Hipótese do mundo justo

Hipótese do mundo justo é a crença generalizada, mas falsa, de que o mundo é essencialmente justo, de modo que os bons são recompensados e os maus punidos; uma consequência dessa crença é que as pessoas que sofrem infortúnios são consideradas como merecedoras de seus destino. Este fenômeno, que geralmente é interpretado como consequência da ilusão de controle, foi identificado e nomeado pela primeira vez pelo psicólogo canadense Melvin J. Lerner (nascido em 1929) em um artigo no Journal of Personality and Social Psychology em 1965.[1]

A hipótese aparece popularmente no idioma inglês em várias figuras de linguagem que implicam em punição garantida por irregularidades, tais como (tradução livre para o português): "teve o que mereceu", "o feitiço sempre vira contra o feiticeiro", "tudo acontece por uma razão" e "colhe o que se plantou". Essa hipótese tem sido amplamente estudada por psicólogos sociais desde que Melvin J. Lerner realizou um trabalho seminal sobre a crença em um mundo justo no início dos anos 1960.[2] Estudos continuaram desde então, examinando a capacidade preditiva da hipótese em situações variadas e entre várias culturas, e clarificando e expandindo os entendimentos teóricos a respeito de crenças de mundo justo.[3]

Origem

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Muitos filósofos e teóricos sociais observaram e consideraram o fenômeno da crença em um mundo justo como remontando pelo menos desde o filósofo pirronista Sexto Empírico que por volta de 180 argumentou contra essa crença.[4] O trabalho de Lerner fez da hipótese do mundo justo um foco de pesquisa no campo da psicologia social. A Ética aristotélica vê a "justiça" como a principal das virtudes, sendo o senso moral profundamente enraizado na natureza dos humanos como animais sociais e racionais.[5]

Melvin Lerner

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Melvin Lerner foi solicitado a estudar crenças justiça e a hipótese do mundo justo no contexto da investigação psicológica social em interações sociais negativas.[6] Lerner viu seu trabalho como extensão dos trabalho sobre obediência de Stanley Milgram. Ele procurou responder às questões de como os regimes que causam crueldade e sofrimento mantêm o apoio popular e como as pessoas aceitam normas sociais e leis que produzem miséria e sofrimento.[7]

A investigação de Lerner foi influenciada por testemunhar repetidamente a tendência dos observadores de culpar as vítimas pelo seu sofrimento. Durante a sua formação clínica como psicólogo, observou o tratamento de doentes mentais pelos profissionais de saúde com quem trabalhava. Embora Lerner soubesse que eram pessoas educadas e bondosas, muitas vezes culpavam os pacientes pelo sofrimento dos próprios pacientes..[8] Lerner também descreve sua surpresa ao ouvir seus alunos desprezar os pobres, aparentemente alheios às forças estruturais que contribuem para a pobreza.[6]

Evidências iniciais

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Em 1966, Lerner e seus colegas começaram uma série de experimentos que usaram paradigmas de choque para investigar as respostas do observador à vitimização. No primeiro desses experimentos realizados na Universidade do Kansas, 72 participantes do sexo feminino observaram o que parecia ser uma cúmplice recebendo choques elétricos por seus erros durante uma tarefa de aprendizado (aprender pares de sílabas sem sentido). Inicialmente, esses participantes observadores ficaram incomodados com o aparente sofrimento da vítima. Mas como o sofrimento continuou e os observadores permaneceram incapazes de intervir, os observadores começaram a rejeitar e desvalorizar a vítima. A rejeição e desvalorização da vítima foi maior quando o sofrimento observado foi maior. Mas quando os participantes foram informados de que a vítima receberia uma compensação por seu sofrimento, os participantes não menosprezaram a vítima.[7] Lerner and colleagues replicated these findings in subsequent studies, as did other researchers.[9]

Ver também

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Referências

  1. «just world hypothesis». Oxford Reference 
  2. Lerner, Melvin J.; Montada, Leo (1998). «An Overview: Advances in Belief in a Just World Theory and Methods». In: Montada, L.; Lerner, M. J. Responses to Victimizations and Belief in a Just World. Col: Critical Issues in Social Justice. New York: Plenum. pp. 1–7. ISBN 978-1-4419-3306-5. doi:10.1007/978-1-4757-6418-5_1 
  3. Furnham, Adrian (2003). «Belief in a just world: research progress over the past decade». Personality and Individual Differences. 34 (5): 795–817. doi:10.1016/S0191-8869(02)00072-7 
  4. Sexto Empírico, "Outlines of Pyrrhonism", Livro 1, Capítulo 13, Seção 32
  5. Ética a Nicômaco Livro V
  6. a b Montada, Leo; Lerner, Melvin J. (1998). «Preface» (PDF). In: Montada, L.; Lerner, M. J. Responses to Victimizations and Belief in a Just World. Col: Critical Issues in Social Justice. New York: Plenum. pp. vii–viii. ISBN 978-1-4419-3306-5. doi:10.1007/978-1-4757-6418-5 
  7. a b Lerner, M.; Simmons, C. H. (1966). «Observer's Reaction to the 'Innocent Victim': Compassion or Rejection?» (PDF). Journal of Personality and Social Psychology. 4 (2): 203–210. PMID 5969146. doi:10.1037/h0023562 
  8. Lerner, Melvin J. (1980). The Belief in a Just World: A Fundamental Delusion. Col: Perspectives in Social Psychology. New York: Plenum Press. ISBN 978-0-306-40495-5. doi:10.1007/978-1-4899-0448-5 
  9. Lerner, Melvin J.; Miller, Dale T. (1978). «Just world research and the attribution process: Looking back and ahead». Psychological Bulletin. 85 (5): 1030–1051. doi:10.1037/0033-2909.85.5.1030 
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