Nota: Para o engenheiro canadense, veja Peter Norman Nissen.

Peter George Norman (Melbourne, 15 de junho de 1942 – Melbourne, 3 de outubro de 2006) foi um atleta australiano. Ele ganhou a medalha de prata nos 200 metros rasos dos Jogos Olímpicos de Verão de 1968 na Cidade do México, com um tempo de 20,06 segundos, sendo o recorde australiano na modalidade até hoje.[1] Ele foi pentacampeão australiano também na modalidade.[2] Ele é notório por seu apoio ao gesto de orgulho racial feito pelos seus companheiros de pódio John Carlos e Tommie Smith na cerimônia de entrega das medalhas de 1968.[3]

Peter George Norman
Atletismo
Nome completo Peter George Norman
Modalidade 200 metros rasos
Nascimento 15 de junho de 1942
Melbourne, Vitória
Nacionalidade australiano
Morte 3 de outubro de 2006 (64 anos)
Compleição Peso: 73 kg • Altura: 1,78
Medalhas
Jogos Olímpicos
Prata Cidade do México 1968 200 metros rasos
Jogos da Commonwealth
Bronze Kingston 1966 Revezamento 4 x 110 jardas

Infância

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Peter cresceu numa família devota do Exército da Salvação[4] em Coburg, um subúrbio de Melbourne em Victoria, e foi educado na Escola The Southport. Inicialmente um aprendiz de açougueiro, ele mais tarde virou professor e trabalhou para o Departamento de Esporte e Recreação de Victoria até o final de sua vida.[5]

Peter tinha conflitos com certos aspectos das crenças do Exército da Salvação, como competir no sabá.[6]

Carreira no atletismo

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Jogos Olímpicos de 1968

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O gesto Black Power de John Carlos (direita) e Tommie Smith. Peter Norman (esquerda) está vestindo um distintivo do Projeto Olímpico para Direitos Humanos em solidariedade a eles.

Os 200 metros das Olimpíadas de 1968 começaram em 15 de outubro e terminaram no dia seguinte; Peter terminou o aquecimento com um tempo de 20,17 segundos, que foi um breve recorde olímpico.[7] Ele venceu as quartas de final e ficou em segundo na semi.

Na manhã do dia 16 de outubro, o atleta estadunidense Tommie Smith venceu a final dos 200 metros com um tempo recorde de 19,83 segundos.[8][9] Peter ficou em segundo com 20,06 s e o também estadunidense John Carlos ficou em terceiro com 20,10 s. O tempo de Peter foi sua melhor marca de todos os tempos[10] e um recorde australiano que permanece até os dias de hoje.

Após a corrida, os três atletas foram ao pódio para receber as medalhas de David Cecil, 6º Marquês de Exeter. No pódio, enquanto tocava o hino dos Estados Unidos, Tommie e John juntaram-se numa saudação Black Power.

Peter usou um distintivo no pódio em apoio ao Projeto Olímpico para os Direitos Humanos. Após a final, Tommie e John disseram a Peter o que planejavam fazer durante a cerimônia. Conforme o jornalista Martin Flanagan explicou; "Eles perguntaram a Peter se ele acreditava em direitos humanos. Ele disse que acreditava. Eles perguntaram a ele se ele acreditava em Deus. Peter, que foi criado numa família que era membra do Exército de Salvação, disse que cria firmemente em Deus. Nós sabíamos que o que íamos fazer era maior que qualquer feito atlético. Ele disse: 'eu apoiarei vocês'." John disse que esperava ver medo nos olhos de Peter, mas ele diz que viu "amor".[11] A caminho do pódio, Peter viu o distintivo do Projeto Olímpico para os Direitos Humanos sendo usado por Paul Hoffman, um membro da equipe estadunidense de remo, e perguntou se ele poderia usá-lo.[12] Foi Peter quem sugeriu que Tommie e John dividissem as luvas negras usadas na saudação, após John ter esquecido as suas na Vila Olímpica,[3] e é por isso que os dois não levantam os mesmos braços.

Carreira posterior

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Peter deixou o atletismo após a decisão de não inscrever uma equipe masculina australiana de corrida nos Jogos Olímpios de 1972 e migrou para o futebol australiano.[13] Peter continuou correndo mas, em 1985, ele gangrenou sua perna após romper o tendão de aquiles durante uma corrida de caridade, o que quase o levou a ter sua perna amputada. Depressão, abuso de bebidas alcoólicas e vício em analgésicos vieram em seguida.[14] Antes das Olimpíadas de 1968, Peter treinava o clube West Brunswick de futebol australiano como um meio de manter-se em forma durante o inverno, que era também a temporada de férias do atletismo. Após 1968 ele jogou 87 partidas pelo West Brunswick entre 1972 e 1977 antes de ir treinar um time sub-19 em 1978.

Foi treinado por Neville Sillitoe durante sua carreira no atletismo.[4]

Conquistas na carreira

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Competições internacionais

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Ano Competição Local Posição Evento Notas
1962 Jogos da Commonwealth Perth, Austrália 6th S/F 1 ; 12/43 220 jardas 21.8(22.03)(−2.8)
1966 Jogos da Commonwealth Kingston, Jamaica 6th Q/F ; 29/54 100 jardas 10.2(10.27)(−5.0)
6th S/F 1 ; 10/56 220 jardas 21.2(0.0)
3rd 4×110 jardas 40.0
5th 4×440 jardas 3:12.2
1968 Jogos Olímpicos Cidade do México, México 2nd 200 m 20.0 (20.06)(+0.9)
1969 Jogos da Conferência do Pacífico Tóquio, Japão 4th 100 m 10.8(−0.1)
1st 200 m 21.0(−0.1)
1st 4 × 100 m 40.8
1970 Jogos da Commonwealth Edinburgo, Escócia 5th 200 m 20.86(+1.7)
DNF Heat1 ; 14º 4 × 100 m Deixou o bastão cair

[15]

Campeonatos nacionais

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[15]

Ano Competição Local Posição Evento Notas
1965/66 Campeonatos Australianos de Atletismo Perth, Austrália Ocidental 1st 200 m 20.9 (−1.2)
1966/67 Campeonatos Australianos de Atletismo Adelaide, Austrália Meridional 1st 200 m 21.3
1967/68 Campeonatos Australianos de Atletismo Sydney, Nova Gales do Sul 1st 200 m 20.5 (0.0)
1968/69 Campeonatos Australianos de Atletismo Melbourne, Vitória 2nd 100 m 10.6 (−0.5)
1st 200 m 21.3 (−3.1)
1969/70 Campeonatos Australianos de Atletismo Adelaide, Austrália Meridional 1st 200 m 21.0 (−2.1)
1971/72 Campeonatos Australianos de Atletismo Perth, Austrália Ocidental 3rd 200 m 21.6

[15]

Peter morreu de ataque cardíaco em 3 de outubro de 2006 em Melbourne aos 64 anos.[12] A Federação de Atletismo dos Estados Unidos proclamou o dia 9 de outubro, o dia de seu funeral, como o Dia de Peter Norman. Tanto Tommie quanto John compareceram ao funeral, onde proferiram elogios e ajudaram a carregar seu caixão.[5] Peter deixou Jan, sua segunda esposa, e as filhas deles, Belinda e Emma; sua primeira esposa, Ruth, e seus filhos com ela, Gary, Sandra e Janita; além de quatro netos.[4]

Pedido de desculpas parlamentar de 2012

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O pedido

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Em agosto de 2012, o Parlamento australiano discutiu uma moção para emitir um pedido de desculpas póstumo a Peter.[16][17][18] Em 11 de outubro de 2012, o parlamento aprovou as palavras de um pedido oficial de desculpas que afirmava:

Em uma entrevista no mesmo ano, John disse:[20]

Críticas às afirmações no pedido

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O Comitê Olímpico Australiano (AOC, na sigla original em inglês) contestou as afirmações feitas no pedido de desculpas do parlamento que sugeriam que Peter foi punido por apoiar Tommie e John. A entidade afirmou o seguinte:

  • Norman não foi punido pelo AOC.[21] Ele foi advertido pelo Chefe de Missão Judy Patching na noite da cerimônia de entrega e então recebeu quantas entradas quis para ver uma partida de hóquei;[21]
  • Peter não foi selecionado para os Jogos Olímpicos de 1972 em Munique porque não se encaixava nos critérios de seleção, incluindo conseguir uma marca igual ou inferior a 20,9[22] e competir nos Campeonatos de Atletismo Australianos.[23] Peter competiu em várias eliminatórias de 1969 a 1971[24] mas terminou em terceiro nos campeonatos australianos de 1972, atrás de Greg Lewis e Gary Eddy com um tempo de 21,6.[24] Na época, Peter comentou: "Tudo que eu tinha de fazer era vencer, mesmo num tempo lento, e eu acho que eu iria para Munique".[25] Peter não falou aos selecionadores que ele estava com o joelho lesionado.[25] A revista Australasian Amateur Athletics afirmou que "o dilema dos selecionadores aqui foi como eles poderia selecionar Peter e não Lewis. Pena que Peter não venceu porque aquele seria o único requisito para uma passagem para Munique";[26]
  • Nos preparativos para os Jogos Olímpios de 2000 em Sydney, o AOC afirmou que "Peter envolveu-se em muitos eventos olímpicos em sua cidade Melbourne. Ele enunciou vários times para o AOC em Melbourne e esteve no palco com seu blazer do México 1968 parabenizando atletas. Ele foi reconhecido como um atleta olímpico e o AOC valorizou sua contribuição".[21] Devido a questões de custo, o AOC não tinha os recursos para trazer todos os atletas olímpicos para Sydney e a Peter foi oferecida a mesma chance para comprar entradas que outros atletas olímpicos australianos. O AOC não acreditou que devia-se um pedido de desculpas a Peter.[27]

Foi afirmado que autoridades dos Estados Unidos o convidaram para participar dos Jogos Olímpicos de Sydney após descobrirem que ele não os assistiria.[28] Em 17 de outubro de 2003, a Universidade Estadual de San Jose inaugurou uma estátua celebrando o protesto dos Jogos Olímpicos de 1968; Peter não foi incluído na estátua – o espaço vazio era um convite para as pessoas demonstrarem apoio como ele fez – mas ele foi convidado a proferir um discurso na cerimônia.[5]

Legado

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O sobrinho de Peter Matt Norman dirigiu e produziu o documentário Salute (2008) sobre os três corredores pela Paramount Pictures e pela Transmission Films. Paul Byrnes, em uma crítica para o Sydney Morning Herald, disse que o filme deixa claro o porquê de Peter ter se juntado a seus colegas. Ele escreveu que "ele era um cristão devoto, criado no Exército da Salvação [e] acreditava apaixonadamente em igualdade para todos, independentemente de cor, credo ou religião—o código olímpico".[29]

Um mural em aerógrafo Acom o pódio e os três atletas foi pintado no bairro de Newtonwn em Sydney. Silvio Offria, que permitiu a um artista conhecido como "Donald" pintar o mural em sua casa na Leamington Lane, disse que Peter veio ver o mural e que o mesmo teria tirado uma foto e ficado muito feliz".[30] O mural chegou a correr risco de ser destruído com o muro para abrir caminho para um túnel de trem[30] mas agora está protegido como item de patrimônio.[31]

Referências

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Notas de rodapé
  1. Carlson 2006
  2. Associated Press 2006
  3. a b Frost 2008
  4. a b c Hurst, Mike (8 de outubro de 2006). «Peter Norman's Olympic statement». Courier Mail. Consultado em 10 de janeiro de 2014 
  5. a b c Hawker 2008
  6. Bentley, Peter (18 de agosto de 2008). «Salute – the Christian Connection» (PDF). Confessing Congregations. Consultado em 10 de janeiro de 2014 
  7. Irwin 2012
  8. Athletics at the 1968 Ciudad de México Summer Games: Men's 200 metres. sports-reference.com
  9. New Scientist 1981, p. 285
  10. Peter Norman. sports-reference.com
  11. Flanagan 2006
  12. a b Hurst 2006
  13. The Salute
  14. Johnstone & Norman 2008
  15. a b c «Peter Norman». Athletics Australia Historical Results. Consultado em 26 de março de 2015 
  16. The Daily Telegraph 2012
  17. Australian Associated Press 2012
  18. Whiteman 2012
  19. Parliament of Australia 2012, p. 1865
  20. Carlos & Eastley 2012
  21. a b c «Peter Norman not shunned by AOC». Australian Olympic Committee News, 6 November 2015. Consultado em 12 de novembro de 2015 
  22. «IOC Releases 1972 Olympic Standards». Track and Field News: 24. Maio de 1971 
  23. «A sprint hope who ran foul of Olympic starters gun». National Times (3-8 April 1972 p.28) 
  24. a b Messenger, Robert (24 de agosto de 2012). «Leigh sprints into wrong lane over Norman». Sydney Morning Herald. Consultado em 12 de novembro de 2015 
  25. a b «Peter may have lost team place» (PDF). The Age. 27 de março de 1972. Consultado em 12 de novembro de 2015 
  26. «National Championships - 24-25 March 1972, Perry Lakes Stadium, Perth». Australasian Amateur Athletics: 2-3. Abril de 1972 
  27. Whiteman, Hilary (21 de agosto de 2012). «Apology urged for Australian Olympian in 1968 black power protest». CNN. Consultado em 2 de setembro de 2015 
  28. Schembri 2008
  29. Byrnes, Paul (17 de julho de 2008). «Salute». Sydney Morning Herald. Consultado em 10 de janeiro de 2014 
  30. a b Tovey 2010
  31. City of Sydney 2010, p. 27
Referências

Ligações externas

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