jorge estava muito interessado em Sarah Lennox, irmã do duque de Richmond, mas a sua mãe, a duquesa Augusta de Saxe-Gota, princesa-viúva de Gales, e o seu conselheiro político, John Stuart, Lord Bute, aconselharam-no a não realizar tal união e o rei desistiu da ideia.

O coronel Graeme, que tinha sido enviado a várias cortes alemãs numa missão de investigação, falou dos encantos do carácter e das excelentes qualidades intelectuais da princesa Carlota, na altura com 17 anos de idade.[4] Embora não fosse certamente uma beldade, o rosto da duquesa era muito expressivo e mostrava grande inteligência. Não era alta, mas tinha uma figura esbelta e bastante bonita. Os seus olhos brilhantes iluminavam-se com bom humor e vivacidade, a sua boca era grande, tinha dentes brancos e direitos e o seu cabelo era de um bonito tom castanho-claro.[3]

O rei anunciou ao conselho a sua intenção de se casar com a princesa em julho de 1761, segundo era costume, e lorde Hardwicke foi enviado a Meclemburgo para pedir a mão de Carlota em nome do rei. O irmão de Carlota, o duque Adolfo Frederico IV de Meclemburgo-Strelitz, e a sua mãe queriam um casamento proeminente para a jovem princesa e receberam-no com todas as honras que o pequeno Estado era capaz de lhe mostrar. O enviado regressou à Inglaterra um mês depois da sua partida, depois de ter completado todos os preliminares necessários e satisfeito com a sua missão.[5]

No fim de agosto de 1761, uma comitiva de escoltas partiu da Alemanha para acompanhar a duquesa Carlota à Inglaterra. Faziam parte do grupo a duquesa de Ancaster, a duquesa de Hamilton, ambas camareiras da rainha, a Sra. Tracey, criada de quarto, o conde Harcourt, que estava a representar o rei, e o general Graeme.[3] Uma forte tempestade apanhou-os no caminho e um trovão incendiou várias árvores na estrada que o grupo tinha de passar.[6]

Apesar de tudo, o grupo chegou em segurança a Cuxhaven e embarcou numa frota de iates e navios de guerra britânicos comandados pelo almirante Anson. Um dos navios era um iate especial que tinha sido rebatizado de HMY Royal Charlotte em honra da futura rainha. A viagem por mar, que normalmente durava três dias, demorou nove devido a uma tempestade. Em vez de aportarem em Greenwich, onde estava tudo preparado para receber a princesa, o almirante Anson achou melhor largar âncora no porto mais próximo, Harwich, onde permaneceram o resto da noite de domingo, dia 6 de setembro. Na manhã seguinte, o grupo deixou o navio e viajou para Essex, onde descansaram e depois seguiram viagem para Londres. A princesa chegou ao Palácio de St. James no dia 7 de setembro e conheceu o rei e a família real. No dia seguinte, às 9 horas da noite, realizou-se a cerimônia de casamento na capela real, celebrada pelo arcebispo da Cantuária, Thomas Secker.[7]

Rainha

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Retrato de coroação da Rainha Carlota de Meclemburgo-Strelitz, c. de 1760 -61

Existem poucas dúvidas de que os primeiros anos de casamento da jovem rainha não foram felizes. O rei estava atarefado com os seus deveres políticos e a sua mãe, segura do apoio do seu favorito, John Stuart, lord Bute, podia exercer toda a influência e autoridade que a idade, o conhecimento e a posição de uma mãe lhe davam, ao contrário do casal jovem e pouco experiente.[8] A jovem rainha não conseguiu resistir e criou-se uma espécie de despotismo no palácio onde a sua sogra controlava tudo o que ela fazia. O próprio rei, muito influenciado pela mãe, não se sentia tentado a intervir e assumiu que tudo estava a correr bem. Carlota já não podia manter relações íntimas com as damas do palácio e era uma regra de etiqueta da corte que todos os que a frequentavam não deviam dirigir-se à rainha excepto acompanhados dos seus criados alemães. Os jogos de cartas, que Carlota adorava, também estavam interditos.[9]

Naturalmente, existiam também as facções alemãs e inglesas entre os criados, cada uma lutando zelosamente pelo favor da rainha, ditando os termos e condições do seu serviço e ameaçando regressar à Alemanha se não recebessem determinados privilégios. A rainha tinha tantos problemas com os seus criados como o seu marido tinha com os seus ministros insubordinados.[10]

Apesar disto, o casamento foi um sucesso, e, a 12 de agosto de 1762, a rainha deu à luz o seu primeiro filho, o príncipe de Gales que, mais tarde, se tornaria o rei Jorge IV. A 13 de setembro, a rainha esteve presente na capela real para a cerimónia de acção de graças que aconteceu pouco depois do nascimento. A cerimónia de baptismo do príncipe de Gales, que se realizou no Palácio de St. James, teve grande pompa e circunstância. O berço no qual o bebé estava deitado estava coberto de tecidos sumptuosos e renda de Bruxelas.[11] Ao longo do casamento, o casal teve quinze filhos, dos quais apenas dois (Otávio e Alfredo) morreram na infância.

A rainha Carlota era particularmente interessada nas artes e apoiou a Johann Christian Bach, que foi seu professor de música. Wolfgang Amadeus Mozart, então com apenas 8 anos de idade, lhe dedica sua Opus 3. Também fundou orfanatos e um hospital para mulheres grávidas. Também, foi uma aficcionada botânica e ajudou a estabelecer o que hoje são os Jardins de Kew.

A educação das mulheres era de grande importância para Carlota, e ela mesma viu que suas filhas foram melhor educadas do que geralmente eram as mulheres jovens daqueles tempos.

Depois do início de sua enfermidade, então tratada como loucura, Jorge III foi colocado sob os cuidados de sua esposa, a quem não podia visitar, devido a seu comportamento errático e ocasionais reações violentas. Entretanto, Carlota seguia sendo o apoio de seu marido durante sua enfermidade mental - provavelmente ligada a porfiria, que pioraria na sua velhice.

Por volta desta altura, o rei e a rainha mudaram-se para Buckingham House, a oeste do Parque de St. James, o actual Palácio de Buckingham. A casa que constituiu a base do actual palácio foi construída por John Sheffield, 1º Duque de Buckingham e Normanby em 1703 com um projecto de William Winde. Buckingham House foi posteriormente vendida pelo descendente de Buckingham, sir Charles Sheffield, ao rei Jorge III em 1761 por £21 000.[12]

A casa tinha como objectivo inicial tornar-se um refúgio privado, principalmente para Carlota, e por isso era conhecida por The Queen's House.[13] Catorze dos quinze filhos do casal real nasceram lá. O Palácio de St. James continuou a ser a residência oficial onde se realizavam todas as cerimónias formais.[14]

Interesses e apoios

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Carlota - Rainha Consorte do Reino Unido e Hanôver
Joshua Reynolds, 1779, National Trust

O rei Jorge III e a rainha Carlota eram grandes conhecedores de música e admiravam os trabalhos de Georg Friedrich Händel. Ambos tinham um gosto especial por música alemã e davam honras especiais aos artistas e compositores deste país.[15]

Em 1764, Wolfgang Amadeus Mozart, na altura com oito anos de idade, visitou a Grã-Bretanha com a sua família durante a sua grande digressão pela Europa e ficou no país entre abril e junho desse ano.[16] A família Mozart foi chamada à corte no dia 19 de maio e o compositor deu um concerto para um número muito reduzido de pessoas que durou das seis até às dez da noite. Johann Christian Bach, décimo-primeiro filho do grande Johann Sebastian Bach, era na altura o mestre de música da rainha e entregou composições complicadas de Händel, Bach e Abel para que o rapaz tocasse. Mozart tocou-as todas sem olhar para as partituras e os presentes ficaram impressionados.[17] Depois do concerto, Mozart acompanhou a rainha no piano para tocar uma ária que Carlota cantou e tocou durante algum tempo a sua flauta.[18] No dia 29 de outubro, a família Mozart regressou ao país para celebrar o quarto aniversário do rei no trono. Como recordação do favor real, o pai de Mozart, Leopold, publicou seis sonatas compostas por Wolfgang, conhecidas por Opus 3, que dedicou à rainha no dia 18 de Janeiro de 1765. A rainha agradeceu esta dedicação presenteando o compositor com cinquenta guinéus.

A rainha Carlota era uma botânica amadora que se interessou muito pelos Jardins de Kew e, na era da descoberta, quando os viajantes e exploradores como o capitão Cook e sir Joseph Banks, traziam constantemente novas espécies e variedades de plantes, a rainha garantiu que as colecções eram enriquecidas e aumentadas.[19] O seu interesse por botânica levou a que a magnífica flor da África do Sul, o Pássaro do Paraíso, recebesse o nome de Strelitzia reginae em sua honra.[20]

Entre os artistas preferidos do casal real encontravam-se o marceneiro William Vile, o ourives Thomas Heming, o arquitecto de paisagens Capability Brown e o pintor alemão Johann Zoffany que pintava frequentemente o rei, a rainha e os filhos em cenas informais, tais como o retrato da rainha Carlota com os seus filhos ao lado de um toucador.[21]

 
Carlota
<smal>Estátua na Queen Square, em Londres

A rainha também abriu orfanatos e um hospital para grávidas. A educação das mulheres tinha uma grande importância para Carlota e ela garantiu que as suas filhas eram educadas melhor do que o que era costume para mulheres da época. Contudo, insistiu que as suas filhas vivessem vidas isoladas perto da mãe e recusou-se a deixá-las casar até idades bastantes avançadas para a altura, o que fez com que nenhuma das suas filhas deixasse descendentes legítimos. Apenas suas duas filhas, a princesa Sofia e a princesa Isabel terá tido filhos ilegítimos.

Em 2004, a Queen's Gallery, no Palácio de Buckingham exibiu uma exposição sobre o apoio às artes por parte do rei Jorge e da rainha Carlota, centrando-se principalmente no contraste entre este casal e os primeiros monarcas da dinastia de Hanôver, comparando-os favoravelmente com os gostos aventureiros do pai do rei, o príncipe Frederico de Gales.

Até 1788, os retratos de Carlota representavam-na frequentemente em poses maternais com os seus filhos e a rainha parecia sempre jovem e feliz.[22] Contudo, 1788 foi o ano em que o seu marido adoeceu gravemente e enlouqueceu durante um breve período de tempo. Atualmente, acredita-se que o rei sofresse de porfiria, uma doença genética, mas, na altura, não se sabia qual fosse a doença. O retrato da rainha, feito na época por sir Thomas Lawrence, marca a transição para os retratos em que Carlota aparece muito mais velha. De fato, a responsável pela roupa da rainha, mrs. Papendiek, escreveu que ela estava muito mudada, com os cabelos bastante grisalhos.[23]

Relação com Maria Antonieta

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Carlota
Thomas Lawrence, 1789
Royal Collection

A Revolução Francesa de 1789 provavelmente terá aumentado ainda mais a angústia da rainha.[24] Carlota e a rainha Maria Antonieta tinham uma relação bastante próxima. Carlota era onze anos mais velha do que a rainha francesa, mas ambas partilhavam muitos interesses, tais como o amor pela música e pelas artes que as duas apoiavam entusiasticamente. Embora nunca se tenham conhecido pessoalmente, trocavam correspondência com frequência. Maria Antonieta contou as suas angústias a Carlota durante a revolução. Carlota até preparou aposentos no seu palácio, esperando que família real francesa se refugiasse em Inglaterra.[25] Após a execução de Maria Antonieta e dos acontecimentos que se seguiram, diz-se que Carlota ficou chocada e completamente dominada pelo pensamento de que tal pudesse acontecer a um reino, principalmente um reino tão próximo da Grã-Bretanha.

Doença do marido

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Depois de Jorge III começar a ter os seus primeiros ataques de loucura, foi colocado aos cuidados da sua esposa, que não conseguia visitá-lo com muita frequência devido ao comportamento errático e, por vezes, violento que o rei demonstrava. Acredita-se que Carlota não o voltou a ver a partir de junho de 1812, apesar de continuar a defender e apoiar o marido ao longo de toda a sua doença que, actualmente, se acredita ter sido porfiria, e que foi piorando à medida que o rei envelhecia. Enquanto o seu filho mais velho, o príncipe-regente, detinha o verdadeiro poder político, Carlota foi a guardiã legal do marido de 1811 até à sua morte em 1818.

A rainha morreu no Palácio de Kew, Surrey, aos setenta e quatro anos de idade, na presença do seu filho mais velho, o príncipe-regente, que estava sustentando sua mão enquanto ela estava sentada, posando para o retrato de família que era pintado naquele momento. A rainha foi enterrada na Capela de São Jorge no Castelo de Windsor. O seu marido morreu pouco mais de um ano depois. Carlota é a segunda consorte que esteve mais tempo no trono britânico, sendo que o único que a ultrapassa foi o duque de Edimburgo, consorte da rainha Isabel II. Ao todo, Carlota esteve no trono 57 anos e setenta dias.

O seu filho mais velho reivindicou as joias da mãe após a sua morte, mas o resto dos seus bens foram vendidos num leilão que durou de maio a agosto de 1819. As suas roupas, mobília e até a sua caixa de rapé foram vendidos pela Christie's.[26] É muito improvável que o seu marido tenha sabido da sua morte, tendo também ele vindo a morrer cego, surdo e coxo catorze meses depois.

Representações na cultura

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A rainha Carlota foi interpretada pela actriz Frances White na série Prince Regent, transmitida pela BBC em 1979, e, mais tarde, por Helen Mirren no filme The Madness of King George de 1994, e pela atriz Golda Rosheuvel em 2020, na série da Netflix ''Bridgerton''., e por India Ria Amarteifio no aclamado spin-off da mesma, intulado "Rainha Charlotte: Uma história Bridgerton "

Possível ascendência africana

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Genealogia da rainha Carlota

Embora popular entre o público em geral, as alegações de que a Rainha Carlota tinha alguma ascendência africana são amplamente denunciadas pela maioria dos estudiosos como falsas.[27][28][29] A primeira vez que esta hipótese foi levantada foi no livro Racial Mixture as the Basic Principle of Life, publicada pelo em 1929 pelo historiador alemão Brunold Springer,[30] embora ele tenha se baseado apenas em algumas pinturas feitas dela para chegar conclusão de que ela deveria ser "birracial", uma noção que os historiadores rejeitam pela falta de evidências.[31] Posteriormente, Mário de Valdes y Cocom, um investigador afrocentrista independente, defendeu[32] que Allan Ramsay, um abolicionista conhecido, pintava Carlota de uma forma que se dizia acentuar a alegada aparência mulata da rainha e que o quadro de coroação de Carlota feito pelo mesmo foi enviado para as colónias e utilizado pelos abolicionistas como um apoio de facto para a sua causa. Valdes y Cocom afirmou também que, além das descrições da rainha que fazem referência ao seu rosto mulato (feitas, supostamente, pelo barão Stockmar, que Valdes y Cocom afirmava erradamente ter sido o médico pessoal de Carlota,[33] na sua autobiografia).[32] As feições da rainha Carlota também foram descritas como sendo vandálicas, num poema escrito para celebrar o seu casamento (a alusão mais literal, segundo Valdes y Cocom):

Valdes y Cocom não parecia reparar que os vândalos eram um povo germânico, natural do norte da Europa que migrou primeiro para a Andaluzia no ano de 409 a.C., e depois para o norte de África em 429 a.C. (nomeadamente para a Numídia, onde estabeleceram o Reino Vândalo da África do Norte), e que este poema, na verdade, está a ligar Carlota aos seus ascendentes germânicos, o que acaba por comprometer ainda mais a credulidade das supostas origens africanas de Carlota. Além do mais, a referida raça vândala que é utilizada para descrever a rainha Carlota, está ligada a um dos títulos oficiais da Casa de Meclemburgo, o de Princeps Vandalorum, ou seja, "Príncipe dos Vândalos", uma referência às origens eslavas da família.[34][35]

Todas estas referências levaram Mário de Valdes y Cocom a pesquisar os ancestrais e a genealogia da rainha. Ainda segundo o mesmo autor, uma das explicações para as feições supostamente negras de Carlota é a possibilidade de esta as ter herdado de uma antepassada muito distante dela, Margarida de Castro e Souza, uma nobre portuguesa do século XV que era, por sua vez, descendente do rei Afonso III de Portugal e de sua companheira, Madragana ben Aloandro.[36]

 
Carlota com os seus dois filhos mais velhos
Allan Ramsay, c. 1764
Royal Collection

Os críticos desta teoria defendem que a grande distância entre Carlota e Madragana, faz com que qualquer traço que a rainha possa ter herdado é irrelevante e está ao mesmo nível de qualquer outra origem germânica da princesa e, por isso, tal não serve para provar que a rainha era mulata ou africana.[37] Tal como qualquer pessoa, além de Madragana, Carlota tinha mais 32 767 antepassados. Além do mais, Valdez y Cocom assumiu que Madragana era uma mulher africana, mas, na verdade, existe apenas um cronista, Duarte Nunes de Leão, que disse que ela era moura.[38] Contudo, os investigadores modernos acreditam que Madragana era moçárabe ou judia.[39]

Valdez y Cocom também defendeu que, na altura da coroação da rainha Isabel II em 1952, foi publicada uma apologia que defendia as origens asiáticas e africanas da rainha para defender a sua posição como líder da Commonwealth,[32] algo rejeitado por historidades.[27] David Buck, um porta-voz do Palácio de Buckingham, foi citado pelo Boston Globe dizendo: "Há rumores sobre isso há anos e anos. É uma questão de história e, francamente, temos coisas muito mais importantes para conversar".[40]

Na série da Netflix de 2023 intitulada Queen Charlotte: A Bridgerton Story, a atriz India Amarteifio foi escalada como uma Carlota mestiça.[41][42] Esta série foi criticada por historiadores da comunidade afro-britânica, como uma tentativa de colocar retroativamente os britânicos no lado certo da história racial do país.[43]

Homenagens

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Em sua homenagem, foram batizados os seguintes lugares:

Títulos, estilos e brasão

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Títulos e estilos

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Brasão

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Brasão de Carlota (1761-1801)
Brasão de Carlota (1801-1816)
Brasão de Carlota (1816-1818)

Descendência

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Jorge III, Rainha Carlota e seus Seis Filhos Mais Velhos, por Johann Zoffany em 1770 na Royal Collection. Esquerda para direita: Guilherme, Jorge, Frederico, Eduardo, Jorge III, Carlota e Augusta Sofia com a rainha Carlota.
Nome Nascimento Morte Notas[45]
Jorge IV do Reino Unido 12 de agosto de 1762 26 de junho de 1830 Casou-se com Carolina de Brunsvique, com descendência.
Frederico, Duque de Iorque e Albany 16 de agosto de 1763 5 de janeiro de 1827 Casou-se com Frederica Carlota da Prússia, sem descendência.
Guilherme IV do Reino Unido 21 de agosto de 1765 20 de junho de 1837 Casou-se com Adelaide de Saxe-Meiningen, com descendência.
Carlota, Princesa Real 29 de setembro de 1766 6 de outubro de 1828 Casou-se com Frederico I de Württemberg, com descendência.
Eduardo, Duque de Kent e Strathearn 2 de novembro de 1767 23 de janeiro de 1820 Casou-se com Vitória de Saxe-Coburgo-Saalfeld, com descendência.
Augusta Sofia do Reino Unido 8 de novembro de 1768 22 de setembro de 1840 Não se casou.
Isabel do Reino Unido 22 de maio de 1770 10 de janeiro de 1840 Casou-se com Frederico VI, Conde de Hesse-Homburgo, sem descendência.
Ernesto Augusto I de Hanôver 5 de junho de 1771 18 de novembro de 1851 Casou-se com Frederica de Meclemburgo-Strelitz, com descendência.
Augusto Frederico, Duque de Sussex 27 de janeiro de 1773 22 de abril de 1843 Casou-se com Augusta Murray, com descendência.
Casou-se com Cecília Underwood, sem descendência.
Adolfo, Duque de Cambridge 24 de fevereiro de 1774 8 de junho de 1850 Casou-se com Augusta de Hesse-Cassel, com descendência.
Maria do Reino Unido 25 de abril de 1776 30 de abril de 1857 Casou-se com Guilherme, Duque de Gloucester e Edimburgo, sem descendência.
Sofia do Reino Unido 3 de novembro de 1777 27 de maio de 1848 Não se casou.
Otávio da Grã-Bretanha 23 de fevereiro de 1779 3 de maio de 1783 Morreu aos 4 anos.
Alfredo da Grã-Bretanha 22 de setembro de 1780 20 de agosto de 1782 Morreu aos 23 meses.
Amélia do Reino Unido 7 de agosto de 1783 2 de novembro de 1810 Não se casou, morreu aos 27 anos.

Ancestrais

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Notas e referências

  1. a b Percy Hetherington Fitzgerald: The good Queen Charlotte, 1899; pág. 7
  2. Charlotte Louise Henrietta Papendiek: Court and private life in the time of Queen Charlotte, 1887; pág. 3
  3. a b c Charlotte Louise Henrietta Papendiek: Court and private life in the time of Queen Charlotte, 1887; pág. 9
  4. Charlotte Louise Henrietta Papendiek: Court and private life in the time of Queen Charlotte, 1887; págs. 2-3
  5. Charlotte Louise Henrietta Papendiek: Court and private life in the time of Queen Charlotte, 1887; pág. 4
  6. Charlotte Louise Henrietta Papendiek: Court and private life in the time of Queen Charlotte, 1887; pág. 6
  7. Percy Hetherington Fitzgerald: The good Queen Charlotte, 1899; págs. 32-33
  8. Percy Hetherington Fitzgerald: The good Queen Charlotte, 1899; page 51
  9. Percy Hetherington Fitzgerald: The good Queen Charlotte, 1899; págs. 51-52
  10. Percy Hetherington Fitzgerald: The good Queen Charlotte, 1899; page 52
  11. Charlotte Louise Henrietta Papendiek: Court and private life in the time of Queen Charlotte, 1887; pág. 27
  12. Nash, p. 18
  13. Em 1775, um decreto do parlamento estabeleceu que a propriedade pertencia à rainha Carlota em troca dos seus direitos em Somerset House.
  14. Westminster: Buckingham Palace, Old and New London: Volume 4 (1878), pp. 61–74. Consultado a 15 de Fevereiro de 2012. Ainda existe a tradição de enviar os embaixadores estrangeiros para a "corte de St. James", apesar de ser no Palácio de Buckingham que apresentam as suas credenciais e pessoal à rainha quando são nomeados.
  15. Otto Jahn, Sir George Grove: Life of Mozart, Volume 1, 1882, page 39
  16. Engel, Louis: From Mozart to Mario: Reminiscences of half a century, Volume 1, 1886, page 275
  17. Engel, Louis: From Mozart to Mario: Reminiscences of half a century, Volume 1, 1886, page 39
  18. Franz Eduard Gehring: Mozart, 1911, pág. 18
  19. Murray, John: A handbook for travellers in Surrey, Hampshire, and the Isle of Wight, 1876, page 130-131
  20. Missouri Botanical Garden: Missouri Botanical Garden bulletin, Volume 10, 1922, pág. 27
  21. Levey, p.4
  22. Levey, pp.7–8
  23. Levey, p.7
  24. Levey, p.15
  25. Fraser, Antonia: Marie Antoinette: The Journey, 2001; pág. 287
  26. Baker, Kenneth (2005). George IV: A Life in Caricature. London: Thames & Hudson. ISBN 9780500251270. p.114.
  27. a b Linge, Mary (13 de novembro de 2021). «Real-life queen of 'Bridgerton' wasn't biracial – but she was a badass». New York Post. Consultado em 15 de março de 2022 
  28. Hilton, Lisa (28 de janeiro de 2020). «The "mulatto" Queen Lisa Hilton Debunks a Growing Myth About a Monarch's Consort». TheCritic.co.uk. TheCritic. Consultado em 7 de março de 2021 
  29. Jill Sudbury (20 de setembro de 2018). «Royalty, Race and the Curious Case of Queen Charlotte». Acacia Tree Books. Consultado em 22 de setembro de 2020 
  30. Gregory, Bethany (2016). Commemorating Queen Charlotte: Race, Gender, and the Politics of Memory, 1750 to 2014 (Master of Arts). The University of North Carolina at Charlotte. p. 27 
  31. Stuart Jeffries, "Was this Britain's first black queen?" The Guardian, 12 de março de 2009.
  32. a b c «Queen Charlotte | FRONTLINE | PBS». www.pbs.org. Consultado em 30 de junho de 2021 
  33. Na verdade, o barão Christian Friedrich Freiherr von Stockmar era médico pessoal da rainha Vitória, mas sim do príncipe Leopoldo de Saxe-Coburgo-Gota na altura em que este se casou com a sua neta, a princesa Carlota de Gales, em 1816.
  34. Erich Bauer, F. A. Pietzsch, Kritisches zur Anfangsgeschichte der Göttinger und Heidelberger Vandalia. Einst und Jetzt 10 (1965), S. 10
  35. Albert Krantz, Wandalia oder Beschreibung Wendischer Geschicht, 1636
  36. Menocal, María Rosa (2002). Ornament of the World: How Muslims, Jews and Christians Created a Culture of Tolerance in Medieval Spain. Little, Brown, & Co. ISBN 0-316-16871-8, p. 241.
  37. «Stuart Jeffries: Was the consort of George III Britain's first black queen?». the Guardian (em inglês). 12 de março de 2009. Consultado em 30 de junho de 2021 
  38. Duarte Nunes de Leão,Crónica d'El Rei Dom Afonso III, 1600; modern edition: Duarte Nunes de Leão, Crónica dos Reis de Portugal, Porto, Lello & Irmão, 1975.
  39. Anselmo Braamcamp Freire, Brasões da Sala de Sintra, 3 vols., Lisbon, Imprensa Nacional-Casa de Moeda, 1973; António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Coimbra, Atlântida-Livraria Editora, 1946; Felgueiras Gayo & Carvalhos de Basto, Nobiliário das Famílias de Portugal, Braga, 1989; José Augusto de Sotto Mayor Pizarro, Linhagens Medievais Portuguesas, 3 vols., Porto, Universidade Moderna, 1999; Manuel Abranches de Soveral, "Origem dos Souza ditos do Prado", in Machado de Vila Pouca de Aguiar. Ascendências e parentescos da Casa do Couto d'Além em Soutelo de Aguiar, Porto, 2000.
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  43. Rose, Steve (12 de junho de 2023). «'Why is Bridgerton's race twisting acceptable?' The real problem with the show's Black fantasy». The Guardian (em inglês). Consultado em 13 de junho de 2023 
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Ligações externas

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Carlota de Meclemburgo-Strelitz
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