Deuses olímpicos

entidades divinas da religião helênica

Os doze deuses olímpicos, também conhecidos como o dodecateão (em grego: Δωδεκάθεον < δώδεκα; romaniz.: Dodekatheon,[1] dōdeka, "doze" + θεοί, theoi, "deuses"), na religião helênica, eram os principais deuses do panteão grego, residentes no topo do monte Olimpo.

Os Doze Deuses Olímpicos
Por Nicolas-André Monsiau, em finais do século XVIII

Os deuses olímpicos moravam em um imenso palácio, em algumas versões de cristais, construído no topo do monte Olimpo, uma montanha que ultrapassaria o céu. Alimentavam-se de ambrosia e bebiam néctar, alimentos exclusivamente divinos, ao som da lira de Apolo, do canto das musas e da dança das graças. Apesar de nunca haver se acabado por completo, e tendo permanecido oculto na maior parte da Grécia devido à perseguição político-religiosa que sofreu, o culto dos deuses olímpicos tem sido restaurado de forma mais explícita na Grécia desde os anos 1990, através do movimento religioso conhecido como dodecateísmo.[2]

A primeira referência antiga a cerimónias religiosas em sua honra encontra-se no Hino homérico dedicado a Hermes. A composição clássica dos doze deuses olímpicos (o doze canónico da arte e da poesia) inclui os seguintes deuses: Zeus, Hera, Posidão, Atena, Ares, Deméter, Apolo, Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes e Dioniso. Os doze deuses romanos correspondentes eram Júpiter, Juno, Neptuno, Minerva, Marte, Ceres, Febo, Diana, Vulcano, Vénus, Mercúrio e Baco.[3] Hades (no panteão romano, Plutão) não era geralmente incluído nesta lista. Não tinha assento no panteão porque passava a maior parte do seu tempo no Hades. Também costuma aparecer entre os doze Héstia (entre os romanos, Vesta), no lugar de Dioniso.

A composição do grupo dos doze olímpicos, contudo, varia substancialmente entre os autores da antiguidade. Heinrich Wilhelm Stoll considera, mesmo, que a limitação ao número de doze é uma ideia relativamente moderna[4] Por volta de 400 a.C., Heródoto incluía na sua composição do Dodekatheon as seguintes divindades: Zeus, Hera, Posidão, Hermes, Atena, Apolo, Alfeu, Cronos, Reia e as graças.[5] Wilamowitz concorda com a versão de Heródoto.[6]

Heródoto inclui, em Histórias II, 43, Hércules como um dos doze.[7] Luciano de Samósata também inclui Hércules e Esculápio como membros dos doze, sem, contudo, referir quais os deuses que para eles tiveram de abdicar. Em Cós, Hércules e Dioniso juntam-se aos doze, prescindindo-se de Ares e Hefesto.[8] Contudo, Píndaro, Pseudo-Apolodoro,[9] e Heródoto discordam desta versão, sustentando que Hércules não era um dos doze deuses, mas aquele que estabeleceu o seu culto.[5]

Platão relacionava os doze deuses ao número de meses do ano, e propôs que o último mês fosse dedicado aos rituais em honra de Plutão e dos espíritos dos mortos, o que implica que ele mesmo considerasse Hades como sendo um dos doze.[10] Hades não consta das versões posteriores deste grupo de deuses devido a associações ctónicas óbvias.[11] Em Fedro Platão faz corresponder os doze com o Zodíaco e exclui Héstia.[12]

Hebe, Hélio e Perséfone são também incluídos, por vezes, no grupo. Eros também é por vezes referido ao lado dos doze, especialmente com a sua mãe, Afrodite, mas raramente é considerado como um dos olímpicos.

Os doze olímpicos obtiveram a sua supremacia no mundo dos deuses, depois de Zeus ter conduzido os seus irmãos, Hera, Posidão, Deméter e Héstia, à vitória na guerra com os titãs. Ares, Hermes, Hefesto, Afrodite, Atena, Apolo, Ártemis, as graças, Hércules, Dioniso, Hebe e Perséfone eram, por sua vez, filhos de Zeus, ainda que algumas versões dos mitos sustentem que Hefesto era filho apenas de Hera e que Afrodite era filha de Urano.

Olímpicos clássicos

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Os catorze deuses e deusas mais frequentemente listados como pertencendo aos doze olímpicos.

Nome grego Estátua Descrição Geração
Zeus   Rei dos deuses e governante do monte Olimpo, deus do céu, do relâmpago, do trovão e das tempestades, comandante dos ventos e das nuvens, deus da lei, da ordem e da justiça. O filho mais novo dos titãs Cronos e Reia. Símbolos: o raio, a águia e o carvalho. Primeira
Hera   Rainha dos deuses. Deusa do casamento, maternidade e das mulheres. Símbolos: o cuco, o pavão, a vaca e a romã. Filha de Cronos e Reia. Esposa e irmã de Zeus. Primeira
Posidão   Deus dos mares, dos terramotos e dos cavalos. Símbolos: hipocampo, golfinho e tridente. Filho de Cronos e Reia. Irmão de Zeus e Hades. Primeira
Deméter   Deusa da agricultura, da natureza e das estações do ano. Símbolos: papoula e cereais. Filha de Cronos e Reia, irmã de Zeus. Primeira
Hades   Deus dos mortos, dos infernos e das riquezas da Terra. Símbolos: Elmo da escuridão, um bidente, um crânio e monstro de 3 cabeças. Filho do titã Cronos e de Reia. Irmão de Zeus e Posidão. Primeira
Héstia   Deusa virgem do lar e da lareira. Símbolo: Lareira. Filha de Cronos e Reia, e irmã de Zeus. Primeira
Afrodite   Deusa do amor, da beleza e da sexualidade. Filha de Urano e Talassa. Símbolos: a pomba e o espelho. dos titãs [A]
Apolo   Deus do Sol, da cura, da peste, das artes, profecia e do tiro com arco. Símbolos incluem a lira e o arco. Ártemis é sua irmã gémea. Filho de Zeus e de Leto. Segunda
Ares   Deus da guerra. Símbolos incluem o javali e a lança. Filho de Zeus e Hera. Segunda
Ártemis   Deusa virgem da caça, florestas, vida selvagem, lua e protetora das meninas. Símbolos incluem o veado e o arco. Irmã gémea de Apolo, filha de Zeus e de Leto. Segunda
Atena   Deusa virgem da sabedoria, ofícios e estratégia militar. Símbolos são a oliveira e o mocho. Filha de Zeus, de acordo com algumas tradições, com Métis. Segunda
Dioniso   Deus do vinho, das festas e do êxtase. O seu símbolo é a pantera e a videira. Filho de Zeus e da mortal Sémele. Segunda
Hefesto   Ferreiro dos deuses; deus do fogo e da metalurgia. Filho de Zeus e Hera ou, de acordo com algumas tradições, apenas de Hera. Segunda
Hermes   Mensageiro dos deuses; deus do comércio e dos ladrões. Símbolos incluem o caduceu e as botas com asas. Filho de Zeus e da ninfa Maia. Segunda

Outros Olímpicos

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Ainda que não pertençam à lista clássica dos Doze Olímpicos, os seguintes deuses menores são servos ou filhos dos doze grandes, sendo muita vezes retratados junto com eles:

  • Alfeu - Deus-rio
  • Os erotes - Eros, Anteros.[13] Filhos de Afrodite
  • Esculápio - Deus da medicina e da saúde
  • As graças - Deusas dos banquetes, das festas, beleza e natureza. Filhas de Zeus e de Eurínome, na versão comum [14]
  • Hebe - Deusa da juventude, copeira dos deuses. Filha de Zeus e de Hera [15]
  • Héracles - O maior herói dos mitos gregos
  • Ilícia - Deusa do parto, filha de Hera e de Zeus
  • - Deus da natureza selvagem, dos pastores e dos animais
  • Perséfone - Deusa da Primavera e rainha dos Infernos, filha de Deméter e esposa de Hades
  • Bia - Personificação da violência
  • Cratos - Personificação do poder
  • Dione - Deusas das ninfas. Em algumas tradições, mãe de Afrodite, com Zeus.
  • Eos - Personificação do amanhecer
  • Éris - Deusa da discórdia
  • Fobos - Deus do medo e filho de Ares.
  • Ganímedes - Copeiro dos deuses no palácio do Olimpo.
  • Hécate - Deusa associada à magia, bruxas e feitiços
  • Hipnos - deus do sonos eternos
  • Horas - Porteiras do Olimpo
  • Íris - Personificação do Arco-íris, também mensageira do Olimpo, juntamente com Hermes
  • Morfeu - Deus dos sonhos
  • Musas - Nove senhoras das ciências e das artes
  • Némesis - Deusa grega da vingança
  • Nice - Deusa da vitória
  • Péon - Médico dos deuses
  • Perseu - Filho de Zeus, o lendário fundador de Micenas e da dinastia perseida
  • Tânato - Personificação da morte
  • Ventos - Bons ventos: Bóreas (vento norte), Noto (vento sul), Zéfiro (vento oeste), Euro (vento leste)
  • Zelo - Rivalidade
Notas
  • A ^ De acordo com uma versão alternativa do seu nascimento, Afrodite teria nascido de Urano, avô de Zeus, — depois de Cronos ter atirado os seus genitais amputados ao mar. Esta versão sustenta a etimologia do seu nome, "nascida da espuma". Como tal, Afrodite pertenceria à mesma geração que Cronos, pai de Zeus, sendo, tecnicamente, sua tia.
  • B ^ Os Romanos costumavam associar Febo a Hélio e ao próprio Sol.[16][17] Contudo, usavam também o nome legado pelos Gregos, Apolo.[18]

Referências

  1. Usado de maneira comparativamente mais rara no grego bizantino, por autores como Nicéforo Calisto Xantópulo, Atanásio de Alexandria e Ducas
  2. «O retorno do culto aos deuses olimpicos» (em inglês). Consultado em 20 de Outubro de 2014 
  3. «Greek mythology». Encyclopedia Americana. 13. 1993. p. 431 
    * «Dodekatheon». Papyros-Larousse-Britanicca (em grego). 2007 
  4. Stoll, Heinrich Wilhelm (1852). Handbook of the religion and mythology of the Greeks (em inglês). Londres: Francis and John Rivington. 8 páginas 
  5. a b «Dodekatheon». Papyros-Larousse-Britanicca (em grego). 2007 
  6. Wilamowitz-Moellendorff, Ulrich von. Der Glaube der Hellenen (Volume 1) (em alemão). Berlin: Weidmansche Buchhandlung. 329 páginas 
  7. Heródoto (1854). Herodotus : a new and literal version from the text of Baehr (em inglês). London: Henry G. Bohn. 112 páginas 
  8. Berger-Doer, Gratia (1986). «Dodekatheoi». Lexicon Iconographicum Mythologiae Classicae. 3. pp. 646–658 
  9. Pindar, Olympian Odes, 10.49
  10. Plato, As Leis, 828 d-e
  11. «Greek mythology». Encyclopedia Americana. 13. 1993. p. 431 
  12.  , Plato: Phaedrus, 246 e-f
  13. «Eros» (em inglês). Consultado em 22 de Outubro de 2014 
  14. «Graças» (em inglês). Consultado em 22 de Outubro de 2014 
  15. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, 1.3.1
  16. North John A., Beard Mary, Price Simon R.F. "The Religions of Imperial Rome". Classical Mythology in English Literature: A Critical Anthology. (Cambridge University Press, 1998), p.259. ISBN 0-521-31682-0.
  17. Hacklin, Joseph. "The Mythology of Persia". Asiatic Mythology (Asian Educational Services, 1994), p.38. ISBN 81-206-0920-4.
  18. Ovídio, Met. I 441, 473, II 454, 543, 598, 612, 641, XII 585, XVIII 174, 715, 631, et al.

Ligações externas

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