Mádia
Mádia[2] (em francês: Mahdia; em árabe: المهدية; romaniz.: al-Mahdiya) é uma cidade da costa oriental da Tunísia e a capital da delegação (espécie de distrito ou grande município) e província (gouvernorat) homónimas.
Mádia
المهدية , al-Mahdiya
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Município | |
Vista de Mádia | |
Localização | |
Localização de Mádia na Tunísia | |
Coordenadas | 35° 30′ N, 11° 04′ L |
País | Tunísia |
Província | Mádia |
Delegação | Mádia |
Características geográficas | |
População total (2004) [1] | 45 977 hab. |
• População urbana | 13 602 |
Altitude | 15 m |
Altitude mínima | 0 m |
Cidades gêmeas | |
Cairo | Egito |
Mazara del Vallo | Itália |
Sítio | www.commune-mahdia.gov.tn |
Em 2004, a delegação tinha 71 546 habitantes e os dois municípios urbanos que constituem a cidade tinham 13 602 habitantes.[1]
Originalmente construída numa península com 1 400 metros de comprimento e 500 metros de largura, onde atualmente se situa o centro histórico, mais recentemente expandiu-se para o interior. Situa-se 45 km a sudeste de Monastir, 60 km a sudeste de Sousse, 100 km a norte de Sfax e 205 km a sudeste de Tunes.
Alberga um dos principais portos de pesca do país. O turismo tem vindo a ganhar cada vez mais importância na economia local.
História
editarConhecida ao longo da sua longa história sucessivamente por Jemma, Afrodísio (Aphrodisium)[3] e Cabo África, antes de ter o nome atual, a situação geográfica estratégica e as suas fortificações permitiram à cidade ter um papel de primeiro plano na bacia mediterrânica até ao século XVI. Mádia começou por ser um entreposto fenício, depois cartaginês e romano. Cerca de 1907, foi descoberto um navio afundado do século I a.C. a seis quilómetros ao largo de Mádia, carregado de objetos de arte ateniense, o que constitui um dos sítios arqueológicos submarinos mais ricos da Tunísia.[4]
No ano 916 o primeiro califa fatímida Abedalá Almadi Bilá ordenou a fundação duma nova cidade, cuja construção demorou cinco anos e à qual foi dado o nome de Mádia e que se tornou a capital fatímida em 921.[5] Teria esse estatuto até 973, quando o Cairo passou a ser a capital do califado.[6] Em 944-945 foi cercada durante oito meses pelos carijitas liderados pelo chefe rebelde Abu Iázide, que não logrou conquistá-la.
Em 1057, os Zíridas refugiam-se em Mádia face à ameaça dos Banu Hilal.[carece de fontes] O rei normando da Rogério II da Sicília ocupa a cidade em 1148 e mantém o seu domínio até 1160, quando é expulso pelos almóadas.[7] A cidade perde depois importância política a favor de Tunes, mas mantém-se como um porto importante. Ao longo da sua história enfrenta vários cercos.
Em 1390,[8] na sequência da perda de posições comerciais na Tunísia para os venezianos, os genoveses organizam uma expedição militar a que pretenderam dar o cunho de nova cruzada, a pretexto de se vingarem da atividade dos dos piratas da Barbária contra os cristãos. Os genoveses conseguem o apoio de vários nobres franceses e ingleses, entre os quais Luís II de Bourbon, que toma o comando do ataque. A praça, fortemente defendida por berberes de Bugia, Bona, Constantina e outras regiões do Magrebe vindos em socorro dos tunisinos, resiste a todos os assaltos. Os europeus não tardam em desentender-se entre eles e vêm-se obrigados a retornar ao mar e retirar depois de de 61 dias de combates infrutíferos.[9]
No século XVI, Mádia foi tomada pelo corsário e almirante otomano Dragute Arrais, que faz dela um dos seus redutos.[10] Em 1550 a cidade é conquistada por Carlos V, mantendo-se nas mãos dos espanhóis até 1554.[11] Ao retirarem, fazem explodir as muralhas, que os otomanos só reconstruíram parcialmente quando voltaram.[12] A cidade retoma a sua calma pouco a pouco e torna-se um dos maiores portos de pesca da Tunísia.
Cultura
editarMonumentos
editarA Skifa Kahla, também conhecida como Babe Zuila é uma notável porta fortificada originalmente construída entre 916 e 921 e restaurada no século XIV. Continua a ser um dos pontos de acesso ao centro histórico e um dos raros vestígios das antigas muralhas. O Borje Alquibir (Borj El Kebir) é uma fortaleza dotada duma passagem abobadada e curva que conduz a um pátio imponente; desde 1595 que guarda a ponta do cabo África (Ras Ifríquia).[13]
A Grande Mesquita foi fundada em 916 pelo califa xiita Abedalá Almadi Bilá. Tem a particularidade de não ter minarete. Sofreu várias modificações e renovações ao longo do tempo, sendo finalmente reconstruída entre 1961 e 1965 conforme a planta original do século X.[14] A Mesquita de Haje Mustafá Hâmeza, construída em 1772 e restaurada no século XX é um belo exemplo da arquitetura religiosa do período otomano.[13]
Mádia é ainda conhecida pelo seu cemitério "marítimo", situado à beira mar, na extremidade da península.[13]
Museu
editarA cidade tem um museu, de vocação regional, instalado na antiga sede da municipalidade, a qual foi completamente renovada para acolher as coleções. Inaugurado em 1997, tem em exposição diversas peças, nomeadamente cerâmicas dos períodos púnico e romano, mosaicos, uma coleção de moedas da época bizantina, que incluem 268 em ouro, além de vários objetos do período islâmico.[15]
Desporto
editarO principal clube desportivo de Mádia é o El Makarem, fundado em 1937 e diversas vezes campeão nacional e africano de andebol. A sua equipa de futebol disputava, em 2012-2013 a terceira divisão tunisina, depois de ter estado na primeira divisão nas décadas de 1960 e 1970.
Economia
editarAs principais atividades económicas são o turismo, a pesca e o azeite.
O porto de pesca é muito animado a certas horas do dia e nele existem várias fábricas de conservas de peixe. Alguns dos navios pesqueiros são arrastões equipados para a pesca noturna com luzes que atraem o pescado.
A oeste da cidade situa-se um extenso olival e vários lagares de azeite. Além de produto alimentar, este é também matéria prima para a produção de sabão em que 72% da sua composição é azeite.
A cidade é também conhecida pelas seus txteis de seda e lã e pelo artesanato (joalharia, madeira, couro, etc.).
As praias de areia branca, a história tormentosa da cidade e os numerosos hotéis fazem de Mádia uma estação balnear com alguma popularidade. A chamada zona turística, onde se situam a maior parte dos hotéis turísticos, situa-se a norte da cidade, em frente ao bairro de Hibum. A maior parte dos hotéis situa-se à beira mar e têm uma oferta variada.
Transportes
editarA cidade é servida por vários eixos rodoviários de importância nacional, nomeadamente pela estrada Tunes-Sfax. Está também ligada por ferrovia com Sousse, Monastir e Sfax. O aeroporto mais próximo é o de Monastir-Habib Bourguiba, situado 50 km a noroeste.
Notas e referências
editar- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em francês cujo título é «Mahdia», especificamente desta versão.
- ↑ a b «Population, ménages et logements par unité administrative : Gouvernorat : Mahdia». www.ins.nat.tn (em francês). Instituto Nacional de Estatística da Tunísia. 2004. Consultado em 28 de setembro de 2012
- ↑ Lopes 2017, p. 13.
- ↑ «Africa olim Aphrodisium (mapa de Mahdia)». gallica.bnf.fr (em francês). Biblioteca Nacional de França. 1600–1699. Consultado em 2 de outubro de 2012
- ↑ Pérez 2005, p. 100.
- ↑ Cortese & Calderini 2006, p. 70
- ↑ Kjeilen, Tore. «Mahdia». LookLex.com (Lexic Orient) (em inglês). Consultado em 2 de outubro de 2012
- ↑ Brown 1985, p. 41.
- ↑ «L'Église Maronite - Des Croisés à la prise de Constantinople». orient.chretien.free.fr (em francês). Consultado em 2 de outubro de 2012. Cópia arquivada em 2 de outubro de 2012
- ↑ Latrie 1845, p. 26-27.
- ↑ «Dragut». www.publius-historicus.com (em francês). Les pages de Publius Historicus sur le XVIe siècle. Consultado em 2 de outubro de 2012. Cópia arquivada em 2 de outubro de 2012
- ↑ Halm 2007, p. 114.
- ↑ «Annexe F: Les corsaires tunisiens». perso.orange.fr/jean-francois.coustilliere (em francês). Consultado em 2 de outubro de 2012. Cópia arquivada em 8 de fevereiro de 2007
- ↑ a b c «Présentation de la ville: Sites et monuments». www.commune-mahdia.gov.tn (em francês). Município de Mahdia. Consultado em 2 de outubro de 2012. Cópia arquivada em 2 de outubro de 2012
- ↑ Delarosbil 2006, p. 9.
- ↑ Gaultier-Kurhan 2001, p. 156.
Bibliografia
editar- Brown, Reginald Allen (1985). Anglo-Norman Studies VII: Proceedings of the Battle Conference 1984 (em inglês). [S.l.]: Boydell & Brewer. 245 páginas. ISBN 9780851154169. Consultado em 2 de outubro de 2012
- Delarosbil, Dave (2006). Mahdia : histoire et société (PDF) (em francês). Montreal: Universidade de Montreal, UNESCO. 13 páginas. Consultado em 2 de outubro de 2012[ligação inativa]
- Delia, Cortese; Calderini, Simonetta (2006). Women And the Fatimids in the World of Islam (em inglês). Edimburgo: Edinburgh University Press. 269 páginas. ISBN 9780748617333. Consultado em 2 de outubro de 2012
- Gaultier-Kurhan, Caroline (2001). Le patrimoine culturel africain (em francês). Paris: Maisonneuve et Larose. 408 páginas. ISBN 9782706815256
- Halm, Heinz (2007). The Arabs: A Short History (em inglês). Princeton: Markus Wiener Publishers. 186 páginas. ISBN 9781558764170. Consultado em 2 de outubro de 2012
- Latrie, Louis de Mas (1845). Aperçu des relations commerciales de l'Italie septentrionale avec l'Algérie au moyen âge (em francês). III. Paris: Imprimerie royale. Consultado em 2 de outubro de 2012
- Lopes, Nei Braz; Macedo, José Rivair (2017). Dicionário de História da África: Séculos VII a XVI. Belo Horizonte: Autêntica
- Pérez, Christine (2005). La Perception de l'insularité dans les mondes méditerranéen ancien et archipélagique polynésien d'avant la découverte missionnaire (em francês). Paris: Publibook. 479 páginas. ISBN 9782748308938. Consultado em 2 de outubro de 2012