Discípulos de Emaús
Discípulos de Emaús é uma das primeiras aparições de Jesus após a ressurreição, logo após a sua crucificação e à descoberta do túmulo vazio.[1][2] Tanto o "Encontro na estrada para Emaús" quanto o subsequente Jantar em Emaús, que relata uma refeição que Jesus teve com os dois discípulos após o encontro na estrada, se tornaram temas muito populares na arte. Adicionalmente, o evento se tornou um ponto de inspiração para batizar diversos movimentos religiosos, serviços e atividades cristãs.
O episódio está descrito em Lucas 24:13–35, onde se lê também a expressão “fica conosco, Senhor” (em latim: Mane nobiscum Domine), que inspirou diversos textos, orações e canções.
Narrativa bíblica
editarO Evangelho de Lucas descreve um encontro na estrada e uma refeição posterior, narrando como um discípulo de nome Cléopas estava viajando em direção a Emaús com um colega quando eles se encontraram com Jesus. A princípio, eles não o reconheceram e discutiram a tristeza que sentiam com os eventos recentes (a morte de Jesus). Eles o convenceram então a segui-los e a juntar-se a eles numa refeição, durante a qual eles o reconheceram.
Em Marcos 16:12–13 há um relato similar, que descreve a aparição de Jesus a dois discípulos enquanto eles estavam andando numa zona rural, quase que no mesmo ponto da narrativa evangélica,[3] embora Marcos não nos dê o nome e nem o destino destes discípulos:
“ | «Depois disto manifestou-se sob outra forma a dois deles que iam a caminho para o campo. Eles foram anunciá-lo aos mais, mas nem a estes deram crédito.» (Marcos 16:12–13) | ” |
O Evangelho de Lucas afirma que Jesus ficou com os discípulos e jantou com eles após o encontro na estrada:
“ | «Aproximando-se da aldeia para onde iam, deu ele a entender que ia para mais longe. Mas eles o constrangeram, dizendo: Fica em nossa companhia, porque é tarde e o dia já declinou. Ele entrou para ficar com eles.» (Lucas 24:28–29) | ” |
A narrativa detalhada deste episódio é geralmente considerada como uma das melhores narrativas de uma cena bíblica no Evangelho de Lucas.[4] No relato, quando Jesus apareceu a Cléopas e o outro discípulo, a princípio os "olhos deles não o puderam reconhecer". Posteriormente, quando Jesus, "estando com eles à mesa, tomando o pão, deu graças, e, partindo-o, dava-lhes", eles o reconheceram. B. P. Robinson argumenta que isto significa que o reconhecimento ocorreu durante a refeição,[5] mas Raymond Blacketer nota que "Muitos, talvez a maioria, comentaristas, antigos, modernos e entre eles, enxergaram na revelação da identidade de Jesus durante a quebra do pão como tendo alguma forma de referência ou implicação eucarística".[6]
Muitos dos gnósticos acreditavam que Jesus, não sendo de fato humano, seria capaz de mudar sua aparência à vontade e que estes relatos, juntamente com outros nos apócrifos gnósticos, suportam essa crença.[7]
Na arte
editarTanto o encontro na estrada como o subsequente jantar foram representados na arte, mas este último recebeu mais atenção. A arte medieval tende a mostrar o momento antes do reconhecimento de Jesus; Cristo geralmente veste um grande e pomposo chapéu para ajudar a explicar a falha em reconhecê-lo dos discípulos. Este é em geral um grande chapéu de peregrino com um broche ou, mais raramente, um chapéu judeu.
A pintura do jantar de Rembrandt (1648), atualmente no Louvre,[8] se desenvolve sobre um rascunho que ele fez seis anos antes, no qual o discípulo a sua esquerda havia levantado com as mãos juntas em oração. Em ambas, os discípulos estão espantados, maravilhados, mas não com medo. O servo ignora completamente o momento teofânico que ali acontece.[9]
Ambas versões de Caravaggio, a de Londres[10] e a de Milão,[11] que têm seis anos de diferença entre si, imitam a cor natural muito bem, mas foram criticadas por falta de decoro. O pintor mostrou Jesus sem a barba e a pintura de Londres mostra frutas sobre a mesa que estariam fora de estação. Além disso, o estalajadeiro aparece servindo vestindo um chapéu.[12]
Entre outros artistas que pintaram o jantar estão Jacopo Bassano, Pontormo, Vittore Carpaccio, Philippe de Champaigne, Albrecht Dürer, Benedetto Gennari, Jacob Jordaens, Marco Marziale, Pedro Orrente, Tintoretto, Ticiano, Velázquez e Paolo Veronese. O jantar também foi tema escolhido por um dos mais bem-sucedidos falsários de Vermeer, Han van Meegeren.
Ver também
editar- A Ceia em Emaús (por Caravaggio)
- Abbé Pierre
- Harmonia evangélica
Referências
- ↑ Luke by Fred B. Craddock 1991 ISBN 0-8042-3123-0 page 284
- ↑ Exploring the Gospel of Luke: an expository commentary by John Phillips 2005 ISBN 0-8254-3377-0 pages 297-230
- ↑ Catholic Comparative New Testament by Oxford University Press 2006 ISBN 0-19-528299-X page 589
- ↑ Luke for Everyone by Tom Wright, 2004 ISBN 0-664-22784-8 page 292
- ↑ B. P. Robinson, "The Place of the Emmaus Story in Luke-Acts," NTS 30 [1984], 484.
- ↑ Raymond A. Blacketer, "Word and Sacrament on the Road to Emmaus: Homiletical Reflections on Luke 24:13-35," CTJ 38 [2003], 323.
- ↑ Hoeller, pp. 64-65
- ↑ Ficheiro:Rembrandt Harmensz. van Rijn 023.jpg
- ↑ The Biblical Rembrandt by John I. Durham 2004 ISBN 0-86554-886-2 page 144
- ↑ Ficheiro:Michelangelo Caravaggio 011.jpg
- ↑ Ficheiro:Supper at Emmaus-Caravaggio (1606).jpg
- ↑ Art, creativity, and the sacred: an anthology in religion and art by Diane Apostolos-Cappadona 1995 ISBN 0-8264-0829-X page 64
Ligações externas
editar- Carta Apostólica Mane Nobiscum Domine, de João Paulo II
- «Mini curso do Centro Loyola de Fé e Cultura / PUC-Rio - 2012». A Pedagogia de Jesus no Caminho de Emaús, com Prof. Dr. Francisco Orofino