Autorretrato
Autorretrato (pré-AO 1990: autorretrato), muitas vezes é definido em História da Arte, como um retrato (imagem, representação), que o artista faz de si mesmo, independente do suporte escolhido. Reconhece-se, em geral, a partir da renascença italiana, que este tipo de autorrepresentação passou a ser cada vez mais frequente, chegando à obsessão de um Rembrandt - quase uma centena - ou de uma Vigée-Lebrun.[1][2] [3]
Autorretrato, contudo, não se restringe ao campo das arte visuais. A autorretratística é um fenômeno, um campo de estudos que abrange diversas disciplinas[4].
Seja ou não este produto, reconhecido no campo artístico como inserido nesta categoria. O autorretrato é uma forma de estudo anatômico, embora alguns deles apresentem alegorias, caricaturas e também expressem condições emocionais específicas a exemplo de Frida Kahlo (1907 - 1954) com seus auto-retratos com macacos [5] ou Goya, 1820 que incluiu em seu autorretrato o seu amigo Arrieta lhe auxiliando durante a enfermidade que padeceu no ano anterior ao da pintura, quando possuía 73 anos de idade. Para Novaes [6] o autorretrato é um instantâneo do momento em que o sujeito se encontra, mas não por muito tempo. Em última análise, pode-se traduzi-lo como uma metáfora da contemporaneidade e suas identidades nômades.
Estilos de época e características pessoais
editar- É comum encontrar em textos referentes à autorretratística, a afirmação de que a produção de autorretratos é presente na antiguidade clássica. Cita-se constantemente o escultor Fídias, do século V a.C., o qual teria deixado no Partenon, em Atenas, sua imagem esculpida; antes, no Antigo Império Egípcio, um certo Ni-ankh-Phtah, teria deixado sua fisionomia gravada em monumento, ou ainda, considera-se eventualmente, que em culturas pré-literárias já havia quem os produzisse. O mesmo é dito a propósito do período medieval, época na qual procuram-se autorretratos (e alguns afirmam encontrar) em manuscritos destinados aos mais variados propósitos: em iluminuras religiosas, principalmente.[7].
Atribui-se ao desenvolvimento ao refinamento da técnica de fabricação de espelhos, na industria do vidro em Veneza, fixar a partir do século XV, o gênero autorretrato, o que como assinala Teixeira [3] não escapa da ideia de imagem refletida (espelho) já presente no mito de Narciso.
Os estudos exclusivamente versando sobre autorretratos e a atenção a eles dispensados, entretanto, só têm início no século XX: década de 1920, especificamente. Trabalhos mais rigorosos e aprofundados só aparecerão na década de 1950, mas, neste período, as peculiaridades do fazer artístico e o pensamento sobre ele esfacelam as noções do que seria um autorretrato e o seu enquadramento como gênero artístico advindas dos séculos anteriores. Como entender e classificar um "autorretrato" de Mattia Moreni ou das "caricaturas" de Keith Haring
Analisando os mais de cinquenta autorretratos de Frida Kahlo Querido [8] observa que são praticamente sua autobiografia. Segundo esta autora cada um deles corresponde a uma época de sua vida e espelha os sentimentos intensos que marcaram sua forma de ver o mundo, sua identidade: há a Frida europeia; a Frida tehuana; a Frida ativista política; a Frida dilacerada pela dor; a Frida pós-aborto e massacrada pela ideia de não poder ser mãe; a Frida pós-separação; a Frida filha; e a Frida esposa.
Na pintura brasileira, Eliseu Visconti certamente foi um dos artistas que mais se autorretrataram. Estima-se que tenha executado cerca de quarenta autorretratos, representativos das diversas fases de sua produtiva carreira artística[9]. Também José Pancetti, Guignard e Ismael Nery produziram vários e interessantes trabalhos em pintura ou desenho se autorretratando[10].
Autorretrato na Literatura
editarNão somente nas artes plásticas a autorretratística está presente. Na literatura a chamada Literatura Confessional, estreitamente associada à expressão da intimidade, emerge como uma prática discursiva em que o sujeito de enunciação toma a si mesmo como objeto de conhecimento. Suas raízes remontam tanto ao exame de consciência cristão, como exemplificado nas Confissões de Santo Agostinho, quanto à tradição filosófica e literária secular, que ganha relevância a partir do Iluminismo, especialmente com Jean-Jacques Rousseau. Este, em sua obra precursora As Confissões (1782), inaugura uma nova forma de autoexame, marcada por uma sinceridade sem precedentes, em que o eu se defronta não mais com o julgamento divino, mas com a hipocrisia social[11].
Galeria
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Albrecht Dürer, 1498
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Leonardo da Vinci, 1515
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Lucas Cranach, 1550
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Judith Leyster, 1630
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Rembrandt, 1669
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Goya, 1820
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Eugène Delacroix, 1837
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Degas, 1854
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Castro Alves, 18...
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Claude Monet, 1886
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Van Gogh, 1888
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Paul Gauguin, 1893
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Pedro Américo, 1893
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Eliseu Visconti, 1902
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Edvard Munch, 1904
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Natalia Goncharova, 1907
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Egon Schiele, 1910
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Kazimir Malevich, 1910/11
Portugal
editarReferências
- ↑ RANGEL, Cláudio José Aarão. Por uma História da Auto-retratística no Brasil: em busca da I Exposição Brasileira de Auto-retratos no MNBA, pg 11.
- ↑ FERRAZZA, Laura. A construção do homem moderno: o retrato renascentista O Estado da Arte. Estadão 19/03/2020 https://estadodaarte.estadao.com.br/construcao-homem-arte-renascentista/ Acesso: 4/03/2022
- ↑ a b TEIXEIRA, Lucia. Sou, então, pintura: em torno de autorretratos de Iberê Camargo. Alea: Estudos Neolatinos [online]. 2005, v. 7, n. 1 [Acessado 4 Março 2022] , pp. 123-138. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1517-106X2005000100008>. Epub 17 Out 2005. ISSN 1807-0299. https://www.scielo.br/j/alea/a/5czCZL9PjptnzGrKzFj6Srf/?lang=pt
- ↑ Conf. Scholar Google, categoria self-portraiture (em inglês)
- ↑ Siqueira-Batista, R., Mendes, P. D., Fonseca, J. de O., & Maciel, M. de S. (2014). Art and pain in Frida Kahlo. Revista Dor, 15(2). doi:10.5935/1806-0013.20140018
- ↑ NOVAES, Joana de Vilhena. Autorretrato falado: Construções e desconstruções de si. Lat. Am. j. fundam. psychopathol. on line, São Paulo, v. 4, n. 2, nov. 2007 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-03582007000200002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 21 set. 2013.
- ↑ RANGEL, Cláudio J. A.. Por uma História da Auto-retratística no Brasil. Niterói: Unilasalle, 2004, pg. 11.
- ↑ QUERIDO, Alessandra Matias. Autobiografia e autorretrato: cores e dores de Carolina Maria de Jesus e de Frida Kahlo. Rev. Estud. Fem., Florianópolis , v. 20, n. 3, Dec. 2012 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2012000300016&lng=en&nrm=iso>. access on 21 Sept. 2013.
- ↑ Cavalcante, Ana M. T.. O Impressionismo, o Simbolismo e o ¨Presentismo¨ nos Autorretratos de Eliseu Visconti. 40º Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte. UFRJ, 2020
- ↑ Autorretrato. Verbete. Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 24 de setembro de 2024
- ↑ Cabral, Eunice. "Literatura Confessional". In: E-Dicionário de Termos Literários. Fundação para a Ciência e Tecnologia, 30/12/2009
Bibliografia
editar- Coleção Mestres da Pintura: Dürer. São Paulo: Abril, 1978.
- MITTELSTÄDT, K.. Gauguin, Self-portaits. London: Cassirer Oxford, s.d..
- PANOFSKY, E.. Significado nas Artes Visuais. São Paulo: Perspectiva, 2002.
- GOMBRICH, E. H.. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
- RANGEL, Cláudio José Aarão. Por uma História da Auto-retratística no Brasil: em busca da I Exposição Brasileira de Auto-retratos no MNBA. Niterói: UniLaSalle, 2004.
Ver também
editarLigações externas
editar- «Museu Rembrandt» (em inglês) =
- «Frida Kahlo» (em inglês) Sitio oficial (em espanhol)
- «Autorretratos de Eliseu Visconti»
- «Mattia Moreni – Il percorso interrotto. Ultimo decennio 1985-1998» (em italiano)
- Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais Auto-Retrato (em português) Set. 2013