Opressão internalizada

A opressão internalizada ocorre quando um grupo oprimido aceita os métodos e incorpora a ideologia opressiva do grupo opressor, contrária ao seu próprio interesse.[1] Um dos pensadores que fizeram uso desse conceito foi Paulo Freire, que caracteriza os oprimidos como seres dúplices:

A consciência do oprimido encontra-se imersa no mundo organizado pelo opressor, um mundo sustentado pelo autoritarismo, razão pela qual há uma duplicidade que o envolve: por um lado, o opressor encontra-se hospedado na consciência do dominado, o que produz medo de ser livre e, por outro, há o desejo e a necessidade de liberdade.
Streck, Danilo R.; Redin, Euclides; Zitkoski, Jaime José (22 de dezembro de 2015). Dicionário Paulo Freire. [S.l.]: Autêntica 

A opressão internalizada pode se manifestar em um nível individual ou de grupo.[2] O exemplo clássico fornecido por Freire, em sua Pedagogia do Oprimido, foi o de uma revolta camponesa no Nordeste do Brasil.

Certa feita, um grupo de camponeses armados tomou conta da fazenda. Por razões táticas, eles queriam manter o patrão como refém. No entanto, nenhum camponês foi capaz de manter a guarda sobre o latifundiário, dono da plantação, pois a sua mera presença os assustava. O próprio ato de lutar contra o patrão tinha ativado sentimentos de culpa nos camponeses. Freire conclui que, na verdade, o patrão estava "dentro" deles. A liberdade dos camponeses não dependia apenas de sua liberdade física, como eles haviam inicialmente acreditado. Esses camponeses haviam sido completamente condicionados a obedecer ordens, a se comportar de forma submissa, a saber e manter o seu "lugar", o que eles faziam mesmo quando o patrão não estava mais no poder.[3]

Opressão de minorias específicas

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“Se as mulheres estão cercadas por pessoas que as veem como subordinadas, incapazes ou sem controle sobre suas ações, é provável que as mulheres passem a se entender de maneira semelhante, mesmo que inconscientemente”.[4] A opressão internalizada promove as crenças de que o eu não pode ser autônomo, é indigno de exercer o poder e é pouco mais que um objeto de gratificação sexual.[4]

A opressão internalizada também pode ocorrer em indivíduos com deficiência, que podem se distanciar de outras pessoas com deficiência para evitar associar-se com aqueles que podem ser vistos pela sociedade como "fracos" ou "preguiçosos".[5]

"Pessoas de cor que internalizam estereótipos sobre criminalidade e desvio moral podem ver a si mesmas como foras da lei" e podem "se envolver em comportamentos que perpetuam ainda mais esses preconceitos".[6]

Referências

  1. Pheterson, Gail (1986). «Alliances between Women: Overcoming Internalized Oppression and Internalized Domination». Signs. 12 (1): 146–160. ISSN 0097-9740. JSTOR 3174362. doi:10.1086/494302 
  2. David, E. J. R. and Annie O. Derthick. "What Is Internalized Oppression, and so What?." Internalized Oppression: The Psychology of Marginalized Groups., E. J. R. David and E. J. R., (Ed) David, Springer Publishing Co, 2014, pp. 1–30. https://connect.springerpub.com/content/book/978-0-8261-9926-3/part/part01/chapter/ch01
  3. «Pedagogia do Oprimido». Editora Paz e Terra. Consultado em 26 de fevereiro de 2012 
  4. a b Liebow, Nabina (2016). «Internalized Oppression and Its Varied Moral Harms: Self‐Perceptions of Reduced Agency and Criminality». Hypatia. 31 (4): 713–729. doi:10.1111/hypa.12265 
  5. Fahs, Breanne (2015). «The Dreaded Body: Disgust and the Production of "appropriate" Femininity». Journal of Gender Studies: 1–13 
  6. Liebow, Nabina (outono de 2016). «Internalized Oppression and Its Varied Moral Harms: Self-Perceptions of Reduced Agency and Criminality». Hypatia. 31 (4): 713–729. doi:10.1111/hypa.12265 
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