Natalizumab

composto químico

Natalizumab (português europeu) ou natalizumabe (português brasileiro), vendido majoritariamente como Tysabri, é um fármaco utilizado no tratamento da esclerose múltipla e da doença de Crohn.[1] É um anticorpo monoclonal humanizado que trabalha contra a integrina VLA-4, que permite a invasão de glóbulos brancos na barreira hematoencefálica e no intestino.[2] O medicamento é ministrado por infusão intravenosa e funciona reduzindo a habilidade dos linfócitos T inflamatórios de se infiltrarem nas camadas de células do intestino e da barreira hematoencefálica, diminuindo a inflamação e o dano resultante dela. [3]

Modelo do fragmento Fab de natalizumab (rosa e roxo) ligado à integrina VLA-4

Os efeitos colaterais mais comuns são a infecção do trato urinário, nasofaringite (inflamação da garganta e nariz), dores de cabeça, tontura, náusea, dor nas articulações e fadiga.[4]

História

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O natalizumab foi aprovado para uso médico nos Estados Unidos em 2004. Ele foi retirado do mercado por seu fabricante depois que seu uso foi conectado a três casos da condição neurológica rara leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP), quando combinado ao interferão beta-1a - um fármaco imunossupressor que também é receitado para o tratamento de esclerose múltipla. Depois de revisão das informações de segurança, e sem mais novas mortes, a droga retornou ao mercado estadunidense em junho de 2006 com um programa especial de prescrição. No mesmo mês, garantiu sua aprovação na União Europeia. [5] No Brasil, o medicamento foi aprovado em agosto de 2008 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária e foi incorporado ao Sistema Único de Saúde em 2020. [6] [7] Em 2009, haviam sido registrados 24 casos de LMP, mostrando um aumento significativo no número de fatalidades e incitando uma nova revisão do medicamento pela Agência Europeia de Medicamentos.

Até 2010, 31 casos de LMP eram relacionados ao natalizumab. Em 2016, o total registrado era de 667 casos. [8][9] A Food and Drug Administration (FDA), órgão responsável pela saúde pública nos Estados Unidos, não retirou a droga do mercado devido ao número de benefícios.[10] Na União Europeia, o remédio foi aprovado apenas para esclerose múltipla e o uso em conjunto com quaisquer outras drogas foi proibido: os fabricantes dizem que os casos de LMP estão relacionados à utilização de outros fármacos concomitantemente. [11]

Usos médicos

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Nos Estados Unidos, o natalizumab é indicado para o tratamento de esclerose múltipla e doença de Crohn.

É indicado para:

  • Tratar a síndrome clínica isolada, que é uma primeira ocorrência única dos sintomas de esclerose múltipla.
  • Tratar a esclerose múltipla remitente-recorrente - um tipo de esclerose múltipla na qual a pessoa apresenta períodos de novos sintomas neurológicos seguidos por períodos de estabilidade.
  • Tratar a esclerose múltipla secundária progressiva, onde, após um ciclo remitente-recorrente, os pacientes sofrem recaídas constantes e perdas neurológicas graduais.[12]
  • Tratar a doença de Crohn quando os medicamentos usuais não surtem efeito. É a última opção devido à possibilidade de LMP.[13]

Estudos apontam que o natalizumab oferece uma melhor eficácia quando comparado a outros tratamentos para esclerose múltipla. No entanto, devido à escassez de estudos sobre o uso contínuo, aliado aos potenciais riscos à integridade física dos pacientes, alguns possuem ressalvas sobre o uso da droga fora de pesquisas comparatórias entre diferentes medicamentos. [14]

Na União Europeia, o natalizumab é indicado para os seguintes grupos:

  • Pessoas com alta atividade da doença, apesar de terem completado tratamento com outro fármaco.
  • Pessoas com progressão severa de esclerose múltipla remitente-recorrente.[15]

Efeitos colaterais

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As informações de prescrição do medicamento nos Estados Unidos contém um aviso sobre o risco de leucoencefalopatia multifocal progressiva[16], uma infecção viral do cérebro que resulta em deficiência grave ou morte. A infecção é causada pelo poliomavírus humano JC, presente em mais de 70% dos humanos. Ele é, na maior parte dos casos, inofensivo, porém situações de imunossupressão ou imunodeficiência podem o reativar. Aliado a isso, a infiltração no sistema nervoso central é facilitada pela barreira imunológica decorrente do tratamento, que impede a passagem de células T ao sistema nervoso central. A chance da infecção aumenta com um tempo de tratamento prolongado, especialmente após 24 meses. Ainda, pessoas com anticorpos ao poliomavírus (indicando anterior exposição) estão em maior risco. [17] [18] [19]

Até dezembro de 2018, 195.071 pacientes ao redor do mundo tinham recebido mais que uma dose de natalizumab; a incidência de casos de LMP é de 4,14 a cada 1000 pacientes. [20]

Após sua aprovação no mercado estadunidense, a droga foi monitorada, como é de praxe, durante o uso comum e fora dos estudos clínicos. As descobertas revelaram que 0,1% dos usuários de natalizumab tiveram danos significantes ao fígado, levando à inclusão de uma nova recomendação da FDA: o remédio deve ser descontinuado em pacientes com icterícia ou com outras evidências de um fígado lesionado. [21] Essa porcentagem é similar a de outros medicamentos utilizados para o tratamento de esclerose múltipla.

Efeitos colaterais comuns incluem fadiga, reações alérgicas com baixo risco de anafilaxia, dores de cabeça, náusea, resfriados e pode exacerbar a doença de Crohn em alguns pacientes.

Nos estudos preliminares, cerca de 6% das pessoas criaram anticorpos naturais contra o natalizumab, diminuindo a eficácia da droga.

Ver também

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  1. «DailyMed - TYSABRI- natalizumab injection». dailymed.nlm.nih.gov. Consultado em 12 de dezembro de 2024 
  2. Sheremata, William A.; Minagar, Alireza; Alexander, J. Steven; Vollmer, Timothy (2005). «The role of alpha-4 integrin in the aetiology of multiple sclerosis: current knowledge and therapeutic implications». CNS drugs (11): 909–922. ISSN 1172-7047. PMID 16268663. doi:10.2165/00023210-200519110-00002. Consultado em 13 de dezembro de 2024 
  3. «Tysabri | European Medicines Agency (EMA)». www.ema.europa.eu (em inglês). 18 de junho de 2009. Consultado em 12 de dezembro de 2024 
  4. «Tysabri | European Medicines Agency (EMA)». www.ema.europa.eu (em inglês). 18 de junho de 2009. Consultado em 12 de dezembro de 2024 
  5. «Tysabri | European Medicines Agency (EMA)». www.ema.europa.eu (em inglês). 18 de junho de 2009. Consultado em 12 de dezembro de 2024 
  6. «Consultas - Agência Nacional de Vigilância Sanitária». consultas.anvisa.gov.br. Consultado em 12 de dezembro de 2024 
  7. «Medicamento natalizumabe será ampliado no SUS como segunda linha de tratamento para pacientes com esclerose múltipla remitente-recorrente». Site do Governo Brasileiro. 17 de novembro de 2020. Consultado em 12 de dezembro de 2024. Cópia arquivada em 12 de dezembro de 2024 
  8. «PML Risk Increases With Repeated Natalizumab Infusions: FDA». Medscape (em inglês). Consultado em 12 de dezembro de 2024 
  9. Schwab, Nicholas; Schneider-Hohendorf, Tilman; Melzer, Nico; Cutter, Gary; Wiendl, Heinz (21 de março de 2017). «Natalizumab-associated PML». Neurology (12): 1197–1205. doi:10.1212/WNL.0000000000003739. Consultado em 12 de dezembro de 2024 
  10. Contributors, WebMD Editorial. «Tysabri Therapy for Multiple Sclerosis». WebMD (em inglês). Consultado em 12 de dezembro de 2024 
  11. Oct 26, Tracy Staton; 2009 11:27am (26 de outubro de 2009). «Tysabri safety falls under EMEA scrutiny | Fierce Pharma». www.fiercepharma.com (em inglês). Consultado em 12 de dezembro de 2024 
  12. Commissioner, Office of the (9 de agosto de 2024). «FDA Approves First Biosimilar to Treat Multiple Sclerosis». FDA (em inglês). Consultado em 13 de dezembro de 2024 
  13. Hutchinson, Michael (abril de 2007). «Natalizumab: A new treatment for relapsing remitting multiple sclerosis». Therapeutics and Clinical Risk Management (em inglês) (2): 259–268. ISSN 1176-6336. doi:10.2147/tcrm.2007.3.2.259. Consultado em 13 de dezembro de 2024 
  14. «Natalizumab: new drug. Multiple sclerosis: risky market approval». Prescrire International (93): 7–10. Fevereiro de 2008. ISSN 1167-7422. PMID 18354844. Consultado em 13 de dezembro de 2024 
  15. «Tysabri | European Medicines Agency (EMA)». www.ema.europa.eu (em inglês). 18 de junho de 2009. Consultado em 13 de dezembro de 2024 
  16. Commissioner, Office of the (9 de agosto de 2024). «FDA Approves First Biosimilar to Treat Multiple Sclerosis». FDA (em inglês). Consultado em 13 de dezembro de 2024 
  17. Vivekanandan, Govinathan; Abubacker, Ansha P; Myneni, Revathi; Chawla, Harsh V; Iqbal, Aimen; Grewal, Amit; Ndakotsu, Andrew; Khan, Safeera (30 de abril de 2021). «Risk of Progressive Multifocal Leukoencephalopathy in Multiple Sclerosis Patient Treated With Natalizumab: A Systematic Review». Cureus (em inglês). ISSN 2168-8184. doi:10.7759/cureus.14764. Consultado em 13 de dezembro de 2024 
  18. Kartau, Marge; Sipilä, Jussi OT; Auvinen, Eeva; Palomäki, Maarit; Verkkoniemi-Ahola, Auli (dezembro de 2019). «<p>Progressive Multifocal Leukoencephalopathy: Current Insights</p>». Degenerative Neurological and Neuromuscular Disease: 109–121. ISSN 1179-9900. PMC 6896915 . PMID 31819703. doi:10.2147/dnnd.s203405. Consultado em 13 de dezembro de 2024 
  19. Plavina, Tatiana; Subramanyam, Meena; Bloomgren, Gary; Richman, Sandra; Pace, Amy; Lee, Sophia; Schlain, Brian; Campagnolo, Denise; Belachew, Shibeshih (dezembro de 2014). «Anti–JC virus antibody levels in serum or plasma further define risk of natalizumab‐associated progressive multifocal leukoencephalopathy». Annals of Neurology (em inglês) (6): 802–812. ISSN 0364-5134. PMC 4282070 . PMID 25273271. doi:10.1002/ana.24286. Consultado em 13 de dezembro de 2024 
  20. Giovannoni, Gavin; Kappos, Ludwig; Berger, Joseph; Cutter, Gary; Fox, Robert; Wiendl, Heinz; Chang, Ih; Englishby, Ronnie; Lee, Lily (14 de abril de 2020). «Updated Incidence of Natalizumab-associated Progressive Multifocal Leukoencephalopathy (PML) and Its Relationship with Natalizumab Exposure Over Time (2815)». Neurology (15_supplement). 2815 páginas. doi:10.1212/WNL.94.15_supplement.2815. Consultado em 13 de dezembro de 2024 
  21. «FDA MedWatch - 2008 Safety Alerts for Human Medical Products». web.archive.org. 25 de maio de 2009. Consultado em 13 de dezembro de 2024 
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