E Nós, Aonde Vamos?

telenovela brasileira produzida e exibida pela Rede Tupi

E Nós, Aonde Vamos? é uma telenovela brasileira produzida e exibida pela Rede Tupi entre 16 de fevereiro a 5 de junho de 1970, às 20h no Rio de Janeiro e às 22h em São Paulo. Foi escrita por Glória Magadan e dirigida por Sérgio Britto, Mário Brasini e Hilton Marques.[1]

E Nós, Aonde Vamos?
Informação geral
Formato Telenovela
Gênero romance
Criador(es) Glória Magadan
Elenco
País de origem Brasil
Idioma original português
Produção
Diretor(es) Sérgio Britto
Mario Brasini
Hilton Marques
Localização Rio de Janeiro, Brasil
Exibição
Emissora original Rede Tupi
Formato de exibição Preto e branco
Formato de áudio Estéreo
Transmissão original 20 de janeiro de 1970 (Rio)
16 de fevereiro de 1970(S.Paulo) – 5 de junho de 1970
Cronologia
João Juca Jr.
As Bruxas

Produção

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Após estrear o horário de telenovelas às 22 horas com João Juca Jr., a Tupi passou a perder audiência. Assim, João Juca Jr. passou para o horário das 18h30 horas enquanto uma programação "tampão" de filmes era providenciada.[2] A Tupi resolveu investir em uma nova novela e recontratou a autora Glória Magadan. Recém dispensada da Globo, Magadan havia supervisionado sete telenovelas da Tupi entre 1964 e 1965 quando transferiu-se para a recém fundada TV Globo. Após quatro anos onde fez sucesso com dramas de época importados, Magadan acabou deixando a emissora após problemas na produção da novela A Gata de Vison[3] e por conta do inesperado sucesso de Beto Rockfeller, da própria Tupi, que retratou o cotidiano brasileiro da época e acabou fazendo o público exigir tramas nacionais contemporâneas no lugar de textos de época com dramas de capa e espada (especialidade de Magadan).Para atender ao publico, Magadan resolveu escrever uma telenovela contemporânea em que retratava o conflito de gerações entre pais e filhos. Esse trabalho foi batizado E Nós, Aonde Vamos?.[4][5] A Tupi inicialmente escalou Ruy Pisk para dirigir os trabalhos dessa telenovela, porém Pisk acabou transferido para outro projeto e a direção passou a ser de José Rios.[6]

Durante a produção da telenovela, iniciada em janeiro de 1970, a Tupi acabou substituindo o supervisor de produção de suas telenovelas Mario Barsini por Gloria Magadan, que assim acumulou os cargos de autora e supervisora de telenovelas na emissora.[7] Com isso, a produção de E Nós, Aonde Vamos? foi ampliada e Magadan anunciou que a telenovela teria núcleos de produção no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Novamente a direção foi trocada. Saiu José Rio e entrou Sérgio Britto.[8] O capítulo de estreia no Rio de Janeiro foi anunciado para 20 de janeiro de 1970, as 20h00 no feriado de São Sebastião.[9]

Para conseguir exibir a telenovela neste horário no Rio, a Tupi teve de realizar uma delicada negociação com a Esso, patrocinadora do Repórter Esso. Essa negociação foi chamada pela imprensa de "Crise dos 15 minutos". Com o sucesso da negociação, o Repórter Esso passou a ser apresentado quinze minutos mais cedo e E Nós, Aonde Vamos? foi colocada para concorrer com Véu de Noiva de Janete Clair, telenovela da Tv Globo anunciada como a “novela-verdade” (por retratar o mundo cotidiano).[10][11][12] No trigésimo capitulo de Véu de Noiva, o ator Geraldo Del Rey demitiu-se da Globo e passou a trabalhar com Magadan em E Nós, Aonde Vamos?.[13] Durante a formação do elenco, a atriz Eva Todor foi convidada por Magadan para um papel na novela. Tendo acumulado trinta anos de carreira no teatro, este foi o primeiro papel de Todor na televisão brasileira.[14]

Em São Paulo, a estreia ocorreu em 16 de fevereiro, às 22 horas.[15] Como forma de ampliar a audiência da telenovela, os Diários Associados publicaram aos domingos nos jornais do grupo um resumo completo dos capítulos da trama.[16]

Apesar da estréia, a produção da telenovela seguiu caótica. Em fevereiro, três capítulos inteiros foram perdidos e obrigaram a Tupi a regrava-los à "toque de caixa".[17] O esforço de gravação acabou causando problemas de estafa em Leila Diniz. Semanas depois, Diniz precisou se ausentar da produção por alguns dias por conta do agravamento de uma queimadura na perna sofrida dias antes da gravação.[18] Apesar de ter sido liberada para repouso pelo diretor Sérgio Brito, Diniz quase foi dispensada da telenovela por Magadan (que tentou escalar outra atriz para o papel, alegando abandono de trabalho por parte de Diniz). A assessoria de Magadan chegou a alegar que Diniz encontrava-se internada em um hospício e precisava ser substituída.[19][20]

No capitulo exibido em 12 de março, um erro de montagem fez com que uma cena fosse exibida duas vezes, com um ator trocado e problemas de áudio.[21] A crítica passou a cobrar cada vez mais a telenovela por conta do ritmo lento da trama, das falhas de cenografia, problemas nos textos de Magadan (distantes da "realidade" propagada pela Tupi durante a promoção da telenovela) e problemas técnicos dos equipamentos e estúdios.[22] Em fins de março o diretor Sérgio Britto brigou com a autora Glória Magadan e demitiu-se da produção. A briga provocou a intervenção do Grupo de Criação da Tupi, que nomeou Hilton Marques para a direção da novela enquanto Britto recebeu um projeto de teleteatro para dirigir. Magadan, por sua vez, passou a ter seu trabalho cada vez mais contestado pelo Grupo de Criação. No decorrer da novela descontentes com o texto e as imposições de Magadan, os atores foram deixando o trabalho e a autora começou a ficar sem personagens, sem saber "aonde iria" com a sua história. O desfecho foi um monólogo da personagem de Eva Todor, na janela de um navio, dirigindo-se diretamente com o público. Após esse trabalho a autora cubana deixou o Brasil, partindo para Miami, nos Estados Unidos. [23]

Elenco

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Elenco apresentado por ordem de entrada em cena na telenovela:[16]

Trilha sonora

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A trilha sonora de E Nós, Aonde Vamos? foi lançada em EP pela Polydor Records, sendo composta por quatro canções em arranjos dos maestros Erlon Chaves e Orlando Silveira. Excetuando a faixa-título E Nós...Aonde Vamos?, interpretada pela Umas e Outras, as demais foram executadas pela orquestra da Rede Tupi:[24]

N.º TítuloCompositor(es) Duração
1. "E Nós...Aonde Vamos?, interpretada por Umas e Outras"  Eduardo Souto Neto, Sérgio Bittencourt  
2. "Lembranças"  Erlon Chaves, Nonato Buzar  
3. "Free Way"  Ivan Maranhão  
4. "Beth"  Ivan Maranhão  

Crítica

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Apesar da tentativa ousada de escrever uma novela contemporânea, problemas nos textos (chamados de fracos e sofríveis) e estruturais da Tupi (incluindo a troca da direção da novela quatro vezes) comprometeram o resultado final e a novela sofreu fortes críticas na imprensa.[22]

Segundo Magdala da Gama Oliveira, do Diário de Notícias:

"...Sobre a novela que tirou o horário do Reporter Esso, cujo título é E nós... aonde vamos?, esta cronista viu os primeiros capítulos e reconheceu o velho estilo da Radio Nacional. Decepcionante, a direção de Sérgio Britto. A autora...soube conservar com carinho todos os defeitos de suas demais obras para a TV brasileira. Aparece uma criança nascida de "amores líciitos" e daí o dramalhão acontece. ..."
— Magdala da Gama Oliveira, Diário de Noticias , 21 de janeiro de 1970[25]

Além da crítica oficial, o Correio da Manhã usava a coluna satírica Balaio para criticar e ridicularizar a novela e a autora.

"...Sabia que tinha de dar rolo – afinal não foi a Glória Magadan (cubana) que amassou o pão que o diabo comeu? Pois é. Ela escreve. O que vem na cuca– que é feita não fica bem dizer...A novela começa mal, e pra direção da tevê não perceber que o erro é dela (que escreve), ela cria o maior blá-blá-blá, a emissora acaba trocando de diretor e enquanto isso ela dá uma melhorada na sua parte...
Balaio, Correio da Manhã, 21 de março de 1970.[26]

Escrevendo para a Folha de S.Paulo, a crítica Helena Silveira destacou o desgaste da "fórmula" de Magadan:

"...as receitas de Dª. Magadan não têm mais vez. Vide a chatura sem audiência de E Nós, Aonde Vamos?...
— Helena Silveira, Folha de S. Paulo, 18 de maio de 1970[27]

Audiência

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E Nós, Aonde Vamos? obteve fraca audiência no Rio de Janeiro e perdeu para Véu de Noiva da Globo, que alcançou mais de 60% de audiência no mesmo horário no Rio.[28]

Consequências

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Após o final de E Nós, Aonde Vamos?, o contrato de Glória Magadan não foi renovado. Segundo ela, por opção própria ao reclamar do baixo salário pago pela Tupi do Rio de Janeiro e por interferências das emissoras em seus textos. Magadan deixou o Brasil em agosto de 1970 e rumou para o México para trabalhar na televisão local. O fracasso de E Nós, Aonde Vamos? fez a Rede Tupi dissolver seu núcleo de produção no Rio de Janeiro e concentrar a produção das telenovelas da rede em São Paulo.[29]A Rede Tupi encarregou Ivani Ribeiro para escrever a telenovela sucessora, chamada de As Bruxas.[30]

Referências

  1. «E Nós, Aonde Vamos?». Teledramaturgia. Consultado em 21 de outubro de 2017 
  2. «Programas do Rio de Janeiro». Intervalo, ano VIII, edição 378, página 38/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Abril de 1970. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  3. Nilson Xavier. «A Gata de Vison:Bastidores». Teledramaturgia. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  4. José Antônio Nonato (9 de janeiro de 1970). «Televisão:Glória Magadan». Correio da Manhã, ano LXIX, edição 23538, Caderno Anexo, página 5/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  5. Atenéia Feijó (7 de fevereiro de 1970). «E nós...aonde vamos?O caminhocerto da novela». Manchete, ano 17, edição 929, páginas 158-161/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  6. João Rodolpho do Prado (8 de janeiro de 1970). «Televisão: Entre e sai». Correio da Manhã, ano LXIX, edição 23537, Caderno Anexo, página 5/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  7. João Rodolpho do Prado (16 de janeiro de 1970). «Televisão:Super quente». Correio da Manhã, ano LXIX, edição 23544, Caderno Anexo, página 5/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  8. «TV-Tupi leva programas de 3 horas às capitais: E nós...aonde vamos?». O Jornal, ano L, edição 14810, página 7/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 8 de janeiro de 1970. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  9. Titto Santos (11 de janeiro de 1970). «Noites cariocas:"E nós, aonde vamos?" -Dia 20». O Jornal, ano L, edição 14813, Caderno 2, página 6/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  10. Zózimo (20 de janeiro de 1970). «15 minutos». Jornal do Brasil, ano LXXIX, edição 244, Caderno B, página 3/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  11. V.A. (22 de janeiro de 1970). «Panorama: Da televisão». Jornal do Brasil, ano LXXIX, edição 246, Caderno B, página 3/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  12. João Rodolpho do Prado (24 de fevereiro de 1970). «A imagem nova de uma velha guerra». Correio da Manhã, ano LXIX, edição 23575, Caderno Anexo, página 1/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  13. José Carlos Oliveira (11 de março de 1970). «Proibição -70». Jornal do Brasil, ano LXXIX, edição 285, Caderno B, página 8/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  14. Gilse Campos (16 de fevereiro de 1970). «Eva Todor: o mesmo teatro depois de trinta anos». Jornal do Brasil, ano LXXIX, edição 265, Caderno B, página 1/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  15. J.Contreras (16 de fevereiro de 1970). «Rádio e TV:Estréia». Diário da Noite, ano XLV, edição 13557, Segundo Caderno, página 9 
  16. a b «E nós, aonde vamos?». O Jornal, ano L, edição 14865, Caderno Educação e Cultura, página 3/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 15 de março de 1970. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  17. Zózimo (5 de fevereiro de 1970). «O Show: "má sorte"». Jornal do Brasil, ano LXXIX, edição 258, Caderno B, página 3/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  18. Regina Oliveira (9 de fevereiro de 1970). «Leila: ao invés da Mangueira o descanso». Jornal do Brasil, ano LXXIX, edição 261, Revista de Domingo, página 3/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  19. Vera de Almeida (27 de fevereiro de 1970). «Rádio e TV:Atenção Leila». Diário de Notícias, edição 14508, Segundo Caderno, página 2/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  20. Vera de Almeida (3 de março de 1970). «Rádio e TV:Caso da Leila». Diário de Notícias, edição 14510, Segundo Caderno, página 2/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  21. Alberto Eça (14 de março de 1970). «O Repórter Eça: As besteiras». O Jornal, ano L, edição 14864, Segundo Caderno, página 3/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
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  25. Magdala da Gama Oliveira (21 de janeiro de 1970). «Rádio e TV: Uma valsa para o canal 6». Diário de Notícias, edição 14482, Segundo Caderno, página 2/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  26. Balaio (21 de março de 1970). «Cuba também exporta cara de pau». Correio da Manhã, ano LXIX, edição 23597, Caderno Anexo, página 4/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  27. Helena Silveira (18 de maio de 1970). «Quando os bons não têm vez». Folha de S.Paulo, ano XLIX, edição 14946, Folha Ilustrada, página 8 
  28. João Rodolpho do Prado (9 de maio de 1970). «Novelas, o segredo da audiência». Correio da Manhã, ano LXIX, edição 23638, Caderno Anexo, página 1/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  29. Jornal da TV (agosto de 1970). «Sérgio Cardoso dava palpites demais». Intervalo, ano VIII, edição 395, página 29/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
  30. João Rodolpho do Prado (16 de junho de 1970). «Televisão:Mensagem». Correio da Manhã, ano LXX, edição 23670, Caderno Anexo, página 7/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 28 de fevereiro de 2022 
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