Ambrósio Fernandes Brandão
Ambrósio Fernandes Brandão (Portugal, 1555 — 1618) foi um senhor de engenho e escritor português, que viveu no Brasil Colonial entre os séculos 16 e 17 e deixou a célebre obra Diálogos das grandezas do Brasil, na qual narra sua estada em terras brasileiras.[1] Cristão-novo perseguido pela Inquisição, Brandão estabeleceu-se na Paraíba, onde escreveu esses diálogos e onde também foi senhor de engenho, além de um dos feitores ou escrivães de Bento Dias Santiago de Pernambuco e Itamaracá.[2][3] Capistrano de Abreu, a quem se deve a comprovação da autoria da obra, deu relevo aos aspectos humanísticos e científicos da narrativa de Brandão.[2][4]
Ambrósio Fernandes Brandão | |
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Nascimento | 1555 |
Morte | 1618 (aprox.) |
Nacionalidade | Portugal |
Explorador-historiador
editarAcusação e viagem ao Brasil
editarNascido em 1555, Ambrósio residiu em Lisboa e foi acusado da prática de judaísmo. Na denúncia consta que todas as pessoas de sua família eram letradas, desde a esposa, Ana, até a irmã, Joana Batista, e o filho, Duarte. Embora ele tenha sido denunciado perante a Mesa do Santo Ofício em 8 de outubro de 1591,[5] não há, contudo, notícia de que tenha sido processado pela Inquisição.
Após a denúncia, ele viajou para o Brasil, onde viveu durante vinte e cinco anos, primeiro em Olinda (de 1583 a 1597), depois na Paraíba como senhor de engenho (de 1607 a 1618), segundo frei Vicente do Salvador narrou em seus escritos: «Antes de 1613 estabeleceu-se na Paraíba (...).[6] No Brasil, como cristão novo, Ambrósio foi denunciado pelo padre Francisco Pinto Doutel, vigário de São Lourenço, perante a Mesa do Santo Ofício, na Bahia, a 8 de outubro de 1591, acusado de frequentar a esnoga de Camarajibe.[6]
Livro célebre
editarEm 1618 ele conclui a obra Diálogos das grandezas do Brasil, cuja escrita em forma de diálogo era bastante comum na Europa desde a Renascença. Sobre tal obra, o historiador José Honório Rodrigues em seu livro História da história do Brasil teceu as seguintes considerações:
A crônica mais positiva, a descrição mais viva, o flagrante mais exato da vida, da sociedade, da economia dos moradores do Brasil.[5]
Francisco Adolfo de Varnhagen descobriu o texto do livro na Biblioteca de Leida, nos Países Baixos, da qual fez uma cópia em 1874 que serviu para a publicação brasileira de 1930, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, com introdução de Capistrano de Abreu e notas de Rodolfo Garcia.[6] Num dos trechos do livro, confrontado pelo seu interlocutor do porquê de no Brasil haver tanta plantação de cana-de-açúcar, em detrimento de outras culturas, Fernandes Brandão relata:
(...) no Brazil seus moradores se ocupam somente na lavoura das canas-de-açúcar, podendo-se ocupar em outras muitas cousas. (...) a terra é disposta para se haver de fazer nela todas as agriculturas do mundo pela sua muita fertilidade, excelente clima, bons céus, disposição do seu temperamento, salutíferos ares e outros mil atributos que se lhe ajuntam.»[7]
Tal obra só viria a ser formalmente publicada mais trezentos anos após escrita por influência do historiador Capistrano de Abreu.[4]
Bibliografia crítica
editar- Costigan, Lúcia Helena.Through Cracks in the Wall: Modern Inquisitions and New Christian Letrados in the Iberian Atlantic World. Leiden: Brill, 2010.
- Lins, Guilherme Gomes da Silveira d’Avila. Levantamento das publicações dos Diálogos das grandezas do Brasil com algumas notas sobre o seu mais do que provável autor. João Pessoa: Empório dos Livros, 1994.
- Mello, José Antônio Gonsalves de. Gente da Nação: Cristãos Novos e Judeus em Pernambuco (1542-1654). Fundação Joaquim Nabuco - Editora Massangana, 1989.
- Mordoch, G. "Um cristão-novo nos trópicos: expansão imperial e identidade religiosa nos Diálogos das grandezas do Brasil de Ambrósio Fernandes Brandão". Colonial Latin American Review, Volume 25, 2016 - Issue 2 (2016), 200-219 (acessado em 24/12/2017).
- Santos, Carlos Alberto dos. O olhar cristão-novo de Ambrósio Fernandes Brandão nos Diálogos das grandezas do Brasil. Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, 2007.
- Silva, Kalina Vanderlei. "O sertão na obra de dois cronistas coloniais: a construção de uma imagem barroca (séculos XVI–XVII)", Estudos Ibero-Americanos 32-2 (2006), 43–63 (acessado em 24/12/2017).
- Simões, Manuel G. "Dialogismo e narração nos Diálogos das Grandezas do Brasil", em O olhar suspeitoso: viagens e discurso literário, Lisboa: Edições Colibri, 2001, 71–84.
- Windmüller, Käthe. "Omissão como confissão: Os Diálogos das grandezas do Brasil de Ambrósio Fernandes Brandão", Inquisição: Ensaios sobre mentalidade, heresias e arte, organização de Anita Novinsky e Maria Luiza Tucci Carneiro, São Paulo: Expressão e Cultura – Edusp, 1992, 408–17.
Referências
editar- ↑ VAINFAS, Ronaldo (2000). Dicionário do Brasil colonial, 1500–1808. [S.l.]: Objetiva. 594 páginas. ISBN 9788573023206
- ↑ a b Adm. do portal web (2010). «Diálogos das grandezas do Brasil». Conselho Editorial do Senado Federal. Consultado em 15 de fevereiro de 2015. Arquivado do original em 15 de fevereiro de 2015
- ↑ Base de Datos BRASILHIS. «Ambrósio Fernandes Brandão». Consultado em 24 de dezembro de 2017
- ↑ a b MONTEIRO, Clóvis (1961). Esboços de história literária. [S.l.]: Livraria Acadêmica, Rio de Janeiro. pp. 81–83
- ↑ a b RODRIGUES, José Honório (1979). História da história do Brasil: Historiografia colonial. [S.l.]: Companhia Editora Nacional. 200 páginas. ISBN 9788504002140
- ↑ a b c MONTEIRO, Clóvis (1961). Esboc̜os de história literária. [S.l.]: Livraria Acadêmica. 292 páginas
- ↑ Confraria do IAGP (1883). «Descrição geral da capitania da Paraíba». Revista do Instituto Archeológico e Geográphico Pernambucano (IAGP). Consultado em 15 de fevereiro de 2015