Cartas tupis dos Camarões
REVISTA
DO
Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano
CARTAS TUPIS
DOS
CAMARÕES
Bem mais ardua do que a principio suppuz foi a tarefa que tomei de rever as Cartas tupis dos Camarões.
Confesso que só com grande difficuldade consegui entender o tupi em que foram escriptas as duas primeiras cartas, as unicas em que logrei fazer alguma cousa na restauração e traducção do texto. As restantes estão ainda para mim indecifraveis; são verdadeiros enigmas.
Nota.No decurso das pesquizas que, em 1885, por incumbencia deste
Instituto, o Dr. José Hygino Duarte Pereira realizou no Archivo da
Companhia das Indias Occidentaes, em Haya, encontrou uma serie
de cartas em tupi dirigidas por D. Antonio Felippo Camarão, D. Diogo
Pinheiro Camarão e Diogo da Costa a Pedro Poty, Antonio Paraupaba
e outros indios da Parahyha e do Rio Grande do Norte, que se tinham
alliado aos Hollandezes. Erão ein numero de seis, a 1ª è à 5ª firmadas
por Diogo Pinheiro, a 2ª por Diogo da Costa, e a 3ª, 4ª e 6ª pelo capitão-mor Camarão; o conteúdo do todas ellas era identico os dois Camarões e Diogo da Costa tentavam induzir os seus parentes, quo tomaram voz por Hollanda, a se bandearem para os Portuguezes. Foram
escriptas uma em Agosto e as outras em outubro de 1645 e as acompanhava uma tradução em hollandez feita pelo ministro da igreja
reformada Johannes Eduards.
« Copiei pessoalmente, disse o nosso saudoso confrade, cinco destas cartas; não ouzando, porem, copiar a ultima, cuja letra estava um pouco apagada, fi-la photographar e da reproducção photographica trago os dois exemplares que neste momento apresento ao Instituto. »
[ 282 ]As cartas tupis a que me refiro não foram escriptas por individuo que conhecesse a lingua geral. Verifica-se do exame feito que esses documentos foram redigidos sob dictado; e como quem os escrevia não sabia a lingua, as palavras sahiram mutiladas e, esphaceladas as syllabas, passaram estas a formar palavras extranhas de uma lingua absurda e incomprehensivel.
A julgar pelo modo por que taes cartas se escreveram quem é que poderá reconhecer, por exemplo, nas palavras que se seguem :
Asar maseos bar ōesas signu lados,
o primeiro verso dos Lusiadas de Camões?
« Frei Manuel do Salvador affirma que D. Antonio Felippe Camarão não só sabia ler e escrever, como possuía os rudimentos do latim [1]. Nenhuma razão temos para duvidar do testemunho do autor do Valeroso Laurideno. De documentos hollandezes consta que em cortas aldeias o mestre escola era indio, taes mestres deviam pelo menos saber ler e escrever na sua lingua materna. Porque não o saberiam tambem os dous Camarões, educados desde a sua mocidade pelos Portuguezes ? E por que não haviam de escrever em tupi aos seus parentes, que abandonaram a cauza dos moradores para se lançarem com o inimigo? »
« A leitura destas cartas nos confirma no presupposto de que foram escriptas ou pelo menos dictadas por aquelles a que são attribuidas. »
« Ellas tem um cunho quo de algum modo authentica a sua procedencia : aquellas phrases infantis, desconnexas, a repetir monotonamente o mesmo pensamento, devem ter sido concebidas pelo espirito de um potiguar.
« Em uma outra hypothese. as cartas em questão são preciosos textos para o philologo que se dedica no estado do tupi da costa, de que, afóra algumas orações, vocabularios e grammaticas compostas pelos padres jesuitas, restam-nos mui poucos monumentos. » [2]
Attendento a estas considerações do nosso pranteado mestre e amigo, deliberanos publicar aqui as referidas cartas; para este fim recopiamo-las, bem como as traducções hollandezas de Johannes Eduards, passamos estas para o portuguez, e submettemos tudo à apreciação competentissima do illustre Dr. Theodoro Sampaio, um dos melhores sabedores actuaes da lingua tupi. A’ nimia gentileza deste nosso eminente confrade devemos o substancioso trabalho que se vae ler.
Alfredo de Carvalho.
[ 283 ]A graphia das cartas tupis não nos dá um documento tupi, assim como não é portuguez o verso sobredito, tal como se acha escripto.
Estamos, portanto, diante de documentos cuja graphia viciada os torna quasi indecifraveis, escriptos como estão n’uma lingua que ninguem conhece.
Demais, o autor do original, isto é, o individuo que servio de escriba tinha uma maneira de escrever confusa e varia. Os mesmos vocabulos, elle os escreve, na mesma carta, ora de uma fórma, ora de outra. O original, entretanto, deve ter soffrido bastante com os annos. Letras e até palavras inteiras ficaram esmaecidas, borradas on totalmente illegíveis. A accentuação, tão essencial á lingua escripta, indispensavel na lingua tupi, não existe nesses documentos. As letras, como m e n, dando som nasal ás vogaes a que se ajunctam não existem tambem.
Alem disso, é bem provavel que, no copiar, se tomassem uns caracteres por outros, augmentando assim tão lamentavelmente a confusão que bem se póde dizer que as duas cartas tupis, ora traduzidas, são verdadeiros logogriphos.
Si, ao que parece, José Hygino não sabia o tupi, o que decerto muito teria concorrido para augmentar-lhe a difficuldade da copia, não menor difficuldade e confusão são as que se originaram da qualidade de sua propria letra, a qual, como se sabe, era pessima e quasi illegivel.
A versão hollandeza de Johannes Eduards, de que o Sr. Dr. Alfredo de Carvalho fez a traducção para o portuguez, nem sempre é fiel em relação ao que se apura da copia do original tupi. Não é uma versão ao pé da letra, mas sim uma traducção livre e ao sabor da lingua para a qual primeiro se vertera. Não obstante isso, a versão hollandeza traduzida foi para nós de grande auxilio na decifração dos textos, ainda que em mais de um ponto tenhamos divergido no sentido dos vocabulos e, em outros, tenhamos chegado a resulados diametralmente oppostos.
A carta de Diogo Pinheiro Camarão a Pedro Poty e a que a este escreveu o capitão Diogo da Costa, as duas primeiras cartas que conseguimos traduzir, são não obstante isso, docu[ 284 ]mentos interessantissimos, não só do ponto de vista historico como do linguistico.
A authenticidade dellas é patente.
Os dois missivistas, indios potyguares, amigos e alliados dos Portuguezes, instam com Pedro Poty e outros parentes seus que se deixaram ficar na Parahyba e Rio Grande do Norte, ao lado dos Hollandezes, para que deixem a amisade destes e se passem para os Portuguezes onde se acham os principaes da sua tribu, e, para isso conseguirem, empregam o melhor da sua rhetorica selvagem.
Depois da assignalada victoria do Monte das Tabocas em Agosto de 1645, os Independentes de Pernambuco, ao mando de João Fernandes Vieira, depois de apertarem o cerco do Recife com as fortificações do arraial do Bom Jesus, depois de submetterem os fortes hollandezes de Porto Calvo e Penedo, depois de tomarem Iguarassú e invadirem Itamaraçá que então era o celeiro donde se abasteciam os de Hollanda, resolveram prestar soccorros aos infelizes moradores da Parahyba e do Rio Grande do Norte.
O espirito de rebellião contra o dominio hollandez lavrava já como um incendio nestas duas capitanias cujos habitantes já não supportavam mais a fera oppressão de um governo que, se fôra sabio e magnanimo na prosperidade, se tornava agora tyranno e cruel na hora do declinino.
Na Parahyba e no Rio Grande do Norte, as autoridades hollandezas, temendo o levante geral, que o recente e estrondoso successo dos Independentes estimulava, deram de praticar as maiores atrocidades, victimando os moradores á falsa fé. Contando com auxilio dos tapuyas do sertão, inimigos dos potyguaras que se alliaram de principio aos portuguezes, contando mesmo com alguns dos potyguaras como os do commando de Pedro Poty e Antonio Paraupava, as forças hollandezas entravam pelas terras, pelos engenhos e povoados, talando tudo, praticando toda a sorte de tropelias e immoralidades, com o fito de amedrontar e conter os moradores pelo terror.
Pedro Poty, proximo parente de Antonio Felippe Camarão e de Diogo Pinheiro, alliados dos Independentes, ao serviço dos hollandezes, fazia iucursões, verdadeiras razzias através das populações desarmadas por ordem do governo, e assim se [ 285 ]constituira o flagello da gente de procedencia portugueza. Em 1645, anno em que foram eseriptas as cartas tupis dos Camarões, Ling, governador da Parahyba, mandara-o vir do sertão com os seus guerreiros selvagens para o auxiliar a conter a rebellião imminente e com elle se encerrara na fortaleza do Cabedello, como n’um centro de resistencia. Ao mesmo tempo fazia sair o famigerado Jacob, hollandez sanguinario, á frente de forças regulares, acompanhadas de tapuyas ferozes e de alguns potyguaras, para atacar Canhaú cuja população trucida vergonhosamente ; manda atacar Goyanna cujos moradores se salvam como por um milagre, e, fazendo-o atravessar a Parahyba, trata esta capitania com a fereza de um vandalo. Jacob cae depois sobre o Rio Grande do Norte, põe cerco ao forte do Potengy que consegue fazer render com propostas enganosas de paz, matando no porto de Ymearaçú, no meio de tormentos inauditos, os infelizes prisioneiros cujas mulheres e filhas, por cumulo de crueldade, foram então entregues á sanha e lascivia dos feros sequazes de Antonio Paranpava,. « Nunca a demasia andou tão desenfreada, diz o autor do Castrioto Lusitano, porque nunca se vio mais livre o desaforo com que a lascivia rompeu pelas leis do pejo e da lastima. »
Inauditas eram as atrocidades commettidas naquellas duas capitanias. A peste, flagello talvez menos terrivel, assolava a um tempo as cidades e o campo, e a rebellião, instigada por tanto soffrer, estendia-se por toda a parte.
Foi então que os chefes independentes que já antes haviam mandado o capitão Diogo da Costa, com um troço de gente do Camarão, a persuadir e a attrahir os indios auxiliares do inimigo, com offertas de amizade e vantajoso partido se quizessem vir militar debaixo das suas bandeiras, enviaram ainda a João Barbosa Pinto e Diogo Pinheiro Camarão em soccorro da gente perseguida da Parahyba e do Rio Grande do Norte.
Partiram os dous cabos de guerra, atravessando a Parahyba onde se engrossaram as suas forças e, pondo-se de novo a caminho em meiados de Outubro de 1645, só conseguiram entrar no Rio Grande, nos primeiros dias de Novembro, pelas muitas difficuldades de jornada tão longa, mas infelizmente já tarde para impedirem os grandes crimes a que acima nos referimos.
[ 286 ]A carta de Diogo Pinheiro Camarão, dirigida a Pedro Poty é precisamente dessa epocha. Tem a data de 21 de Outubro de 1645 e parece ter sido escripta durante a travessia da Parahyba para o Rio Grande do Norte ; leva intuitos de paz e de amizade ; invoca o sentimento christão do destinatario ; lamenta que este se conserve inimigo sem ter sido molestado ; diz-lhe que foram enviados escultas para sondar os animos e que Diogo da Costa fora com ordem de tomar alguns homens e mulheres para mensageiros ; e concita o destinatario a deixar o partido hollandez.
Mas não antecipemos as cousas, vamos analysar essa carta de Diogo Pinheiro Camarão ao seu parente Pedro Poty, examinando primeiro o texto tupi, segundo a copia do original, para dar-lhe, se passivel fôr, a graphia que verdadeiramente deve ter, e a traducção respectiva que, só então, terá cabimento.
Escrevemos, em caracteres griphados, e em primeiro logar, o texto copiado por José Hygino, e por baixo delle, em caracteres romanos, o tupi restaurado, fazendo-o corresponder termo a termo com o texto copiado.
1ª CARTA
Ao Senhor Capitão Pedro Poty inde iara Pay, tupae
Ao Senhor Capitão Pedro Poty yande yára Pay-Tupā
tuobe catu tomeeng Endeche Ieo papera Endeeeeping ianode
tecobé catú tomeeng ndèbe. [3] Ieo papera ndêreeping ianondê
xerori catuap. [4] opabenhe pem tra nigina reee quiperaduba
cheroricatú opabinhê pê maraneyma [5] recê. [6] Quiporanduba
xeabeu noxe marainhe guituobo pee me maemonhang-agu-
che mbiá nache maraní guitecobo peeme maemonhang-agu-
[ 287 ]ama rece mae pere mimotara maemonhang aguama
ama rece? [7] Mãe pê remimotar? [8] Maemonhang-aguama
rece.
recê? [9]
Ay mo doaxe soldados Ebapo uderapy pipe pecemo rece
Aymondó a che soldados ebapó ndêrupi pypé pecemo rece
pequay agua amocema repiaca guiy abouy modo Cupi-
pequay-aguama ocema, repíaca gu’yabo. [10] Aymondó Capi-
tão Diogo da Costa pejo picig abamo cojpo Cunhā amo Ta-
tão Diogo da Costa peyé picig abá mocōi po cunhã amó Ta-
pirymo getu pera mocemae yeo oroyuxt peye Icupe pey-
peiy mongetá-pirama mocema ae ico oroyur peyé supé peyé
mogetara nhe [11]
mongeta ranhé.
Imrogeta rujre Tapeymo-do agua mega Cuapa guy
Imongetá royré Tapeiy mondó-agnama Mongaguape gui-
yabo Pay tupa inde iara remigua bamo Icoxe nhe-
yabo. [12] Pay tupā yandê yara remenguabamo ico che nhe-
enga ajmodo Endebe Snr. Pedro poty maramo xea
enga. [13] Aymondó ndėbe Snr. Pedro Poty maerāmō che
ndemama reto catu. Eyor Ecema anhungu ruta murengara
yandê anama retê catú. Eyor, ecema anhanga retama rangana
Çuy Ey enag chrystam ramo ndereço mara ereijmo
çuy. [14] Eyeuab christamramo nde recó? [15] Marā oro
[ 288 ]Canheng motarete Catupe christam ramo ndereço
ymocanheng motáretè catupe, christam-ramo ndê recô? [16]
mara Ereijmo eanheng motaretepe Taytipa rajramo nde
Mārā oro ymocanheng motaretêpe Pay-tupã rayramo ndê
reço mara Ereijco potaretepe tecocuaby mamo
recô? [17] Marā reicô potaretêpe tecocuabey mamô? [18]
Erenhemo caheng motarete catu ende anhe Eycebo mo-
Orenhemo canheng motaretô catú ndê [19] Anhey cemba mo-
bigpe christam caonhema Erecepia Carayba na ocanhen-
bipe christam canhema repiaca? [20] Carahyba na ocanhen-
gbae rua maranamo christam ramo cicarine duij ccatinij Pay
gbae rua maranāme christamramo cicurimé kiçuy canhy Pay
tupa Imocanhema Icole ore Ico perenoce ma mota Snr.
tupā nemocanhema icobé. [21] Ore ico peyé nocema motá Snr.
Capitão-mór Ant.º Felipe Camarão nhenga rupi opabenhe
Capítão-mór Ant.º Felippe Camarão nheenga rupi opabinhê
Caraijba rubixaba nheenga supibe xeputuba bete a guite-
carayba rubixaba nheenga rupibe. [22] Che putupabetê guite-
cebo perece oreçuij penheguacema rapiaca napeanama
cobo pêrecê oreçuy penhêguacema repiaca. [23] Na peê anama
ruatepe ore moe eybamo peemoncij pee na peij-
ruā etêpe? [24]. Oré mbae ayba mo peême, ney peê na peyé
monhadgi mae aybamo orebe Emoyqueihe Capitão-mor
monhang mbaeayba mo orébe. [25] Emoyqueybe Capitão-mór
Papera Çou Endebe E moquejbe Anto. Paraupaba çupe ame
papera çuy ndebe, emoyqueybe Antº. Paraupaba supê amô
[ 289 ]Capitão-mor Papera Çou Paitupa tamo ojque pepio-
Capitão-mór papera çuy. [26] Pay-tupā temô oykê pepie
peme christam gue aemo peçemo oreroribetemo peçe
peême christãoguê aé mo pecêmo. [27] Oré roribetêino pecê
meme perepia Came Emoquijbe mocoj Cunhā ajmodo
même! [28] Pê repiaca mo emoqueybe mocõi cunhã aymondó
peema mora duba reraçooe tomobeu quecereco Endebe
peême moranduba reraçô aé tomombeú ke che recô ndébe. [29]
Aijponho moraduba Çou pej Cobe Catu Dej Cobo Paetuba
Ayponho moranduba çuy peyé icobé catú nde icobo Pay-tupā
toyco Peyrumana aye. 21 de Outubro de 1645 annos nderibira
toycô peyrunamo ayê. 21 de Outubro 1645 annos. Ndêribira
nderau Çupara Sargento mor Dom Diogo Pinheiro Camarão
ndê rauçupara Sargento mór Dom Diogo Pinheiro Camarão.
Suscripto: Ao mor capitão Pero Poty q. Dª. Gº
Ao mór-capitão Pedro Poty que Deus Guarde.
Traducção da carta de D. Diogo Pinĥeiro
Camarão a Pedro Poty.
A traducção, para maior fidelidade e precisão no verter o pensamento do missivista vae aqui verbum ad verbum. Para isso conseguir, tomarei a carta tupi, tal como a restauramos e collocaremos por baixo de cada palavra a traducção portugueza correspondente, sem mudar em nada a disposição da phrase na syntaxe tupi.
TRADUCÇAO
Ao Senhor Capitão Pedro Poty yandêyara Pay-tupā
Ao Snr. Capitão Pedro Poty nosso senhor Deus
tecobé catú tomeeng ndébe. [1]
vida bôa queira dar a ti.
[ 290 ]Ico papera ndê repiaca iamondê che roricatú opabinhê
Esta carta tu vejas antes que eu alegrei-me muito de todos
pê maraneyma recê.
vós saúde pela. [2]
Quiporanduba che mbiá na che marani guitecobo peê-
Emquanto minha gente nem eu indisposto ando contra
me maê monhang-aguama recê
vós porque haveis de fazer pelo? [3]
Maé pé iemimotar? [4]
Porque vós procedeis á falsa fé?
Maé monhang-aguama recê? [5]
Porque haveis de fazer pelo?
Aymondó a che soldados ebapó udérupi-pypé pecêmo recê
Mandei estes meus soldados lá para comtigo. poucos aos
pequay-aguama ocema repiaca guiyabo. [6]
haveis de governar, ide observae dizendo eu.
Aymondó Capitão Diogo da Costa peyê picig abú mocōi
Mandei o capitão Diogo da Costa a vós pegar gente duas
cunhā amó tapeiy mongetá-pirama, moce-
mãos mulheres algumas tapuyas para serem faladas, fazendo
ma aé ico oroyur peyé sué peyê mongetá-ra-
sair ellas esta nossa vinda vós para vós communicareis depois
nhé [7]
que.
Imongetá roycé Tapeiy mondó-aguama Mongaguape
Falasse final.te tapuyas houvesse de mandar Mongaguape
guiyabo. [8]
dizendo eu.
Pay-tupā yandê yara remenguabamo ico che nheenga.
Deus nosso senhor é que ordena esta minha linguagem.
Aymondó ndébe, Snr. Pedro Poty, materâmó che yandê
Mandei a ti, Snr. Pedro Poty, porque eu sou dos nossos
anamareté catu. [9]
parentes verdadeiros e bons.
Eyor, ecema anhanga retama ranguaçuy. [10]
Vem, sahe diabo morada figura da.
Eycuab christamramo nde recó?
Não sabes christão que tú és? [11]
[ 291 ]Marã oro ymocanheng mota-retê-catâpe christam-ramo
Porque te fazer perder has de querer tanto christão si
ndé recô?
tu és? [12]
Marā oro ymocanheng motá-reté-pe Pay-tupā rayra mo
Porque te fazer perder has de querer Deus filho si
ndê recó?
tú és? [13]
Marā reicó potá-reté-pe tecocuabêy mamô?
Porque estar has de querer impios onde? [14]
Orenhemo canheng potá-retê-catú ndé?
A ti mesmo perder has de querer tanto tú? [15]
Anhêy cemba mobipe christum canhema repiaca ?
Por esse modo quantos christãos se perdendo vês? [16]
Carayba na ocanhengbaé ruā maraname christam-râmo
Os brancos não se perdem assim no vicio christãos sendo
cicurimé kiçuy canhiy Pay-tupā nemocanhema icobé.
logo dahi fogem Deus não faz perder é que. [17].
Oré ico peyenocema motá Snr. Capitão mór Ant."
Nós esta vossa saida queremos Snr. Capitão mór Antº.
Phelippe Camarão nheenga rupi opabinhê carayba rubixaba
Felippe Camarão palavra pela todos os brancos capitães
nheenga rupibe.
palavra sob. [18]
Che putubabetê guitecobo pê recê oréçuy penhêguace-
Eu muito sentido ando por vossa causa de nós vossa sahi-
ma repiaca.
da vendo. [19].
Na peê anama ruā etêpe?
Não vós parentes porventura verdadeiros? [20]
Oré mbaé ayba mo peéme, ney peê na
Nós cousa mal não fazemos a vós assim tambem vós não
peê monhang mbae ayba mo orébe.
vós tentar cousa má fazer a nós. [21]
Emoyqueybe Capitão-mor papera çuy ndébe, emoyqueybe
Esta Capitão-mór carta do a ti esta
Antonio Paraupaba supe amó Capitāo-mor papera çuy.
Antonio Parapuaba para outro Capitão-mór carta do. [22]
[ 292 ]Pay-tupā temÓ oyké pepie peême christamguê
Deus permitta entrar a chamar a vós christãos outra vez
aé mo pecêmo.
elle faça em pouco. [23]
Oré roribetêmo pecê même !
Nós nos alegrariamos quanto sempre! [24]
Pê repiaca mo emoyqueybe mocōi cuuhā aymondó peê-
Vós vereis estas duas mulheres mandei a
me moranduba reraçó, aé tomombeú ke che recó ndéde.
vós noticias levar, ellas que contem onde eu estou a ti. [25]
Aypó nho moranduba çuy pê icobé catú nde icóbo
Essas nossas noticias de vós estaes bons comtigo
Pay-tupā toycó peyrunamo ayê. [26]
Deus esteja e com vossos companheiros na verdade.
21 de Outubro 1645 annos. [27]
Ndêribira, ndêrauçupara Sargento-mor Dom Diogo Pi-
Teu irmão, teu amigo Sargento-mor
nheiro Camarão.
(Subscripto)
Ao Snr. Capitão Pedro Poty q’. D.º g.ª
Tradução livre da carta tupi de D. Diogo
Pinheiro Camarão a Pedro Poty
Ao Snr. Capitão Pedro Poty Deus Nosso Senhor conceda bôa saúde.
Ao veres esta carta, muito prazer tenho pela saude de todos vós.
Uma vez que nem eu nem minha gente é inimiga vossa porque haveis de sel-o vós outros?
Porque procedeis á falsa fé?
Porque isto?
Mandei lá estes meus soldados para comtigo, recommendando eu : procedei com cautella, ide e observae.
Mandei para ahi o Capitão Diogo da Costa a pegar gente, umas dez mulheres tapuyas para serem instruidas, despedindo-as depois que lhes communicasse esta nossa vinda para [ 293 ]vós ; recommendando eu que finalmente lhe falasse de mandar as tapuyas ao Mongaguape.
E’ Deus Nosso Senhor quem me dicta estas palavras. Se te mandei procurar, SNr. Pedro Poty é porque sou dos nossos parentes bons e verdadeiros.
Vem, sae deste inferno. Não sabes que és christão? Porque fazes tanto por te perder se és christão? Porque te has de querer perder se és filho de Deus? Porque has de ficar entre os impios? E’ tanto o teu desejo de perdição? Quantos christãos vês que se perdem por este modo?
Os brancos não caem em perdição porque sendo christãos, logo a evitam e Deus não os desampara.
Desejamos nós a vinda de vós todos sob a palavra do Snr. Capitão-mór Antonio Felippe Camarão e sob a de todos os capitães portuguezes.
Por amór de vós ando muito sentido, vendo-vos afastados de nós. Pois não sois verdadeiros parentes nossos ?
Não vos fazemos mal algum ; portanto, nenhum mal tambem deveis tentar contra nós outros.
Vae esta carta do Capitão-mór para ti e mais uma de outro Capitão-mór para Antonio Paraupaba.
Permitta Deus e o faça em breve que tornemos a considerar-vos christãos outra vez. Quanto nos alegrariamos então !
Estas duas mulheres que verás, mandei-as levar noticias a vós outros e ellas que te digam onde eu estou.
Vão estas noticias nossas na esperança de que estejas bem de saúde e que Deus, na verdade, esteja comtigo e com os teus companheiros.
21 de Outubro de 1645 annos.
Teu parente e teu amigo Sargento-mór D. Diogo Pinheiro Camarão.
(Subscripto)
Ao Snr. Capitão Pedro Poty q’. D.ª G.º
2ª CARTA
Copia do original tupi de Diogo da Costa, com
restauração da linguagem termo a termo
Paitu panaê xepaperi aimodo [30] Edebe māi tecópe
Pay-tupā aé che papera aymondó ndebe. [31] Măe tecópe
ereimōi cig yaie monhabig teripe maepe Ereimoa cig
ereymō acy? Māe monhang byteripe? Māepe ereymō acy?
Eior cecima acûe mebe aicoxecane oramo derece nde-
Eyor, cecema. Acoimōbé aicó che caneōrāmo ndê recê. Ndê-
rique ig rabé capitão-mór abameme diribigri saligento mor
riquey rahé capitão-mór abamemā nde ribyra. sargento-mór
abe Ecemi coxé papera ripiapa rupibe marape ereycó
abé? Ecema, ico che papera repiaca rupibe. Marāpe ereycó
apiabaiba raûcupa ixepenacerau cubiicpe marape
apiaba ayba rauçupa ichebe? Nache rauçubype? Marāpe
rei çog reganadeipe ahé Eyahaxube repeabo deiocei
reyçog che ganado cipo abé? Evahó chebe che peábo ; nde yocê
xepemo caraiba dengao nai mobeai xue ndebe opotar
ichépemo. Carayba ndè angau na imombeu icué ndêbe opata-
eté caraiba murubixaba decema coribeta ni é opanhehe co-
retê carayba morubichaba ndé cema coribetê niā opabinhé ca-
raibe.a paraibiguara deiemga guera nirime decema
raybetá paraybiguara ; ndê nheenga guera nirime ; ndé cema
abaime cimoun abamo xegenegacuapa taconé dereno-
abaeyma eci mo ou abá mo che ynheenga cuaapa tacó ndê reú ;
cema coino ede yenguapa barupi ome- mota niā murubi-
acema coipo ndê ycú cuapabu rupi. Omimotar niā morubi-
xaba decemacere moegma cuctendeta Eyorecema na-
chaba ndê cenia recê moeyma cûeté ndetá. Eyor, ecema. Na
xerau au peiepe omanacōe deribira lippe tocaia ya-
che rauçú peyepê? Omamō cōi ndê ribira Lippe Tocaia. Yan-
[ 295 ]dece omano mucuipe aiponhote seribirigui de requi igra
dê co omamō. Meguipe aiponhóte ndê ribirigui ndê riqueiy,
capitão diogo da costa ne dacaceté de Oitubro 1645 a.
capitão Diogo da Costa ne ndaeceté de Outubro 1645 annos.
Façamos agora a traducção litteral, isto é, termo a termo, respeitando em tudo a ordem caracteristica da syntaxe tupi.
Tradução da carta de Diogo da Costa a Pedro Poty, de accordo com a restauração feita acima:
Pay-tupā aé che papera aymondó ndêbe
Deus quer minha curta eu mande a ti.
Mãe tecópe ereymō acy?
Que saúde tu passas irmão?
Mãe monhang byteripe!
Que fazes ainda?
Mãepe ereymō acy?
Que fazes tu irmão?
Eyor, ecema.
Vem, sae.
Acoimōbé aícó che caneōramo ndé recé.
Desde quando estou eu a cançar-me por ti.
Ndé riquey rahé Capitão-mór abamemā ndéribyra
Teu irmão tambem o Capitão-môr o velho, teu irmão o
sargento-mor abé.
sargento-mór tambem.
Ecema, ico che papera repiaca rupibe
Vem, esta minha carta tu vejas logo que.
Marāpe ereycó apiaba ayba rauçupa ichébe?
Porque razão estás homem máu teu parente commigo?
Na che ruuçubype?
Não sou eu teu amigo?
Marāpe reyçog che ganado eipo abé?
Porque maltratas meu gado sem causa tambem?
[ 296 ]Eyahó chebe che péabo; nde yocê
Retira-te para mim, para o meu desterro; segue
echépemo.
o meu conselho.
Carayba ndé angáu na imombeú icué ndébe
Os brancos até debalde não o disseram muitas vezes a ti
opolaretė carayba morubichaba ndé cema cori-
que muito desejavam os brancos chefes que sahissem quanto
betê niā opabinhé caraybelá paraybiguara ; ndê nheenga-
antes junta.’ todos os brancos parahybanos ; que tu houvesses
guera nirime ; ndê cema abaeyma, eci
de falar com certeza ; tu sahindo ser gente, approxima-te,
mo ou abá che nheenga cuaapa tacó
faze que venha um homem fazer me falar avisando ser certo
ndé reú; acema coipo ndé ycú cuapaba rupi.
que tu vieste; saio eu ao encontro tu estás o logar até.
Omimotar niā morubichaba ndê cema recê moeyma cûeté
Deseja certa.te o chefe tua saida pela nāo fasendo questão
ndetá.
os teus.
Eyor, ecema.
Vem, sae.
Na che raucu peyépe !
Não me estimaes vós outros?
Omamōcōi ndéribyra Lippe Tocaia.
Esteve á morte teu irmão Felippe Tocaia.
Yandé co omamō.
Nosso amparo morreu [32]
Meguipe aiponhóte ndé ribyra ndé riquey Capitão
Communica isto sómente teu irmão mais moço capitão
Diogo da Costa ne ndaeceté de Outubro 1645 annos.
Diogo da Costa não muitos de Outubro 1645 annos.
[ 297 ]Traducção livre da carta de Diogo da Costa a Pedro Poty
Quer Deus que eu te mande esta minha carta.
Como tens passado de saúde meu irmão?
Que fazes tu ainda ?
Que estaes fazendo meu irmão ?
Vem, sae.
Desde quanto estou eu a cançar-me por ti, assim como teu irmão o velho capitão-mór e tambem teu irmão, o sargento-mór.
Vem, logo que recebas esta minha carta.
Porque motivo estaes enfadado commigo que sou teu parente?
Não sou eu teu amigo?
Porque maltratas o meu gado sem causa tambem?
Retira-te para mim, para o meu desterro ; segue o meu conselho.
Os brancos não te disseram muitas vezes debalde que os chefes brancos (os portuguezes) muito estimavam que tu sahisses quanto antes, junctamente com todos os moradores brancos da Parahyba ; e que tu houvesses de falar com certeza ; se sahires sem gente, approxima-te e faze que venha um homem falar-me, avisando ser certa a tua vinda, e então eu saio ao teu encontro até o logar onde te achares.
Estima certamente o chefe a tua sahida, não fazendo questão os teus.
Vem, sae.
Não me estimaes vós outros?
Esteve á morte teu irmão Felippe Tocaia.
Nosso amparo morreu.
E’ só isso o que tem a communicar-te o teu irmão mais moço, Capitão Diogo da Costa, aos primeiros dias de Outubro de 1645.
Theodoro Sampaio.
Bahia, 17 de Março de 1907.
NOTAS Á TRADUCÇÃO
^ (a) A phrase inicial da carta tupi não offerece difficuldade na sua traducção ; é, pode-se dizer, a phrase corriqueira com que se costuma começar uma carta em toda a parte: « Ao Snr. Capitão Pedro Poty nosso senhor Deus vida bôa dê a ti, » phrase que, com outra disposição mais ao sabor do nosso idioma portuguez, se escreverá: « Ao Snr. Capitão Pedro Poty Deus Nosso Senhor lhe conceda boa saúde. »
O verbo tomeeng, aqui traduzido por dé ou conceda é a forma permissiva do verbo ameeng que quer dizer dar, entregar, forma que no tupi se indica pela perfixação aos indices e aos pronomes pessoaes de ta, ti ou simplesmente t. O verbo ameeng no tupi costeiro ou amee no guarani, significa dar, mas, na forma permissiva, em que se escreveria tameeng ou taméé, passará a significar consentir que dê. Assim, tomeeng, na terceira pessoa do singular, se traduzirá consinta que dê ou queira dar, aqui equivalente a conceda.
O termo ndebe que, no texto copiado, vèm viciosamente escripto, com lettra grande, Endeche, é o pronome da segunda pessoa no dativo, que outros escrevem endebe e se traduz a ti ou te. No tupi é o tratamento usual de um a outro interlocutor que nós brasileiros commummente substituimos pelo pronome da terceira pessoa. Em vez de dizermos Deus TE conceda boa saúde..., dizemos por vicio Deus LHE conceda boa saúde...
Nesta traducção, seguimos o uso commum entre nós. Johannes Eduards traduzio : « Deus... nos dè uma boa vida. « isto é, deu a ndebe o mesmo significado de peême, segunda pessoa do plural no dativo.
^ (b) Este segundo periodo litteralmente traduzido, á feição tupi, quasi que não tem sentido para o portuguez se aos vocabulos traduzidos não se lhes dér a collocação e inter-dependencia que a expressão do pensamento a nosso modo requer. « Esta carta tu vejas antes que eu alegrei-me muito de todos vós saude pela. » A collocação das palavras ao modo portuguez é outra bem diversa: « Antes que tu rejas esta carta, eu muito me allegrei pela saule de todos nós, » phrase esta que ainda se pode substituir pela que se segue, em tudo equivalente: « Ao veres esta carta tenho prazer pela saude de todos nós. » No portuguez communissimo das nossas missivas diriamos ainda: « Ao receber esta, fique V. sciente de que terei muita satisfação pela saúde de todos. »
Na traducção de Johannes Eduards lè-se, vertido do hollandez : « Mesmo antes de terdes visto a minha carta muito me alegrei ao saber da saúde de todos vós. »
^ (c) Este terceiro periodo da carta de Diogo Pinheiro Camarão é a expressão de uma queixa. O missivista manifesta-se sentido porque seu povo e elle proprio não nutrindo inimizade contra os de Pedro Poty. isto é, contra os outros Potyguaras que se tinham alliado aos Hollandezes nas capitanias por estes submettidas, fossem entretanto molestados por elles, allusão certamente ás atrocidades praticadas pelos indios no Rio Grande do Norte e na Parahyba ao mando de Pedro Poty e do [ 299 ]famigerado Jacob. Diz então o Camarão, no tupi, aqui termo a termo traduzido: « Emquanto minha gente nem eu indisposto ando contra nós, porque haveis de fazer contra? » Por outras palavras: « Emquanto nem minha gente nem eu anda indisposto contra vós porque haveis de tentar contra nós? »
A traducção hollandeza de Johannes Eduards differe um pouco da nossa, pois é feita nestes termos : « Emquanto eu me conservo quieto sem nada tentar contra vós, porque quereis ser contra nós? » O traductor hollandez tomou a phrase tupi mal escripta «...xeabea-noxe maraninhe guitecobo pee me...» como se estivesse escripta «...che aba nhõte marãni guitecobo peême...» porque só com esta interpretação é que poderia elle verter a phrase do texto: «...xeabea noxe...», como eu me conservo quieto…« Mas, assim interpretando, o resto da phrase «...maraninha guitecobo pee me...» fica logicamente em contradição, porque essa phrase que é o mesmo que « marãni quiterobo peême....» quer simplesmente dizer, palavra por palavra: «...indisposto ando contra vós.... Assim, pela versão de Johannes Eduards, tomada termo a termo, teriamos: «...eu me conservo quieto, indisposto ando contra vós...» o que de facto importa em contradicção. Entretanto, interpretando a mesma phrase do texto copiado como o fizemos, escrevendo o tupi com a correcção necessaria: «...che mbeá na che maranni guitecobo peême...» e dando-lhe a traducção verbum ad verbum «...minha gente nem eu indisposto ando contra vós...», o pensamento se harmonisa em toda phrase, sem a minima contradicção. Na verdade, o missivista se queixa de uma injustiça dos seus parentes que ficaram com os Hollandezes e lhes diz: « Emquanto nem minha gente nem eu ando indisposto contra vós porque haveis de tentar contra nós. » O termo mal escripto xeabea, como se vê no texto copiado, é uma forma erronea de che mbeá e quer dizer: minha gente, meu povo, aquelles que me acompanham. O termo noxe, tambem mal copiado, é a expressão na che que se traduz, não eu, ou nem eu. Em Montoya se lê a phrase: che marani guiterobo traduzido por ando enfermiço, isto é, ando indisposto. (Vide Marãne no Diccionario da Lingua Guarani desse autor). O termo peême é o propome da segunda pessoa do plural peê com a preposição aliás posposição me, significando contra nós. E’ bem de notar que o missivista, ao passo que, no inicio da carta, emprega a segunda pessoa do singular no dativo, ndebe, dirigindo-se ao destinatario, aqui porem emprega a segunda pessoa do plural, porque é sua intenção referir-se não só ao destinatario com á gente que o acompanha.
A phrase final: « mae monhang-aquama recê? » se traduz, termo a termo: « porque fazer haveis de pelo? No portuguez seria phrase equivalente a esta: ….porque haveis de fazer por isso ou, melhor ainda: « porque querereis pelo?
A’ vista do exposto, a traducção livre deste periodo da carta é a seguinte: « Uma vex que nem eu nem minha gente é inimiga vossa, porque haveis de sel-o vós outros? »
^ (d) Mae peê ieminotar? Esta phrase tupi está escripta no texto copiado sem a necessaria pontuação nem accento. No dito texto. a mesma [ 300 ]phrase assim se apresenta: «... mae pere mimotara...» erroneamente escripta, devendo graphar-se como acima interpretamos. O autor da carta entra, de facto, n’uma serie de invectivas, estranhando a attitude dos seus parentes. Esta phrase é uma interrogativa de estranheza. O autor da carta apostropha: « Porque vós outros procedeis á falsa fé? » O verbo iemimotar ou nemimotar significa ao pé da lettra: desejar ás escondidas... » e tambem, por synonimia, proceder occultamente, ou a falsa fé. Na traducção hollandeza de J. Eduards esta phrase foi supprimida.
^ (e) Mae monhang-aguama recê? que, ao pé da lettra, se traduz : « Porque haveis de fazer pelo? » phrase que em melhor portuguez se dirá: « Porque haveis de ser assim? » ou, por outra, «Porque isto?» Na traducção hollandeza tambem não vem esta phrase.
^ (f) A phrase tupi não offerece aqui difficuldade no traduzir-se para o portuguez. Termo a termo, o trecho quer dizer: « Mandei estes meus soldados lá para comtigo, aos poucos haveis de vos governar, ide, observae dizendo eu. « Na traducção hollandeza se diz porem: « Mandei os meus soldados a um tal logar dizendo-lhes: Ide e vede se podeis trazer os nossos de lá. » Como se vê é traducção exprimindo pensamento bem diverso. A primeira parte da phrase tem, com pouca differença, traducção identica a que lhe demos; a segunda parte porem não condiz com a traducção litteral.
Na primeira parte, entretanto, o traductor hollandez tomou a expressão do texto copiado: « Ebapo nderapy pipe...» que, mais bem escripto. é o mesmo que «...ebapó nderupi pypé...» como significando « a um tal logar, quando, litteralmente fallando, quer dizer «...lá para comtigo...» isto é, «lá para os teus lados » ou « lá para tuas bandas ». Para isso confirmar, basta attender para o significado de cada termo: ebapó lá: ndèrupia ti, para ti: pypécom. A expressão « nderupi pypé » se traduz mui correctamente: «para comtigo».
A segunda parte do periodo criticado foi porem vertida com incorrecção, como já acima o dissemos. No texto copiado se lê o seguinte relativamente a essa parte «…pecemo rece pequay agua amocema repiaca guiy abo...» Mas, recompondo o texto como é mister temos o seguinte: «... pecêmo recè, pèquay-aguama, ocema, repiaca guiyabo...» cuja traducção, termo a termo, é : « poucos aos vos haveis de governar, ide, vède, dizendo eu...» phrase esta que, ao sabòr portuguez, quer dizer: « aos poucos haveis de perceber, ide, vede, dizendo eu », e ainda mais correctamente: « recommendando eu: procedei com cautela, ide e observae. »
Não ha como conciliar com o texto supra a traducção de Johannes Eduards.
^ (g) Este periodo traduzido termo a termo, ao caracter da lingua tupi, nos parece confuso, mas disposto ao sabor portuguez é o seguinte: « Mandei para ahi o Capitão Diogo da Costa pegar gente. algumas dez mulheres tapuyas para serem iustruidas e depois de lhes communicar esta nossa ida para vós as fizesse sahir. O sentido do periodo é per[ 301 ]feito e o pensamento aqui traduzido exprime bem um costume da epoca. Não havendo imprensa nesse tempo, nem meio de fazer espalhar rapidamente uma noticia qualquer, usava-se então pegar gente, principalmente mulheres escravas, tapuyas, a quem se communicava o que se queria propagar e depois de instruidas estas soltavam-nas para que levassem ao longe a nova desejada.
A traducção de J. Eduards differe bastante da nossa, pois é feita nestes termos: « Enviei tambem o Capitão Diogo da Costa a fim de pegar alguns homens ou mulheres e lhes falar sobre a nossa vinda, dizendo-lhes que nós iremos e que depois de os haver bem interrogado os mandasse embora. » O sentido do texto é bem diverso. O Capitão Diogo da Costa foi enviado á Parahyba e Rio Grande do Norte para o fim de fazer espalhar a noticia da proxima chegada do Camarão, isto é, do autor da missiva e, para esse fim, devia proceder como de costume na epocha, isto é, colhendo alguns individuos do paiz, homens ou mulheres, e soltando-os depois de lhes communicar o que queria. Era um plano de levante geral que assim se preparava, e que de facto se realisou.
O traductor hollandez parece que se confundio ao verter por « a vossa vinda » o termo tupi oroyust, aliás mal escripto, quando, na verdade, «oroyust» ou melhor «ore yur» significa «nossa vinda», isto é, a do missivista e não a do seu interlocutor.
Tambem não foi feliz na interpretação do texto mal escripto na parte em que se lê: « picig abamo cojpo Cunhā amo Tapeiymo geta pera... » talvez mesmo por causa do estropeamento das palavras, uma vez que não pequeno esforço requer o tentarem do restaural-o, como já acima o fizemos nos seguintes termos ; « pirig abá mocōi pó cunhā amó tapeiy mongetá-pirama... » e cuja traducção passamos a dar analysada. A expressão « picig abá », litteralmente fallando, se traduz pegar homem, mas o sentido do texto pede que se diga pegar gente, mais ao sabôr portuguez. A expressão seguinte mocōi pó quer dizer duas mãos, isto é, dez, pois que os indios contavam pelos dedos e, quando muito. numeravam até cinco, designando pelo nome pó, que quer dizer mão, o grupo das cinco unidades. e assim exprimiam pteu pó, mocōi pó, mboapi pó, yrundi pó... que se traduzem : uma mão, duas mãos, tres mãos, quatro mãos, equivalentes respectivamente a cinco, dex, quinze, vinte... As palavras cunhā amó tapeiy se traduzem, termo a termo, mulheres algumas tapuyas. O traductor hollandez, parece-me, que deu á palavra amō o significado de parente proximo que realmente tem quando substantivo, mas que aqui repugna ao sentido da phrase. A palavra amō é, porém, um adjectivo indefinido, que, no tupi, se pospõe quasi sempre ao substantivo ou pronome a que se refere. Os tupis diziam commummente : aba amō, algum homem, ou alguem ; mbae amō, alguma cousa ; y amō, alguma agua ; ore mocōi amō, um ou algum de nós dous. Portanto, a expressão cunhā amō tapeiy se traduz : ’'algumas mulheres tapuyas. A expressão mongetá-pirama é o verbo mongetá, falar, conversar, communicar, no participio do futuro na forma passiva, significando para serem faladas, para serem ouvidas ou instruidas.
Resulta da analyse feita que a phrase tupi: « picig abá mocōi pó [ 302 ]cunhā amō tapyeiy mongetá-pirama...» fica bem traduzida, como o fizemos pela fórma seguinte: «…pegar gente, algumas dex mulheres tapuyas para serem instruidas...»
O termo mal escripto no texto copiado, moremae deve ser morema aé, no gerundio, que litteralmente se traduz: fazendo sahir ellas ou melhor: fazendo-as sahir, despedindo-as. Morema é a forma causativa ou coercitiva do verbo acém, sahir, partir. e que com a simples prefixação da particula mo, passa a significar, fazer sahir, fazer que saia.
^ (h) Este periodo não offerece difficuldade na traducção, a qual, em bom portuguez, quer dizer: « Recommendando eu que finalmente lhe falasse de mandar as tapuyas ao Mongaguape. » Na traducção de Johannes Eduards essa parte da carta foi supprimida.
^ (i) A phrase tupi, traduzida como está, é perfeitamente clara, mas pode ser redigida em bom portuguez por outra forma: « Se te mandei procurar, Snr. Pedro Poty, é porque sou dos nossos parentes bons e verdadeiros. « Aqui a traducção hollandeza differe bastante, pois se fez nestes termos: «... oh Sr. Pedro Poty, porque sois um meu muito bom e proximo amigo. » [33]
^ (j) A coordenação das palavras no portuguez exige que se diga: « Vem, sahe da figura da terra do diabo « ou por outros termos: « Vem, sahe deste inferno. » Na verdade, a Parahyba e o Rio Grande do Norte infectados pelos bandos de tapuyas ferozes e pelos potyguaras, alliados dos Hollandezes, que assim procediam para opprimir e intimidar as populações de origem portugueza, eram um verdadeiro inferno. Lêam-se os chronistas do tempo.
A traducção hollandeza se fez nestes termos : « Vinde, pois, destes logares que são como o inferno. » E’ uma traducção livre.
^ (k) A melhor disposição das palavras exige que se diga: « Não sabes que és christão?
^ (l) A phrase tupi, traduzida ao pé da lettra, verbum ad verbum, e com a collocação que se deve dar ás palavras na lingua portugueza é: « Porque has de querer tanto te fazer perder, se tu és christão? » Ou, em outros termos: « Porque tanto fases por te perder se tu és christão? »
O traductor hollandez respeitou o pensamento do missivista, mas verteu por outro modo: « Porque quereis vos perder assim, quando sois um filho do nosso Deus? »
E’ como se vê, uma traducção livre, que melhor föra se dissesse: « Porque tanto has de fazer por te perder se és christão?
[ 303 ]^ (m) E’ repetição da phrase anterior: «Porque te has de querer perder se és filho de Deus? »
^ (n) Em outros termos: « Porque has de querer estar entre os impios? » A traducção hollandeza diz: « Porque quereis permanecer entre os impios.»?
^ (o) Por outras palavras: « Has de querer tanto perder-te a ti mesmo?» A traduçção hollandeza diz: « Quereis vos perder tambem? »
^ (p) Em melhores termos: « Quantos christãos vès que se perdem por este modo? » A traducção hollandeza diz: « Não vedes quantos christãos no entretanto se perdem? »
^ (q) Com melhor collocação dos termos, ao modo portuguez quer dizer: « Os brancos não se perdem no vicio, é porque, sendo christãos logo dahi fogem e Deus não faz que se percam. »
Por outros termos: « Não se perdem os brancos no vicio porque sendo christãos logo o evitam e Deus não os desampara. » Johannes Eduards traduzio: « Os Portuguezes não se perdem na guerra porque são christãos e o Senhor Deus não permitte que fujam ou se percam. »
A traducção do capellão hollandez não interpreta aqui o sentido verdadeiro da phrase tupi, e o pensamento que dominava o missivista ao escrever a seu parente desgarrado. Diogo Pinheiro Camarão concitava a seu parente Pedro Poty a que abandonasse aquella vida entre os impios ou hereges, que se lembrasse que era christão ou catholico, como os brancos, os portuguezes, e que sahisse daquelle inferno do qual tantos horrores se contava, e então, para corroborar o seu pensamento, accrescentava: « Os brancos não caem no vicio ou no peccado porque sendo christãos logo o evitam e Deus não os desampara. » A expressão maranāme que o hollandez traduzio: na guerra, não significa positivamente senão: na maldade, no percado, no vicio, isto é, o mesmo que márā, como se vê em Montoya, (Vocabulario e Tesoro de la Lengua Guarani) que significa: ruindade, delicto, falta, enfermidade, etc., podendo, entretanto, tambem exprimir guerra, mas já em sentido translato. No tupi a palavra guarini á que mais propriamente significa guerra, formando-se entretanto, com a palavra marā, o verbo marāmonhang que quer dizer guerrear, e marāmonhangaba que exprime : guerra, lucta, batalha. No caso presente, o sentido da carta, não permitte que se traduza como o fez o capellão hollandez.
^ (r) Em outros termos: « Queremos nós esta vossa sahida sob a palavra do Snr. Capitão-mór Antonio Felippe Camarão e sob a palavra de todos os capitaes brancos. » Ou, fazendo uma traducção livre: « Desejamos nós a vossa vinda sob a palavra do Snr. Capitão Mór Antonio Felippe Camarão e tambem sob a de todos os capitães portuguezes, » O traductor hollandez disse: «... por isso muito desejamos a vossa vinda, sob a benção do grande capitão Antonio Felippe Camarão e sob a palavra de todos os capitães brancos (portuguezes). »
[ 304 ]^ (s) Por outras palavras: « Por amor de vós ando muito sentido, vendo vós afastados de nós. » Johannes Eduards traduzio: « Estou muito triste por vossa causa, vendo vos apartar de nós. »
^ (t) Em outros termos: « Não sois vós, por ventura, verdadeiros parentes nossos ? »
O traductor hollandez disse: «... não sois o nosso mais proximo parente consanguineo? »
^ (u) Traduzindo mais livremente: « Não fazemos mal contra vós, assim tambem não deveis tentar nem fazer mal contra nós outros. » Johannes Eduards traduzio differentemente: « Porque ambos nós nos odiaes? Nós não vos faremos mal, tambem não nos façais mal. » A primeira phrase interrogativa não existe no texto copiado, salvo se ao copista passou ella despercebida, o que é bem possivel; sendo para notar que o ministro hollandez traduzio directamente do original, ao passo que nós o fazemos agora de uma copia de copia.
O missivista, como se sabe, dirige-se a Pedro Poty, chefe dos potyguaras dissidentes a que se ligára Antonio Paraupaba. E’ possivel que a phrase, omittida na copia, mas conservada na traducção hollandeza, se refira a ambos esses chefes: « Porque ambos vós nos odiaes ?»
^ (v) Dando outra disposição ás palavras: « Vae esta carta do Capitão-mór para ti e mais uma de outro capitão-mór para Antonio Paraupaba. » Por esta phrase se ve que alem da carta do missivista, que ora se traduz, outras duas seguiram pelo mesmo emissario, uma escripta pelo capitão-mor Antonio Pinheiro Camarão para Pedro Poty e uma segunda escripta por outro capitão-mór para Paraupaba.
A phrase tupi do texto copiado não offerece duvida a este respeito. Entretanto, a traducção hollandeza diz: « Esta carta vae para vós, o capitão-mór e uma outra segue para o outro capitão-mór Antonio Paraupaba. »
^ (x) A phrase tupi, se o texto copiado não está adulterado, significa o seguinte: « Permitta Deus e o faça em breve que nos tornemos a vos considerar christão outra vez. « A traducção hollandeza diz mais succintamente: « E que o Senhor permitta que de novo vos possamos chamar christãos,... »
^ (y) Em outros termos: « Quanto nos alegrariamos então! » O traductor hollandez diz: « ... quanto nos alegrariamos se assim fosse. »
^ (z) Traducção livre: « Estas duas mulheres que vereis, mandei-as levar a vós outros noticias e ellas que te contem onde eu estou. »
Aqui se entende bem, que os emissarios secretos, portadores das cartas, foram duas mulheres, as quaes, alem das noticias verbaes que deviam transmittir a todos, e por isso é que na missiva se emprega a expressão peème que quer dizer a vós outros, deviam decerto reservadamente, contar só ao destinatario (dahi o emprego da expressão ndebe a ti), o logar onde se achava o missivista. Quer isso dizer [ 305 ]que as emissarias não só levavam cartas, como foram instruidas para divulgarem certas noticias, e só reservadamente referirem a Pedro Poty o lugar onde se deveria achar o seu parente delle que lhe escrevia. Isso era do plano da guerra ou do levante que então se preparava.
O traductor hollandez divergio muito de nós neste ponto, dizendo: « Vède que vos envio duas mulheres para vos levarem noticias e vos darem as minhas cousas. »
A ultima parte do trecho traduzido «... vos darem as minhas cousas.» é a versão do tupi aé tomobeú quexereco endebe, mal escripto, na verdade, mas que se restaura sem difficuldade, pois é equivalente a: aé tomombeú ke che recò ndèbe. O engano do traductor hollandez procede de haver tomado o verbo tomombeú, isto é, o verbo mombeúdizer, publicar, contar, relatar, na sua forma permissiva, a qual, no tupi, se faz com a prefixação de uma das particulas ta, ti, ou t aos indices, pelo substantivo tembiú comida, ou comer, traduzindo livremente. A expressão tomombeú ou aé tomombeú quer dizer litteralmente: « que seja permittido a ellas contar » ou « que lhes seja permittido contar » ou ainda « ellas que contem ».
^ (w) Em melhor portuguez: « Vão estas nossas noticias na esperança de que estejas bom de saúde e que Deus esteja, na verdade, contigo e com os teus companheiros. »
^ (aa) Ainda aqui se confirma o que já na nota avançamos a respeito do segredo que as emissarias deviam guardar a respeito do logar one devia se achar o missivista. A carta. como aqui se vè, traz data, mas não o logar da procedencia. Bem se vè que a invasão de que se fizera cabeça D. Diogo Pinheiro Camarão se levava a effeito com a maxima cautela. As cartas enviadas podiam cahir em mão dos contrarios e, uma vez descoberto o lugar onde se achava o autor da carta, a operação se frustaria.
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- ↑ « Val. Luc.», p. 165
- ↑ «Rev. do Inst. Arch. e Geogr. Pern.», n. 30, pp. 1719.
- ↑ No texto tupi copiado não ha pontuação nem accentos. O sentido da phrase exige porem aqui um ponto final.
- ↑ No texto ha um ponto final que não se justifica, e a syllaba ap é um erro, reproduzindo a primeira syllaba do vocabulo seguinte.
- ↑ A palavra maraneyma está no texto copiado esphacelada. Uma parte se unio á palavra precedente e formou o termo pemara que não tem sentido, e a outra parte constituio um vocabulo novo que não tem razão de ser.
- ↑ Ainda aqui reclama o sentido um ponto final que no texto copiado não existe.
- ↑ A palavra tupi é aqui interrogativa: por isso, ainda que no texto copado não se encontre o signal, davemos aqui collocal-o.
- ↑ E’ outra phrase interrogativa que convem assignalar a despeito do texto.
- ↑ E’ outra phrase interrogativa.
- ↑ Aqui está um exemplo de como é confusa a graphia do texto copiado, esphacelando-se as palavras e ligando-se syllabas de vocabulos differentes para formarem palavras abstrusas.
- ↑ Não ha ponto no texto copiado, mas o sentido aqui o reclama.
- ↑ No texto copiado não ha tambem ponto final aqui. Mas o sentido o requer.
- ↑ Ainda aqui um ponto que não existe no texto copiado.
- ↑ O sentido da phrase aqui exige um ponto final que no texto copiado não existe.
- ↑ A phase é interrogativa ainda que o texto não o indique.
- ↑ E’ outro phrase interrogativa que o texto copiado não indica.
- ↑ Outra phrase interrogativa a despeito do texto.
- ↑ Phrase interrogativa que o texto não indica.
- ↑ Idem.
- ↑ Idem.
- ↑ Por causa do sentido deve haver aqui um ponto final que no texto não existe.
- ↑ Ainda aqui se fará ponto final, por força do sentido.
- ↑ Outro ponto final, pela mesma razão.
- ↑ A prase tupi é aqui interrogativa e por isso leva o signal que no texto não se vê.
- ↑ Não tem ponto final no texto, mas aqui o sentido o exige.
- ↑ Ainda outro ponto final por causa do sentido.
- ↑ O sentido da phrase aqui exige um ponto final.
- ↑ A phrase é aqui admirativa, ainda que o texto a não indique.
- ↑ Aqui o sentido pede ponto final.
- ↑ O original desta carta ainda é mais estropeado e viciado do que o da primeira. A restauração vae escripta por baixo de cada palavra do texto.
- ↑ Aqui o sentido exige um ponto final que no original não existe, como em outros logares que se seguem.
- ↑ Se em vez de co, houvesse cy, seria nossa mãe como traduzio J. Eduards, sendo co, porem, pode ser corruptella de coy que quer dizer arrimo, amparo, referindo-se provavelmente a algum dos progenitores.
- ↑ Nesta phrase o sentido expresso é exactamente o opposto do que o missivista quer dizer. Não é o interlocutor que é classificado entre os amigos muitos, é o proprio missivista quem se considera tal e basta attender para a phrase tupi «... maeramô che yandi anama reté catû. »