Euparkeria (que significa "bom animal de Parker", nomeado em homenagem a W. K. Parker) é um gênero extinto de archosauriformes do Triássico Médio da África do Sul. Ele era um réptil pequeno que viveu entre há 245-230 milhões de anos, e era próximo aos ancestrais de Archosauria, o grupo que inclui dinossauros, pterossauros, aves modernas e crocodilianos. Euparkeria tinha membros posteriores que eram ligeiramente mais longos do que os seus membros dianteiros, o que foi considerado como evidência de que ele pode ter sido capaz de levantar-se sobre as patas traseiras como um bípede facultativo. Embora Euparkeria seja próximo dos ancestrais de arcossauros totalmente bípedes, como os primeiros dinossauros, provavelmente desenvolveu o bipedalismo de forma independente. Euparkeria não era tão bem adaptado para locomoção bípede como dinossauros e seu movimento normal era provavelmente mais análogo a uma caminhada alta de crocodiliano.[1]

Euparkeria
Intervalo temporal: Triássico Médio
247,2–242 Ma
SAM-PK-5867, o esqueleto holótipo de Euparkeria capensis
Classificação científica e
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Família: Euparkeriidae
Gênero: Euparkeria
Broom, 1913
Espécie-tipo
Euparkeria capensis
Broom, 1913
Sinónimos
  • Browniella africana Broom, 1913

O Euparkeria aparece na série da BBC Walking with Monsters (em português, Caminhando com Monstros) logo nos últimos capítulos e é retratado como um insetívoro e considerado como o precursor dos dinossauros.

Descrição

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Este animal era bem pequeno, e não devia exceder um metro de comprimento.[2] Estavam presentes fileiras de elementos ósseos pequenos (osteodermas) que correm ao longo da área central do pescoço, costas e cauda. Esta última era muito longa, enquanto o corpo era relativamente curto e compacto quando comparado com o de outros archosauriformes primitivos. O crânio era grande, bastante alto e dotado de grandes fenestras anterorbitais e temporais. Até mesmo a órbita era grande, e tinha um marcante anel esclerótico. Os dentes maxilares e mandibulares eram curvados e comprimidos lateralmente, a partir da extremidade cortante e serrilhada, bem fixos nos alvéolos. Também estavam presentes dentes no palato, característica de muitos anfíbios e répteis primitivos. As pernas traseiras eram fortes e magras, e eram maiores uma vez e meia que as dianteiras. Havia também uma articulação mesotarsal (ou seja entre uma tarsal proximal e uma distal), como em dinossauros, e o pé com cinco dedos era de forma simétrica, com o terceiro dedo muito alongado.[3][4][5]

Caixa craniana

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Um estudo realizado por Gower e Weber (1998) pôs em evidência as características da caixa craniana do Euparkeria, muito importante porque este animal pode ter sido próximo da origem dos verdadeiros arcossauros (e, portanto, muito semelhante aos arcossauros mais primitivos). A região ótica é bastante expandida longitudinalmente em relação à dos arcossauros, e é muito estreita de um lado para o outro. As paredes das cápsulas não são muito ossificadas, especialmente as internas. As cápsulas óticas de crocodilos, em vez disso, são altamente ossificadas e parecem ser bem firmes e fixas; este tipo de organização de espaço é necessário para o sentido de audição, que depende de uma topologia muito precisa. A caixa craniana do Euparkeria, também, é dotada de várias protuberâncias e abas que serviam para a inserção dos músculos ou tendões.

Euparkeria representa bem um estágio intermediário de evolução entre os tetrápodes basais e arcossauros. Nos tetrápodes basais, a caixa craniana (além de conter o cérebro) é um tipo de ponto de ancoragem para outras estruturas cranianas. No Euparkeria, no entanto, a caixa craniana não tinha necessidade de estar em contato com os ossos dérmicos do crânio, e nem mesmo de ancorar mecanicamente músculos e tendões, que ao invés disso tinham somente pontos de apoio. Essas características podem ter sido fundamentais para o rápido desenvolvimento de arcossauros em várias direções durante o Triássico Médio.[6]

Classificação

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Reconstrução do Euparkeria capensis

Euparkeria foi descrito pela primeira vez por Robert Broom em 1913, com base em restos fósseis encontrados na região de Aliwal North, na África do Sul, em solos do início do Triássico Médio (Anisiano).[3]

O clado Euparkeriidae recebeu o nome por causa do Euparkeria. O nome da família foi primeiramente proposto pelo paleontólogo alemão Friedrich von Huene em 1920; Huene classificou euparkeriids como membros de Pseudosuchia, um nome tradicional para parentes de crocodilianos do Triássico (Pseudosuchia significa "falsos crocodilos"). Recentes análises filogenéticas colocam Euparkeriidae como um grupo basal de Archosauriformes, uma posição fora de Pseudosuchia e próxima aos ancestrais de ambos os arcossauros da linhagem dos crocodilos e arcossauros da linhagem das aves. No entanto, eles provavelmente não são ancestrais diretos dos arcossauros.[nota 1][7]

Outros possíveis euparkeriids incluem Dorosuchus, Halazhaisuchus, Osmolskina, e Wangisuchus, embora algumas das características comuns nessas formas são únicas para o grupo. Portanto, Euparkeriidae é normalmente considerado monotípico, o que significa que inclui apenas Euparkeria.[2]

Filogenia

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O Cladograma abaixo mostra a posição do Euparkeria, baseado em Nesbitt (2011):[7]

Rhynchosauria

Hyperodapedon  

Mesosuchus

Prolacerta (Prolacertiformes)

Archosauriformes 

Proterosuchus (Proterosuchidae)

Erythrosuchus (Erythrosuchidae)

Vancleavea

Proterochampsidae

Euparkeria (Euparkeriidae)

Crurotarsi

Phytosauria  

Archosauria 
Pseudosuchia

Ornithosuchidae

Suchia

Gracilisuchus

Turfanosuchus

Revueltosaurus

Aetosauria  

Ticinosuchus

Paracrocodylomorpha

Poposauridae

Loricata

Prestosuchus  

Saurosuchus

Batrachotomus  

Fasolasuchus

Rauisuchidae  

Crocodylomorpha  

Avemetatarsalia/Ornithodira*

Pterosauromorpha  

Lagerpetidae

Dinosauriformes

Marasuchus  

Silesauridae

Dinosauria
Ornithischia

Triceratops  

Saurischia
Sauropodomorpha

Camarasaurus  

Theropoda
Herrerasauria

Staurikosaurus  

Tetanurae
Carnosauria

Allosaurus  

Coelurosauria

Dromaeosauridae  

Avialae   

* Nesbitt não incluiu Scleromochlus na análise, significando que Avemetatarsalia e Ornithodira ocupam o mesmo lugar nesse cladograma

Paleobiologia

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Locomoção

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Euparkeria, representado aqui como um bípede facultativo. Desenho a lápis baseado em Caroll, 1988.[4]

Os membros posteriores do Euparkeria são um pouco mais longos do que os seus membros anteriores, o que levou muitos pesquisadores a concluir que ele poderia ter ocasionalmente caminhado sobre as patas traseiras como um bípede facultativo. Outras adaptações possíveis para o bipedalismo em Euparkeria incluem fileiras de osteodermas que poderiam ter estabilizado as costas e uma cauda longa que poderia atuar como um contrapeso para o resto do corpo. A paleontóloga Rosalie Ewer sugeriu em 1965 que Euparkeria pode ter passado a maior parte de seu tempo em quatro pernas, mas movia-se sobre as patas traseiras enquanto corria.[8]

No entanto, adaptações ao bipedalismo em Euparkeria não são tão óbvias como são em alguns outros archosauriformes do Triássico, como dinossauros e poposauróides; os membros anteriores ainda são relativamente longos e a cabeça é tão grande que a cauda pode não ter efetivamente contrabalanceado seu peso. A posição dos pontos de fixação do músculo nos ossos da coxa ou no úmero sugerem que Euparkeria não poderia ter mantido as suas pernas em uma postura totalmente ereta sob o seu corpo, mas teria mantido-as ligeiramente para o lado como nos crocodilianos modernos e na maioria dos outros archosauriformes quadrúpedes do Triássico. Euparkeria tem uma grande projeção apontando para trás no calcâneo (osso do calcanhar), que teria dado um forte estímulo para o calcanhar durante a locomoção. A projeção do calcâneo pode ter habilitado o Euparkeria a se mover com todos os quatro membros em uma "caminhada alta" semi ereta semelhante à maneira em que, algumas vezes, crocodilianos vivos se movem em terra.[2]

Hábitos noturnos

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Alguns espécimes de Euparkeria preservam anéis ósseos nas órbitas oculares, chamados anéis escleróticos, que em vida teriam servido de suporte para o olho. O anel esclerótico do Euparkeria é mais semelhante ao das aves e répteis modernos que são noturnos, o que sugere que o Euparkeria pode ter tido um estilo de vida adaptado às condições de baixa luminosidade.[9] Durante o Triássico inferior a Bacia do Karoo estava a aproximadamente 65 graus de latitude sul, o que significa que o Euparkeria teria experimentado longos períodos de escuridão nos meses de inverno.

Possível homeotermia

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Um estudo sobre o crescimento ósseo do Euparkeria, utilizando um novo modelo de inferência paleohistológica para o úmero,[10] indicou um ritmo elevado para este animal, compatível com o de animais homeotérmicos, ou seja, capazes de manter a temperatura do corpo relativamente constante. É possível, portanto, que o Euparkeria e outros archosauriformes basais como Prolacerta, Proterosuchus e Erythrosuchus fossem dotados de um sistema de controle da temperatura corporal mais semelhante ao dos dinossauros do que ao das tartarugas e lepidossauros.

Segundo Ewer (1965), o crânio, apesar de mostrar adaptação a hábitos predatórios, é relativamente pouco especializado e uma posterior reversão da tendência para uma dieta mais onívora ou mesmo vegetariana não é impossível.[8]

Paleoecologia

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De acordo com a escala de tempo geológico, o Euparkeria viveu (a maior parte) durante o Triássico Médio, que é uma época do período Triássico da era Mesozoica do éon Fanerozoico que está compreendida entre há 247,2 milhões e 237 milhões de anos, aproximadamente.[11] Nesse tempo, a flora era composta por briófitas e pteridófitas, similares a musgos e samambaias, e também por gimnospermas, plantas com sementes e sem fruto, e cones como órgãos reprodutores. Ainda não existiam angiospermas, plantas com sementes e com fruto, e flores típicas (com carpelos, que são folhas reprodutoras fechadas na forma de um vaso onde se formam as sementes) como orgãos reprodutores.[12] Algumas divisões de plantas comuns eram: Lycopodiophyta, Cycadophyta, Ginkgophyta, Pteridospermatophyta, Pinophyta.

O Euparkeria conviveu com alguns cinodontes[13] e dicinodontes,[14] que eram sinápsidas, grupo considerado como ancestral dos mamíferos.[15]

Descoberta

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Leito ósseo, Museu Iziko (Iziko South African Museum), Cidade do Cabo, África do Sul. Mostra, pelo menos, 3 esqueletos parcialmente articulados deitados lado a lado.

Os fósseis de Euparkeria foram descobertos em 1907 pelo Sr. Gibb, um trabalhador em pedreira que estava recolhendo blocos de arenito para as fundações de um novo edifício em Aliwal North, Eastern Cape, África do Sul. Ele não teve muito interesse nos fósseis e, se não fosse pelos esforços de um inglês excêntrico e professor local aposentado chamado Alfred ("Gogga") Brown, estes espécimes não teriam sido resgatados. Felizmente o Sr. Brown era um ávido colecionador de fósseis que manteve notas meticulosas de todos os seus achados. Seguindo as suas indicações manuscritas os membros da equipe de pesquisadores interessados na descoberta foram capazes de mudar o local da pedreira, mas infelizmente o leito ósseo foi completamente escavado e não há fósseis deixados lá.[16]

Notas

  1. Houve uma alteração recente na posição filogenética dos phytossauros dando um novo alcance para o grupo Crurotarsi. Em 2011, Sterling J. Nesbitt retirou os phytossauros dos arcossauros da linhagem dos crocodilos e definiu como um táxon irmão do Archosauria. Na filogenia atual, Crurotarsi inclui phytossauros, o grupo Avemetatarsalia, que é composto por pterossauros e dinossauros (que também inclui as aves), e o grupo Pseudosuchia que contém apenas arcossauros da linhagem dos crocodilos. Isso é explicado melhor no artigo Crurotarsi ou no Archosauria em inglês.

Referências

  1. Olsen, Paul Eric. «Tetrapods». rainbow.ldeo.columbia.edu (em inglês). Consultado em 13 de janeiro de 2016 
  2. a b c Sookias, Roland B.; Butler, Richard J (24 de janeiro de 2013). «Euparkeriidae». Geological Society, London, Special Publications 2013 (em inglês). 379 (1): 35-48. doi:10.1144/SP379.6. Consultado em 31 de janeiro de 2016 
  3. a b Broom, Robert (Setembro de 1913). «On the South African Pseudosuchian Euparkeria and allied genera». Proceedings of the Zoological Society of London (em inglês). 83 (3): 619-633. doi:10.1111/j.1469-7998.1913.tb06148.x 
  4. a b Carroll, Robert L (1988). Vertebrate Paleontology and Evolution (em inglês). New York, NY: W. H. Freeman. 698 páginas. ISBN 0716718227 
  5. «Euparkeriidae» (em inglês). palaeos.com. Consultado em 13 de janeiro de 2016 
  6. Gower, David J.; Weber, Erich (Novembro de 1998). «The braincase of Euparkeria, and the evolutionary relationships of birds and crocodilians.». Biological Reviews (em inglês). 73 (4): 367-411. doi:10.1111/j.1469-185X.1998.tb00177.x. Consultado em 22 de fevereiro de 2016 
  7. a b Nesbitt, Sterling J (29 de abril de 2011). «The early evolution of archosaurs: relationships and the origin of major clades» (PDF). Bulletin of the American Museum of Natural History (em inglês). 352: 1-292. doi:10.1206/352.1. Consultado em 19 de fevereiro de 2016 
  8. a b Ewer, Rosalie F (18 de fevereiro de 1965). «The Anatomy of the Thecodont Reptile Euparkeria capensis Broom». Philosophical Transactions of the Royal Society of London, Series B (em inglês). 248 (751): 379-435. doi:10.1098/rstb.1965.0003 
  9. Schmitz, Lars; Motani, Ryosuke (6 de maio de 2011). «Nocturnality in Dinosaurs Inferred from Scleral Ring and Orbit Morphology». Science (em inglês). 332 (6030): 705-708. PMID 21493820. doi:10.1126/science.1200043 
  10. Legendre, Lucas J.; Segalen, Loic; Cubo, Jorge (12 de novembro de 2013). «Evidence for high bone growth rate in Euparkeria obtained using a new paleohistological inference model for the humerus». Journal of Vertebrate Paleontology (em inglês). 33 (6): 1343-1350. doi:10.1080/02724634.2013.780060 
  11. Cohen, K. M.; Finney, S. C.; Gibbard, P. L.; Fan, J.-X. (2013; updated) The ICS International Chronostratigraphic Chart. Episodes 36: 199-204.
  12. Soltis, Pam; Soltis, Doug; Edwards, Christine (2005). «Angiosperms. Flowering Plants. Version 03 June 2005» (em inglês). tolweb.org The Tree of Life Web Project. Consultado em 6 de março de 2016 
  13. Ruta, Marcello; Botha-Brink, Jennifer; Mitchell, Stephen A.; Benton, Michael J (28 de agosto de 2013). «The radiation of cynodonts and the ground plan of mammalian morphological diversity» (PDF). Proceedings of the Royal Society of London B: Biological Sciences (em inglês). 280 (1769). 20131865 páginas. ISSN 1471-2954. PMID 23986112. doi:10.1098/rspb.2013.1865. Consultado em 5 de março de 2016 
  14. «Dicynodontia» (em inglês). palaeos.com. Consultado em 6 de março de 2016 
  15. Laurin, Michel; Reisz, Robert R. (2011). «Synapsida: Mammals and their extinct relatives. Version 14 August 2011» (em inglês). tolweb.org The Tree of Life Web Project. Consultado em 6 de março de 2016 
  16. «# Euparkeria africanus» (em inglês). biodiversityexplorer.org Iziko Museums of Cape Town. Consultado em 17 de fevereiro de 2016 

Ligações externas

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