Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira

ponte sobre o rio Tocantins que liga Tocantins ao Maranhão
 Nota: Não confundir com Ponte Juscelino Kubitschek (Brasília).

A Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira foi uma ponte sobre o rio Tocantins que ligava os municípios de Aguiarnópolis, no estado do Tocantins, e Estreito, no Maranhão. Seu desabamento, em dezembro de 2024, cortou a única ligação rodoviária na conurbação Estreito-Aguiarnópolis.[2][3]

Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira
Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira
Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira
Nome oficial Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira
Arquitetura e construção
Material Concreto armado (cabeceiras)
concreto protendido (laje do vão central)
Design Ponte de concreto
Engenheiro Sérgio Marques de Souza[1]
Mantida por DNER (1961–2001)
DNIT (2001–2024)
Data de construção 1959–1961
Início da construção maio de 1959
Término da construção janeiro de 1961
Data de abertura 29 de janeiro de 1961
Data de encerramento 22 de dezembro de 2024
Dimensões
Comprimento total 532,7 m
Largura 10 m
Maior vão livre 140 m
Pedágio Não
Geografia
Via Duas vias
Cruza Rio Tocantins
Localização Aguiarnópolis, Tocantins e Estreito, Maranhão

Inaugurada em 1961, a estrutura da ponte era de concreto armado nas cabeceiras e concreto protendido na laje do vão central, comprimento de 533 metros, com duas faixas de rolamento. Era parte das rodovias BR-226 e BR-230.[4]

História

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As primeiras discussões sobre a construção de uma ponte sobre o Rio Tocantins surgiram em 1955 através de discussões na Câmara dos Deputados.[5] Em 1956, surgiu o projeto de lei 392 que autorizava o governo federal a construir uma ponte sobre o Rio Tocantins entre Tocantinópolis e Porto Franco. A lentidão na discussão do projeto fez com que ele fosse arquivado em 1963, cerca de dois anos após a construção da ponte.[6] O projeto da ponte foi incorporado ao da Rodovia Belém-Brasília pela Rodobrás (estatal inicialmente criada pelo governo de Juscelino Kubitschek para coordenar a construção da rodovia[7]). Iniciado em 1958, o projeto foi elaborado inicialmente pelo engenheiro francês Simon Rajfus da empresa Sogebral.[8][9] Mais tarde, foi transferido para o engenheiro Arthur German. A ponte prevista tinha 429 metros de comprimento e 19 pilares.[10]

As obras foram iniciadas em maio de 1959 pelo engenheiro Gilberto Rocha Salgueiro,[10] porém a empresa contratada não conseguiu prosseguir com as obras e desistiu do projeto.[11] A Rodobrás decidiu contratar o engenheiro Sérgio Marques de Souza para revisar o projeto. Autor dos projetos do Viaduto Vila Rica, do arco central da Ponte Ernesto Dornelles[12] e considerado um dos melhores engenheiros de pontes brasileiro, Souza decidiu construir a ponte através de vigas de concreto armado e protendido.[13][14] O novo projeto foi implementado pela Sergio Marques de Souza S/A (Sermaso), sob supervisão da Rodobrás.[11]

 
Aspecto da ponte em 2008

Com 532,7 metros de comprimento e 10 metros de largura, o novo projeto possuía um vão livre de 140 metros de comprimento (o maior do mundo naquele momento[15]). Para sua construção foram empregados 50 mil sacos de cimento, 4500 m³ de areia 6 mil m³ de pedra britada, 550 toneladas de aço CA37, 147 toneladas de aço duro 7mm e seu escoramento consumiu 25 mil m² de tábuas.[14] Para a construção da ponte sobre o Rio Tocantins, foi empregado o sistema de balanços progressivos em concreto protendido, desenvolvido pelo engenheiro Emílio Henrique Baumgart (sendo que Souza foi um de seus auxiliares[16]).[17] Enquanto as extremidades da ponte foram construídas em concreto armado, o vão central de 140 m foi construído em concreto protendido.[18]

A ponte sobre o Rio Tocantins tinha previsão de abertura para dezembro de 1960, porém foi inaugurada em 29 de janeiro de 1961 pelo presidente Juscelino Kubitschek.[19] A obra foi considerada por Kubitschek como uma das maiores realizações de seu governo.[20]

Um ano depois, na gestão Jânio Quadros, a obra foi acusada de superfaturamento.[11] Após a abertura da ponte, a população de Estreito subiu de 2 mil para 15 mil habitantes. O crescimento populacional desordenado fez com que em 1964 surgisse uma epidemia de malária na região.[21]

Desabamento

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Ponte após o desabamento, em dezembro de 2024

Relatórios do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) desde 2019 mostravam que a ponte já dava sinais de desgaste. A estrutura era classificada no nível 2 de conservação, com sinal amarelo, sendo 1 o pior índice e 5 a melhor conservação, segundo o Índice de Condição de Manutenção. A classificação nível 2 indica possibilidade de problemas estruturais ou funcionais nessas pontes, requerendo ação prioritária. Danos no concreto, armaduras expostas, falhas nos pilares e outros danos são alguns dos problemas apresentados por pontes nessa categoria de índice do ICM.[22]

No dia 22 de dezembro de 2024, a ponte desabou.[23][24] De acordo com as autoridades, três caminhões, três motos e um carro estavam sobre a ponte no momento do colapso. Duas pessoas morreram e outras dezesseis estão desaparecidas.[25][26][27] Um vereador que denunciava a má condição da ponte em um vídeo acabou gravando o desabamento da ponte.[28][29]

No desabamento, além de outros veículos que caíram, duas carretas que transportavam 76 toneladas de ácido sulfúrico e 22 mil litros de agrotóxicos também caíram no rio Tocantins, contaminado as águas e causando uma enorme catástrofe ambiental, fazendo com que todas as localidades a jusante da ponte emitissem alertas de contaminação por consumo de águas e fontes proteicas do rio.[30]

A ponte ferroviária vizinha, Ponte Ferroviária Estreito-Aguiarnópolis, permaneceu intacta ao desabamento.[31]

Referências

  1. Obituário (9 de agosto de 2002). «Sérgio M. de Souza: diretor-presidente da Sobrenco». Jornal do Brasil, ano 112, edição 123, página C4. Consultado em 24 de dezembro de 2024 
  2. «Flagrante Ponte que liga Tocantins ao Maranhão desaba». Blog do Jadson Nascimento. 23 de dezembro de 2024 
  3. «Ponte que liga Tocantins ao Maranhão desaba; veja sugestão de desvio». Voz do Bico. 22 de dezembro de 2024 
  4. «Página Inicial». Ministério da Infraestrutura. Consultado em 18 de setembro de 2021 
  5. «Correio dos Estados». Correio da Manhã, ano, edição, página. 30 de novembro de 1955 
  6. Câmara dos Deputados. «Projeto de Lei da Câmara n° 392, de 1956». Senado Federal. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  7. Fundação Getúlio Vargas. «KUBITSCHEK, Juscelino». Atlas Histórico do Brasil. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  8. «Engenheiro falará sobre estudos ecobatimétricos». Última Hora, ano VIII, edição 2518, página 2. 17 de setembro de 1958. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  9. «Conferências: Estudo ecobatimétrico da ponte sobre o Rio Tocantins». Correio da Manhã, ano LVIII, edição20086, página 14. 18 de setembro de 1958. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  10. a b Alves de Castro (24 de janeiro de 1959). «Cassacos rasgam na selva a Rodovia Belém-Brasília». Mundo Ilustrado, ano II, edição 57, página 9. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  11. a b c «Irregularidades na Belém-Brasília». Correio Braziliense, edição 291, página 9. 7 de abril de 1961. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  12. Nildo Carlos de Oliveira (2 de dezembro de 2014). «Um gesto na história da engenharia». O Empreiteiro. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  13. «Modernos equipamentos de manejo». Correio da Manhã, ano LXI, edição 21197, página 19. 6 de maio de 1962 
  14. a b Evaristo Cardoso (20 de novembro de 1960). «Estradas pioneiras do Brasil». Correio Braziliense, ano CLII, edição 178, 4º Caderno, página 8. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  15. «Maior ponte do mundo: Guamá». Correio Braziliense, edição 192, página 6. 8 de dezembro de 1960. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  16. Angelina Wittmann. «Quem foi Emil Heinrich Baumgart, criador da Ponte dos Arcos de Indaial e pai do concreto armado no Brasil». O Município de Blumenal. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  17. «Ponte e túnel da Barra têm início a 31». Correio da Manhã, ano LXVIII, edição 23246, página 7. 19 de janeiro de 1969. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  18. «Patrimônio que é invejável». Jornal do Brasil, ano LXXXV, edição 282, página 14. 17 de janeiro de 1976. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  19. «JK fez as despedidas na selva: nova ponte». Diário Carioca, ano XXXIII, edição 10002, página 1. 31 de janeiro de 1961. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  20. «32800 metros de pontes e viadutos». Manchete, ano 7, edição 407, página 42. 6 de fevereiro de 1960. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  21. «Falta total de gêneros no território do Amapá: Epidemia». Jornal do Commércio (RJ), ano 137, edição 261, página 3. 12 de agosto de 1964 
  22. Mundo, Diario do Centro do (23 de dezembro de 2024). «À frente do DNIT, Tarcísio sabia de problemas em ponte que caiu entre MA e TO e nada fez». Diário do Centro do Mundo. Consultado em 25 de dezembro de 2024 
  23. «URGENTE: Ponte JK entre Estreito-MA e Aguiarnópolis desaba». Folha do Bico. 22 de dezembro de 2024. Consultado em 22 de dezembro de 2024 
  24. Luana Viana (22 de dezembro de 2024). «Ponte entre Tocantins e Maranhão desaba; há relatos de vítimas. Vídeo». Metrópoles. Consultado em 22 de dezembro de 2024 
  25. «Queda de ponte entre Maranhão e Tocantins deixa dois mortos e oito desaparecidos». G1. 22 de dezembro de 2024. Consultado em 22 de dezembro de 2024 
  26. «16 pessoas seguem desaparecidas após ponte entre Maranhão e Tocantins desabar; uma morte foi confirmada». G1. 23 de dezembro de 2024. Consultado em 24 de dezembro de 2024 
  27. «Contaminação com ácido sulfúrico dificulta buscas por desaparecidos no colapso de ponte na divisa do Tocantins com o Maranhão». G1. 23 de dezembro de 2024. Consultado em 24 de dezembro de 2024 – via Jornal Nacional 
  28. «Vereador que gravou exato momento da queda da ponte entre Tocantins e Maranhão diz que está em choque: 'Sem acreditar'». G1. 23 de dezembro de 2024. Consultado em 23 de dezembro de 2024 
  29. «Dnit sabia que ponte na divisa entre Tocantins e Maranhão precisava de reparos e lançou edital meses antes do colapso». O Globo. 23 de dezembro de 2024. Consultado em 24 de dezembro de 2024 
  30. «Agência Nacional de Águas monitora contaminação por produtos químicos no rio após queda de ponte entre MA e TO». São Luís: G1 MA. 24 de dezembro de 2024 
  31. «VLI não vê impacto de queda de ponte rodoviária em operações de Porto Franco». Terra. Consultado em 24 de dezembro de 2024 – via Reuters 

Ligações externas

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