Slash fiction (em português, literalmente, 'ficção de barra', em alusão ao sinal gráfico / usado entre os nomes de personagens) é um subgênero de fanfic que se concentra na atração interpessoal e as relações sexuais entre personagens fictícios do mesmo sexo.[1][2]

Embora o termo tenha sido, originalmente, aplicado apenas a histórias cuja trama principal envolvia relacionamento sexual explícito entre personagens masculinos (também conhecidas como m/m slash), passou posteriormente a designar qualquer fanfic em que há relações entre personagens do mesmo sexo. Muitos fãs distinguem slash com personagens femininos como um subgênero separado, também referido como femslash, f/f ou saffic. Os personagens geralmente não estão envolvidos em tais relações no seu universo ficcional.,[3]

Crítica e recepção

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A slash fiction tem recebido mais atenção da academia do que outros gêneros de fanfic.[4] A slash foi objeto de vários estudos notáveis, ​​no início de 1990, como parte do movimento de estudos culturais, no âmbito das humanidades. A maioria deles, como é característico dos estudos culturais, aborda a slash a partir de uma perspectiva etnográfica e se concentra principalmente nos escritores do subgênero e nas comunidades que se formam em torno delea.[5] Alguns estudos, como o da antropóloga italiana Mirna Ciconi, concentram-se na análise textual da slash fiction em si.

A slash foi muitas vezes ignorada pelos teóricos queer.[6] No entanto, tem sido descrita como importante para a comunidade LGBT e para a formação de identidades queer, por representar uma resistência à expectativa de heterossexualidade compulsória.[7][8][9]

A escritora Joanna Russ, lésbica assumida, está entre os primeiros grandes escritores de ficção científica a transformar slash e suas implicações culturais em literatura séria.[10]

Definição e ambiguidade

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O nome slash fiction deriva da barra (slash) utilizada para separar os dois nomes de um par romântico.

O termo slash fiction tem várias ambiguidades. Dada a falta de relacionamentos homossexuais canônicas na mídia, inicialmente, alguns viram a slash como sendo exclusivamente algo fora do cânone. Essas pessoas consideravam que o termo slash fiction só se aplicava quando o relacionamento descrito não fazia parte do cânone, e que fanfic sobre relações homossexuais canônicas não seriam, portanto, slash.[11] O recente surgimento de personagens abertamente gays e bissexuais no cinema e na TV, tais como Willow e Tara na série Buffy the Vampire Slayer, os personagens de Queer as Folk, Jack Harkness em Doctor Who, e numerosos personagens de Torchwood,[12] alimentou essa discussão. Mantida a definição anteriormente citada, essas histórias ficariam sem um rótulo conveniente; portanto essa distinção não tem sido amplamente adotada.[11]

Nos últimos anos, dada a crescente popularidade da slash fiction na Internet, alguns usam o termo de maneira genérica, para designar qualquer fan fiction erótica, sejam sobre relações heterossexuais ou homossexuais. Isso tem causado preocupação para outros autores de slash que acreditam que, embora o subgênero possa ser erótico, não é assim por definição, e definir todas as fanfics eróticas como slash resulta em distanciá-la da fanfic homo-romântica, livre para todas as idades. Além disso, os jornalistas que escrevem sobre o fenômeno fan fiction, parecem geralmente acreditar que toda fanfic é slash ou pelo menos tem um caráter erótico.[13][14][15] Tais definições não fazem distinção entre slash erótico e o slash romântico, ou entre slash, het (que aborda principalmente relacionamentos heterossexuais) e gen (que não tem um foco romântico). A própria barra ("slash", /), quando colocada entre os nomes dos personagens, acabou por tornar-se uma etiqueta abreviada para um relacionamento romântico, independentemente se o par é heterossexual ou homossexual, romântico ou erótico.[11]


Referências

  1. Bacon-Smith, Camille. "Spock Among the Women." New York Times Sunday Book Review, November 16, 1986.
  2. Norman Bryson; Michael Ann Holly & Keith P. F. Moxey (1994). «Feminism, Psychoanalysis, and Popular Culture». Visual Culture: Images and Interpretations. [S.l.]: Wesleyan University Press. pp. 304–305. ISBN 0-8195-6267-X 
  3. Kustritz, Anne (setembro de 2003). «Slashing the Romance Narrative» (PDF). The Journal of American Culture. 26 (3): 371–384. doi:10.1111/1542-734X.00098 
  4. Laura, Marcus; Peter Nicholls (2004). The Cambridge history of twentieth-century English literature. Cambridge University Press. p. 799. ISBN 978-0-521-82077-6.
  5. Allington, Daniel (March 2007). "How Come Most People Don't See It?": Slashing the Lord of the Rings". Social Semiotics. 17 (1): 43–62. doi:10.1080/10350330601124650.
  6. Dhaenens F.; Van Bauwel S.; Biltereyst D. (2008). «Slashing the Fiction of Queer Theory». Journal of Communication Inquiry. 32 (4): 335–347. doi:10.1177/0196859908321508 
  7. Weaver, John A.; Karen Anijar; Toby Daspit (2003). Science Fiction Curriculum, Cyborg Teachers, & Youth Culture(s). US: P. Lang. p. 84. ISBN 0-8204-5044-8 
  8. Brennan, Joseph (2014). «'Fandom is full of pearl clutching old ladies': Nonnies in the online slash closet». International Journal of Cultural Studies. 17 (4): 363–380. doi:10.1177/1367877913496200 
  9. Sean, Redmond (2004). Liquid Metal: The Science Fiction Film Reader. US: Wallflower Press. p. 279. ISBN 1-903364-87-6 
  10. Francis, Conseula and Piepmeier, Alison. "Interview: Joanna Russ" ''Journal of Popular Romance Studies'' #1.2; March 31, 2011. Jprstudies.org. Retrieved on 17 October 2011.
  11. a b c Tosenberger, Catherine (2008). «Homosexuality at the Online Hogwarts: Harry Potter Slash Fanfiction». Children's Literature. 36: 185–207. doi:10.1353/chl.0.0017 
  12. Sarah Nathan (September 2006) "Dr Ooh gets four gay pals", The Sun", Retrieved 2006-10-06. "GAY Doctor Who star John Barrowman gets four BISEXUAL assistants in raunchy BBC3 spin-off Torchwood."
  13. Dery, Mark. Glossary. Flame Wars: The Discourse of Cyber Culture. North Carolina: Duke UP, 1994.
  14. Viegener, Matias. "The Only Haircut That Makes Sense Anymore." Queer Looks: Lesbian & Gay Experimental Media. Routledge, New York: 1993.
  15. Dundas, Zach, "Hobbits Gone Wrong." In Willamette Week, July 14, 2004.
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