Gênero neutro

género gramatical
 Nota: Este artigo é sobre o gênero gramatical. Para a identidade de gênero, veja Neutrois. Para outros significados, veja Neutro.

Em linguística, gênero neutro (português brasileiro) ou género neutro (português europeu) é um gênero gramatical, paralelo ao masculino e o feminino.[1][2] Presente na maioria das línguas indo-europeias, junto ao masculino e o feminino ou o comum, o neutro pode ter sido originalmente usado em relação a objetos inanimados, cujo gênero lógico ("real" ou "natural") não pode ser determinado.[3][4][5]

A palavra neuter, usado em inglês para o gênero gramatical neutro, difere de gender-neutral ou neutral gender, que refere-se ao lexema adjetivo gênero-neutro, que tem significado de ser neutro de gênero ou neutro em gênero.[6] Neuter é algumas vezes traduzido como assexuado,[7] sendo assexuadas também usado na linguística para palavras sem gênero natural, cujo gênero não apresenta marcação gramatical.[8] O termo "gênero neutro", mais recentemente, vem sido usado também para designar a linguagem neutra por neologismos.[9]

Língua portuguesa

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A neutralização de linguagem em língua portuguesa acontece, na maioria das vezes, usando o masculino genérico, havendo exceções de palavras, que sejam de substantivo sobrecomum ou comum de dois gêneros (binários).[10] No caso dos pronomes mostrativos (ou demonstrativos) — o proximal ("isto"), o medial ("isso") e o distal ("aquilo") —, eles são neutros, outras vezes considerados masculinos, mas invariáveis;[11] porém, não são usados para seres animados ou humanos.[12] Certos pronomes indefinidos, como "tudo", "algo", "alguém", "nada", "ninguém" ou "outrem", também seriam de gênero neutro ou impessoal, entretanto podem perder sua neutralidade ao concordarem com adjetivos masculinos, ou femininos, por exemplo.[13] O gênero feminino seria considerado o gênero marcado e o masculino o não marcado ou inespecífico.[14]

Sabendo que, o masculino nem sempre representa todas as pessoas, especialmente aquelas que são femininas ou neutras de gênero, tenta-se reforçar a inclusão de mulheres e pessoas não binárias, através das propostas de linguagem não sexista ou neolinguagem de gêneros gramaticais, com as flexões léxicas, como por exemplo, em "todos, todas e todes", neopronomes neutros de terceira pessoa "ile" e "elu", em vez de "ela" e "ele", e perífrases para evitar neologismos, como em "todos os indivíduos", seguindo concordâncias.[15]

Muitas palavras, que já eram neutras de gênero, acabam passando por feminilização, por exemplo, em "chefe" versus "chefa", na qual chefe transforma-se numa palavra associada ao gênero masculino.[16]

Algumas palavras invariáveis em gênero são naturalmente epicenas ou sobrecomuns, como por exemplo, em "animal", "pessoa", "indivíduo" e "ser", sem precisarem de um neologismo para serem neutras (agenerizadas/agenerificadas ou desgenerizadas/desgenerificadas). Há também substantivos de gênero vacilante, que é o caso de "moral" e "capital".[17] Semelhantemente, em castelhano classificam-se como de género ambíguo.[18]

As propostas de neolinguagem de gênero também trazem um desvencilhamento para com os gêneros gramaticais e naturais, o que leva alguns ativistas pela causa de pronome neutro a advogar pelo estabelecimento oficial do gênero neutro, como por exemplo, nos sistemas elu e ilu,[19][20] que baseiam-se no pronome neutro do latim illud (nom. n. sing.).[21][22] Há outros neopronomes além desses, como "elx" e "el@", com neolinguagens específicas e flexão de gênero seletiva, sem um sistema pronominal estabelecido,[23] porém não é possível afirmar até que ponto eles são uma visibilização ambiguamente unicizada das binaridades endossexos ou uma neutralidade monólita para representar um gênero paralelo neutro, isto é, completamente separado dos masculino e feminino.[24][25]

Ver também

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Wikcionário

Referências

  1. «Os géneros masculino, feminino e neutro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa». ciberduvidas.iscte-iul.pt. Consultado em 13 de junho de 2020 
  2. Moura, Jonathan Ribeiro Farias de (1 de outubro de 2021). «Língua(gem) e gênero neutro: uma perspectiva discursiva no português brasileiro». Línguas e Instrumentos Línguísticos (47): 146–163. ISSN 2674-7375. doi:10.20396/lil.v24i47.8660785. Consultado em 1 de outubro de 2022 
  3. «A RELAÇÃO ENTRE GÊNERO GRAMATICAL E SEXO». www.filologia.org.br. Consultado em 13 de junho de 2020 
  4. Beccaria, Gian Luigi. (2004). Dizionario di linguistica e di filologia, metrica, retorica Nuova ed ed. Torino: Einaudi. OCLC 799237204 
  5. Soares de Oliveira, Thiago (2015). «A queda do gênero neutro no latim» (PDF). UENF. Revista Philologus 
  6. Queiroz, Alberto (10 de novembro de 2022). «Qual é a diferença entre Neuter e Neutral?». Mairo Vergara (em inglês). Consultado em 1 de fevereiro de 2023 
  7. «NEUTER - Tradução em português - bab.la». pt.bab.la. Consultado em 18 de maio de 2021 
  8. Kolodny, Rossana Saute (2016). «Marcação de gênero e classe temática em português e em francês». Consultado em 14 de abril de 2021 
  9. Gomes, Robert Moura Sena (29 de junho de 2022). «Por uma linguística (mais) popular: a construção do gênero neutro como dissidência linguística». UFSCar. Repositório Institucional da UFSCar. Consultado em 1 de fevereiro de 2023 
  10. «GÊNERO NEUTRO». Lingua Minha. Consultado em 9 de maio de 2021 
  11. Portuguese, Department of Spanish &; UW-Madison (19 de janeiro de 2016). «Lição 2». L&S Learning Support Services, UW-Madison (em inglês). Consultado em 18 de maio de 2021 
  12. «Pronomes Interrogativos». Só Português. Consultado em 18 de maio de 2021 
  13. Pinheiro, Andrei Ferreira de Carvalhaes; Pinheiro, Bruno Felipe Marques (24 de março de 2021). «Estratégias de neutralização de gênero no Português Brasileiro: questões estruturais e sociais». Cadernos de Linguística (1): e326–e326. ISSN 2675-4916. doi:10.25189/2675-4916.2021.v2.n1.id326. Consultado em 19 de setembro de 2023 
  14. Machado, Elenir de Oliveira (2002). «Morfema zero e casos de alomorfia». www.filologia.org.br (Cadernos da pós-graduação em Língua Portuguesa). Morfossintaxe da língua portuguesa. São Gonçalo: Faculdade de Formação de Professores/UERJ. Consultado em 28 de setembro de 2024 
  15. Guimarães, Veridiana de Souza (2 de outubro de 2020). «Inclusão na língua: as tentativas de neutralidade de gênero no português brasileiro». Revista da ABRALIN (2): 1–5. ISSN 0102-7158. doi:10.25189/rabralin.v19i2.1627. Consultado em 26 de novembro de 2020 
  16. Schwindt, Luiz Carlos (17 de novembro de 2020). «Sobre gênero neutro em português brasileiro e os limites do sistema linguístico». Revista da ABRALIN: 1–23. ISSN 0102-7158. doi:10.25189/rabralin.v19i1.1709. Consultado em 26 de novembro de 2020 
  17. Neves, Flávia. «Substantivos de gênero vacilante». Norma Culta. Consultado em 1 de fevereiro de 2023 
  18. «Traducción y Terminología Médicas – Sustantivos de género ambiguo». temas.sld.cu. Consultado em 1 de fevereiro de 2023 
  19. Pereira, Zoe de Miranda (16 de agosto de 2022). «15. Representações e contextos do uso do singular they e da neolinguagem não binária». Revista Philologus (83): 242–255. ISSN 2675-6846. Consultado em 1 de outubro de 2022 
  20. Brevilheri, Ursula Boreal Lopes; Lanza, Fabio; Sartorelli, May Romeiro (1 de setembro de 2022). «Neolinguagem e "linguagem neutra": potencialidades inclusivas e/ou reações conservadoras». Research, Society and Development (11): e523111133741–e523111133741. ISSN 2525-3409. doi:10.33448/rsd-v11i11.33741. Consultado em 1 de outubro de 2022 
  21. «Elus são eles e elas». Época. 16 de novembro de 2018. Consultado em 24 de julho de 2020 
  22. Cassiano, Ophelia (26 de junho de 2020). «Guia para "Linguagem Neutra" (PT-BR)». Medium (em inglês). Consultado em 24 de julho de 2020 
  23. «Pronome neutro na língua portuguesa: Repertórios para o tema». Redação, Redação Enem, Redação Nota 1000, Redação Nota Mil e Redação ENEM 2019 e Como fazer uma boa redação. 28 de outubro de 2020. Consultado em 26 de novembro de 2020 
  24. «Todos e todas, brasileiros e brasileiras | Sobre Palavras». VEJA. Consultado em 24 de maio de 2021 
  25. Freitas, Marco Túlio de Urzêda. "Letramentos queer na formação de professorxs de línguas: complicando e subvertendo identidades no fazer docente." (2018).
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