Hexâmetro dactílico

forma de métrica poética ou esquema rítmico

Hexâmetro datílico (AO 1945: dactílico) (do grego: εξ, héx, "seis", e μέτρον, métron, "medida(s)") ou hexâmetro heróico é uma forma de métrica poética ou esquema rítmico. É tradicionalmente associado à poesia épica, tanto grega quanto latina, como por exemplo a Ilíada e a Odisseia de Homero e a Eneida de Virgílio. É a mais antiga e importante forma usada na poesia épica da Grécia Antiga.[1][2]

O dactílico se assemelha à forma de um dedo, com uma sílaba longa seguida por duas curtas

Dactílico

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A origem do nome “dactílico” é a palavra grega “dactilus”, “dedo”, e faz alusão a um dedo: a primeira falange é longa e as duas seguintes breves, analogamente à sequência de sílabas longas e breves no verso.

Enquanto o poema moderno procura estabelecer uma relação harmoniosa entre figuras de linguagem imagéticas e sonoras (dentre as quais a rima se destaca), o poema grego clássico buscava mobilizar ritmos ao verso composto. Dessa forma, o poema épico era uma série de arranjos entre sílabas breves e longas (as quais não existem no português contemporâneo e frequentemente são substituídas pelas sílabas tônicas em suas traduções em verso). Por meio de artifícios rítmicos, os poemas épicos produziam musicalidade em sua declamação, o que angariava valor laborioso ao poeta e prendia a atenção do público com mais facilidade[3].

Os versos ritmados foram extensivamente usados pelos gregos nas epopeias, nos poemas líricos e nos gêneros teatrais de então (dos quais é possível destacar a tragédia e a comédia). Raramente os versos eram escritos. E, quando o eram, dificilmente possuíam caráter meramente poético. A função do poema, podia ser, por exemplo, decorativa (uma vez que existem evidências de que eles poderiam adornar vasos, paredes, praças, etc.)[4][5]

A publicação de um poema era feita por meio da oralidade. Eles eram decorados e recitados em pátios públicos e festividades em geral.

A poesia grega usava metros distintos, combinações de sílabas longas (l) e breves (b). Estas formava uma estrutura básica dos versos, chamados pés. Cada pé era constituído pela sucessão de longas e breves e comportava dois "tempos", um mais elevado e um mais baixo. A sucessão padronizada de pés emprestava ao verso um ritmo característico, lento e solene, ou vivaz e agitado, e assim por diante. O site Grécia Antiga descreve que os pés mais importantes:

dáctilo: l b b
anapesto: b b l
iambo: b l
troqueu: l b
espondeu: l l
peon: l b l

Variações destes eram também comumente utilizadas. A substituição de um pé dáctilo por um pé espondeu, por exemplo, era bastante frequente. Os dois tipos mais antigos de metro são o hexâmetro e o iambo. Uma das mais antigas inscrições gregas conhecidas, a da taça de Nestor, tem três versos, sendo o primeiro um iambo e os dois outros, hexâmetros... Os poetas escolhiam os ritmos de seus versos segundo o efeito que desejavam produzir. Nas comédias, por exemplo, usava-se muito os versos iâmbicos, que se assemelhavam bastante à fala durante uma conversação comum. Na poesia épica, a mais antiga forma conservada de poesia grega, a preferência recaía sobre o hexâmetro dactílico, de efeito lento e solene. A poesia épica ou epopeia tem geralmente uma certa extensão e relata aventuras heroicas — míticas ou históricas — em estilo elevado.

O hexâmetro dactílico (ou "heroico"), constituía-se essencialmente de seis pés dactílicos ou seus equivalentes espondeus, cada um com um elemento bem marcado e outro mais fraco; o "tempo" bem marcado correspondia sempre a uma sílaba longa, e o "tempo" fraco a uma sílaba longa ou duas breves. Havia geralmente uma "pausa" ou cesura no meio do verso (terceiro pé), de modo a permitir a respiração do declamador...

Eis a estrutura métrica do primeiro verso da Ilíada de Homero, composto por volta de -750: Um dáctilo (dactilus, em grego “dedo”) é uma sequência de três sílabas poéticas, a primeira longa e as duas seguintes breves. Portanto, o verso hexâmetro dactílico ideal consiste de seis (do grego hexa) pés, sendo cada um dáctilo. Tipicamente, porém, o último pé do verso não é um dáctilo, mas sim um espondeu ou um troqueu, ou seja, a penúltima sílaba é sempre longa e a última silaba pode ser breve ou longa.

Na realidade, é difícil dispor as palavras nesta métrica, então poetas podem substituir os dáctilos por espondeus, que são pés com duas sílabas longas. Tradicionalmente o quinto pé em um verso é um dáctilo verdadeiro. Cerca de uma linha em vinte de Homero tem um espondeu no quinto pé. Esta linha é conhecida como espondaica. Uma linha de hexâmetro dactílico pode ser diagramada da seguinte maneira (Note que “¯” é uma sílaba longa, “u” é uma sílaba breve e “U” pode ser uma longa ou duas breves):

¯ U | ¯ U | ¯ U | ¯ U | ¯ u u | ¯ ¯

Referências

  1. «The Latin Library» (PDF). Consultado em 2 de maio de 2022 
  2. Hexametrica
  3. Kirk, G. S. The Iliad: Commentary. Volume I: books 1 - 4. [S.l.]: Cambrige University Press 
  4. Gontijo Flores, Guilherme (2017). Safo: Fragmentos Completos. [S.l.]: Editora 34 
  5. Gontijo Flores, Guilherme (2019). Epigramas de Calímaco - Bilíngue (Grego-Português). [S.l.]: Autêntica Editora 

Bibliografia

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  • RIBEIRO JR., W.A. Bibliografia de Literatura e Música grega. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. Disponível em www.greciantiga.org/inc/arquivo.asp?num=0036. Consulta: 07/10/2013.
  • ADRADOS, F.R. El Mundo de la Lírica Griega Antiga. Madrid: Alianza, 1981.
  • ANTON, C. A Manual of Greek Literature from the Earliest Authentic Periods to the Close of Byzantine Era. New York: Harper & Brothers, 1853.
  • A. P. DAVID. The Dance of the Muses: Choral Theory and Ancient Greek Poetics. (Nova forma de interpretação do hexâmetro que procura juntar a gestualidade à sonoridade.)
  • BALDRY, H.C. A Grécia Antiga: cultura e vida. Trad. M. Matos e Lemos. Lisboa: Verbo, 1969.
  • BRANDÃO, J.S. Teatro Grego: tragédia e comédia. Petrópolis: Vozes, 1984.
  • CHAILLEY, J. La Musique Grecque Antique. Paris: Les Belles Lettres, 1979.
  • DIHLE, A. A History of Greek Literature. Trad. C. Krojzl. London and New York, Routledge, 1994.
  • GRIMAL, P. O Teatro Antigo. Trad. A.M. Gomes da Silva. Lisboa: Edições 70, 1986.
  • GROUT, D.J. & PALISCA, C.V. História da Música Ocidental. Trad. A.L. Faria. Lisboa: Gradiva, 1994.
  • HARVEY, P. Dicionário Oxford de Literatura Clássica. Trad. M.G. Kury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987.
  • HUMBERT, J. & BERGUIN, H. Histoire Illustrée de la Littérature Grecque. Paris: Didier, 1961.
  • LESKY, A. A Tragédia Grega. Trad. J. Guinsburg e outros. São Paulo: Perspectiva, 2ª ed., 1990.
  • LESKY, A. História da Literatura Grega. Trad. M. Losa. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1995.
  • NAVARRE, O. Dionysos. Paris: Klincksieck, 1895.
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  • ROMILLY, J. Fundamentos de Literatura Grega. Trad. M.G. Cury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1984.
  • ROMILLY, J. A Tragédia Grega. Trad. I. Martinazzo. Brasília: UnB, 1998.
  • SOUSA E SILVA, M.F. Crítica do Teatro na Comédia Antiga. Lisboa: Calouste Gulbenkian / JNICT, 1987.
  • VERNANT, J.-P. & VIDAL-NAQUET, P. Mito e Tragédia na Grécia Antiga, 2 v. Trad. A.L.A. Almeida Prado e outros. São Paulo: Brasiliense, 1988-1991.
  • VIDAL-NAQUET, P. O Mundo de Homero. Trad. J. Batista Neto. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

Ligações externas

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