Manuel Butumita
Manuel Butumita (em grego: Μανουὴλ Βουτουμίτης; romaniz.: Manouēl Boutoumites; fl. 1086-1112) foi um importante general e diplomata bizantino durante o reinado do imperador Aleixo I Comneno (r. 1081–1118), e um de seus assistentes mais confiáveis. Foi instrumental na reconquista de Niceia e Cilícia dos turcos seljúcidas e atuou como embaixador do imperador em várias missões para os príncipes cruzados.
Manuel Butumita | |
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Nacionalidade | Império Bizantino |
Ocupação | General e embaixador |
Religião | Cristianismo |
História
editarPrimeiras campanhas contra os turcos
editarButumita aparece na A Alexíada de Ana Comnena em 1086, quando foi apontado como duque da frota bizantina por Aleixo, e enviado contra Abu Alcacim (r. 1084–1092), o governador seljúcida semi-independente de Niceia.[1] Abu Alcacim estava se preparando para lançar uma frota no mar de Mármara para enfrentar a marinha bizantina. Aleixo, determinado a evitar isso, enviou contra ele Butumita com a frota, enquanto Tatício se moveria contra sua base por terra. Os dois generais destruíram com sucesso a frota seljúcida e forçaram Abu Alcacim a retirar-se para Niceia, onde concluiu uma trégua com o império.[2][3]
Mais tarde, em 1092, após o mega-duque de Aleixo, João Ducas, derrotar o emir Tzacas de Esmirna, Butumita, junto com Alexandre Euforbeno, foram dados como reféns para o emir para garantir sua evacuação pacífica da ilha de Lesbos.[4] Logo depois, Ducas e Butumita foram enviados contra as rebeliões de Cálices em Creta e Rapsomata no Chipre. Depois de dominar a revolta de Cálices, se dirigiram para o Chipre, onde Cirênia caiu rapidamente. Rapsomata saiu para encontrá-los e ocupou as elevações acima da cidade, mas Butumita atraiu muitos de seus homens para o deserto, e os rebeldes fugiram da batalha. Butumita o perseguiu e capturou na igreja de Vera Cruz, onde o rebelde procurou refúgio. Prometendo poupar sua vida, Butumita capturou Rapsomata e levou-o para Ducas.[2][5] De acordo com a tradição, enquanto no Chipre, ele fundou o mosteiro de Cico.[6][7]
Primeira Cruzada e cerco de Niceia
editarButumita foi altamente considerado e confiado por Aleixo; Ana Comnena chama-o "único confidente de Aleixo". Por isso, ele desempenhou um importante papel nas relações delicadas com a Primeira Cruzada: em 1096, Butumita foi enviado para escoltar o navio naufragado de Hugo I de Vermandois de Dirráquio para Constantinopla, e em 1097, foi despachado como chefe de um pequeno destacamento para acompanhar o exército cruzado em sua marcha contra os turcos na Anatólia.[8][9]
O primeiro grande obstáculo no caminho dos cruzados era Niceia, a capital seljúcida, que eles começaram a cercar. Butumita tinha sido instruído por Aleixo para assegurar a rendição da cidade pelas forças imperiais, e não para os cruzados. Já desde o início do cerco, Butumita, através de numerosas cartas, tentou seduzir os seljúcidas a renderem-se a ele, seja por meio de promessas de anistia ou ameaças de um massacre se os cruzados capturassem a cidade pela força. Os turcos entraram em negociações, permitindo Butumita entrar na cidade. Dois dias depois, com a notícia da aproximação de uma força de alívio sob o sultão Quilije Arslã I (r. 1092–1107), eles o obrigaram a sair.[10][11][12][13] Depois da força de socorro ser derrotada pelos cruzados, contudo, e com um esquadrão imperial sob Butumita com o controle da rota de abastecimento através do lago Ascânio e 2000 bizantinos sob Tatício juntando-se aos cruzados no cerco, os habitantes da cidades estavam determinados a aceitar os termos do imperador: Butumita entrou em Niceia e mostrou-lhes então a bula dourada do imperador bizantino, oferecendo generosos termos e honra para a esposa e filha do sultão, que estavam na cidade. Ele, contudo, manteve o acordo em segredo, e organizou com Tatício um assalto renovado pelos cruzados e os homens de Tatício, em que a cidade ostensivamente seria capturada pelos bizantinos. O ardil funcionou: o dia do ataque final foi 19 de junho, mas quando o assalto começou na madrugada, os bizantinos entraram pelos portões virados para o lago, elevaram seus estandartes nas almeias, deixando os cruzados do lado de fora.[14][15][16][17]
Embora, no geral, os cruzados aceitaram o resultado, o evento amargou as relações. Os líderes cruzados sentiram-se enganados por terem sido deixados de fora após as baixas que sofreram para derrotar a força de alívio turca, mas o ressentimento foi maior entre as fileiras dos cruzados, que foram privados da possibilidade de saque e estavam indignados com o tratamento respeitoso dos bizantinos com os cativos muçulmanos.[18][19] No rescaldo da queda da cidade, Butumita foi nomeado por Aleixo como duque de Niceia. Foi bem sucedido em manter o posto e fila dos cruzados, ainda ansiosos para pilhar, em cheque - eles não estavam autorizados a entrar na cidade, exceto em grupos de 10 - e acalmou seus líderes através de presentes e garantiu a promessa de fidelidade deles à Aleixo. Também persuadiu alguns dos cruzados para se inscreverem no exército bizantino. Eles foram então utilizados para guarnecer Niceia e reparar seus muros.[20][21][22]
Embaixador e general contra Boemundo e Tancredo
editarEm 1099, foi enviado pelos comandantes bizantinos no Chipre como emissário de paz para Boemundo I de Antioquia, mas foi detido por ele durante uma quinzena antes de ser liberado, e as negociações não foram iniciadas.[22][23] Poucos anos depois (ca. 1103), Butumita foi colocado como chefe de um grande exército enviado para garantir a Cilícia contra Boemundo. Após tomar Ataleia, os bizantinos tomaram Germanícia e as regiões circundantes. Butumita deixou para trás uma grande força sob Monastras para guarnecer a província e retornou para Constantinopla.[1][24][25][26]
Em 1111/1112, foi enviado como um embaixador para o Reino de Jerusalém para assegurar ajuda contra Tancredo da Galileia, regente de Boemundo em Antioquia, que se recusou a cumprir o tratado de Devol de 1108, que transformava o Principado de Antioquia num Estado vassalo bizantino.[27][28] Do Chipre, Butumita primeiro rumou para Trípoli. De acordo com A Alexíada, o conde local, Bertrando de Toulouse, prontamente concordou em ajudar as forças imperiais contra Tancredo, e até mesmo a prestar homenagem a Aleixo, quando chegasse para sitiar Antioquia.[29][30] Em seguida, os enviados bizantinos prepararam-se para encontrar o rei de Jerusalém, Balduíno I (r. 1100–1118), que estava sitiando Tiro. Butumita tentou persuadir Balduíno oferecendo uma recompensa substancial em ouro, e fazendo várias afirmações exageradas, incluindo que Aleixo já estava supostamente a caminho e tinha alcançado Selêucia. Balduíno, contudo, ao saber da falsidade das alegações de Butumita, perdeu a confiança nele. Ele fingiu a vontade de atacar Tancredo desde que recebesse os subsídios prometidos anteriormente. Butumita, no entanto, percebeu as intenções do rei, e se recusou a fazê-lo. Assim, a missão terminou em fracasso, e Butumita deixou Jerusalém, retornando para Constantinopla via Trípoli.[31][32][33]
Referências
- ↑ a b Kazhdan 1991, p. 318.
- ↑ a b Skoulatos 1980, p. 181.
- ↑ Sewter 2003, p. 202–203.
- ↑ Sewter 2003, p. 270-271.
- ↑ Sewter 2003, p. 272-274.
- ↑ «Kykkos» (em inglês). Consultado em 12 de novembro de 2013
- ↑ Sinkević 2000, p. 10.
- ↑ Sewter 2003, p. 315; 331.
- ↑ Runciman 1951, p. 144; 177.
- ↑ Sewter 2003, p. 331–334.
- ↑ Skoulatos 1980, p. 182.
- ↑ Setton 2006, p. 289.
- ↑ Runciman 1951, p. 179.
- ↑ Sewter 2003, p. 334–338.
- ↑ Skoulatos 1980, p. 182–183.
- ↑ Setton 2006, p. 290.
- ↑ Runciman 1951, p. 180.
- ↑ Setton 2006, p. 290–291.
- ↑ Runciman 1951, p. 180–181.
- ↑ Sewter 2003, p. 339–340.
- ↑ Runciman 1951, p. 184.
- ↑ a b Skoulatos 1980, p. 183.
- ↑ Sewter 2003, p. 362–363.
- ↑ Sewter 2003, p. 358–360.
- ↑ Skoulatos 1980, p. 183–184.
- ↑ Runciman 1951, p. 300–301.
- ↑ Kazhdan 1991, p. 302, 318, 617, 2009.
- ↑ Setton 2006, p. 400.
- ↑ Skoulatos 1980, p. 184.
- ↑ Sewter 2003, p. 440–441.
- ↑ Sewter 2003, p. 441–441.
- ↑ Skoulatos 1980, p. 184–185.
- ↑ Setton 2006, p. 400–401.
Bibliografia
editar- Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8
- Runciman, Steven (1951). A History of the Crusades, Volume 1: The First Crusade and the Foundation of the Kingdom of Jerusalem. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-34770-9
- Setton, Kenneth Meyer; Marshall W. Baldwin (2006). A History of the Crusades, Volume I: The First Hundred Years. Madison, Wisconsin: University of Wisconsin Press. ISBN 978-0-299-04834-1
- Sewter, E. R. A. (2003). The Alexiad. Londres e Nova Iorque: Penguin Classics. ISBN 978-0-14-044958-7
- Sinkević, Ida (2000). The Church of St. Panteleimon at Nerezi: architecture, programme, patronage. Wiesbaden: Reichert. ISBN 3895001295
- Skoulatos, Basile (1980). Les Personnages Byzantins de I'Alexiade: Analyse Prosopographique et Synthese (em inglês). Louvain-la-Neuve: Nauwelaerts